Quero falar sobre o Lélisgate, mas vou começar por outra perspectiva, explorando um pouco do que é a mídia. Para isso, vou comentar sobre o caso dos nadadores americanos que mentiram à Polícia do Rio de Janeiro.
Quando o caso deles veio à tona, a imprensa de todo o planeta repercutiu, num tom de “eu já sabia”, tratando o Brasil como um país onde tudo é feito de maneira desorganizada e irresponsável. Ok.
Brasileiros sérios estão cansados disso. Estão cansados desse estereótipo, de serem tratados como chacota, de ver a mídia internacional nos retratar com desdém e, em alguns casos, com preconceito.
Graças a Deus os brasileiros sérios que estão na Polícia Civil do Rio de Janeiro (nem todos que lá estão são sérios, sabemos) foram atrás dos fatos na investigação e descobriram que os nadadores que teriam sofrido com a violência urbana da Cidade Maravilhosa, na verdade, eram desordeiros, mentirosos e irresponsáveis.
Assisti à reportagem do Jornal Nacional sobre o caso, e o repórter Felipe Santana frisou que jornais norte-americanos respeitadíssimos noticiaram a primeira versão dos fatos em primeira página, falando sobre o suposto assalto em letras garrafais em suas manchetes.
Quando o caso foi esclarecido, e a mentira dos atletas olímpicos desnudada, Felipe Santana mostrou, com justa indignação, um comentário de um colunista do jornal USA Today, chamado Nancy Armour, que escreveu em seu espaço que era “irrelevante se a história [dos nadadores] era ou não mentira”, acrescentando que “o Rio é, sim, uma cidade violenta, e que a polícia deveria ter algo mais importante para se preocupar”, ao invés de desmentir seus irresponsáveis compatriotas.
Enquanto assistia à reportagem, não pude deixar de pensar sobre como é a mídia, e a imprensa nesse caso em particular. Estava ali, a quarta maior emissora de televisão do mundo, a maior do Brasil, no maior telejornal do país, vencedor de prêmios internacionais de jornalismo, reclamando do modo de ser… da imprensa! Estavam se queixando de algo, que salvo exceções, fazem o tempo todo. A única diferença era que se tratava dos estrangeiros falando contra os brasileiros.
“Lélisgate”
Fiz o comentário acima para ilustrar o que acontece no caso em que a estudante brasiliense acusa o pastor Marco Feliciano, deputado federal pelo PSC-SP, eleito com 396 mil votos, de agressão e estupro.
O Gospel+ jamais se vendeu a nenhum líder evangélico. Não troca favores. Não prioriza, não omite. E por isso, muitas vezes, foi prejudicado. De um certo ponto de vista filosófico, é um portal parcial, sim, pois se dedica a um público específico (cristãos) e fala sobre assuntos de interesse desse público. Mas a parcialidade do portal se encerra aí.
A ilustração acima tem serventia no que vem a seguir: a mídia brasileira é parcial e preconceituosa quando se trata de evangélicos. É fato. Fala de forma generalista, dá mais espaço às denúncias de escândalos do que às boas iniciativas (existem projetos sociais a rodo custeados pelas igrejas, mas quase nenhum recebe espaço), não se demora em usar adjetivos como “fundamentalistas” e “extremistas” para se referir aos evangélicos que têm opinião formada e contundente contra as convenções sociais – que mudam de tempos em tempos, ao contrário do que é a baliza de comportamento do cristão -, e quando um evangélico é inocentando de acusações, mal noticia.
Marco Feliciano nunca foi unanimidade como pastor. Não encontra apoio incondicional nem entre seus pares pentecostais. Mas isso não é atestado de nada. É apenas um fato, que não condena ninguém. Como político, já pagou altos preços perante à opinião pública por sua ingenuidade (como por exemplo, ter apoiado a candidatura de Dilma Rousseff em 2010). Amadureceu, escolheu melhor as palavras, admitiu erros, trocou de postura política no que se refere a quem apoiar. Enfim, ser humano como todos.
Em tempos de expressões intolerantes de movimentos como a militância LGBT e feministas, surge uma jovem estudante, bonita, engajada na defesa de conceitos caros aos evangélicos (como a luta contra o aborto, por exemplo), acusando um pastor que já havia sido tachado de homofóbico pela mídia de estupro. Não precisa ter as habilidades de Sherlock Holmes para deduzir que o assunto seria divulgado pela mídia a partir do que a moça dissesse.
Como disse acima: o Gospel+ não faz favores a ninguém. Muito menos a alguém que tem um mandato eletivo. Não é nada pessoal contra o Feliciano. Nem contra qualquer um dos demais parlamentares da “bancada” evangélica. É uma postura de independência. Ventos vêm e vão. E quem se aventura na política precisa saber que sempre será vigiado e cobrado. Esse portal é feito por cidadãos, que elegem políticos, cada um com sua consciência política individual.
Aqui vai um relato pessoal: quando soube das acusações a Feliciano, custei a acreditar. E digo porquê: embora eu ainda não seja pai, sou abençoado por ter duas sobrinhas, e mal consigo expressar o amor que tenho por elas. Feliciano é pai, de três meninas. Esse ponto me causou incômodo. Ele estupraria uma mulher? Duvidei.
Parti para a investigação de detalhes da acusação. Vasculhei tudo. Desde o perfil ideológico do jornalista que primeiro noticiou o escândalo, até a origem de Patrícia Lélis. Contei com apoio e incentivo da direção do portal, além da ajuda imprescindível do meu editor, Renato Cavallera. Me chamou a atenção o fato de que uma jovem vítima de estupro tinha procurado primeiro o partido, depois a imprensa. Até essa altura, não havia polícia na história.
A dúvida que existia sobre a capacidade de Feliciano estuprar uma mulher não nos cegou, mas, para ser mais um na multidão, repetindo o que a mídia “secular” publicava sobre o caso, não faríamos o que nos propomos a fazer: diferença, com independência.
Descobrimos relatos sobre o passado de Patrícia Lélis, mas nem tudo que achamos foi publicado. Os prints que muita gente acusa serem falsos foram mostrados aos leitores com exclusividade por um único motivo: coincidia com uma gafe cometida pelo próprio Feliciano, que no dia 28 de junho anexou um dos prints em uma publicação em seu Twitter. Esses prints não chegaram a nós através do Feliciano. Aliás, o pastor nunca respondeu nossos contatos por e-mail ou através de interlocutores.
Mas, nem as evidências de que o material era verdadeiro acalmaram nossos críticos. Acusações, ofensas, xingamentos, ameaças de processo, entre outras coisas, foram nosso cotidiano nos dias seguintes ao dia 06 de agosto, que foi quando colocamos no ar as informações que mudaram a forma da opinião pública de olhar para o caso.
Dias depois, com as controvérsias se acumulando, a mídia “secular” passou a abordar o caso de forma diferente, abrindo espaço para as dúvidas. A investigação feita pela Polícia Civil de São Paulo sobre as acusações da estudante contra o então chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, trouxeram novas evidências de que as acusações eram duvidosas.
Relatos de gente do passado de Patrícia Lélis se enfileiravam, com histórias por ela contadas e não comprovadas. O portal brasiliense Metrópoles revelou que já havia entrevistado a estudante, mas por considerar que suas declarações sobre o suposto estupro sofrido quando era uma criança, aos 15 anos, eram inconsistentes, desistiu de levar ao ar a matéria.
Patrícia Lélis é persistente, admito. Ao mesmo portal, em outra ocasião, disse ter noivado na Disney e que tinha tudo acertado para trocar alianças no castelo da Cinderela. Pior: a notícia foi ao ar, e depois que as acusações de estupro e agressão contra Feliciano foram levadas à imprensa, o portal – que tem um trabalho robusto e profissional – foi averiguar e descobriu que a Disney não permite cerimônias de casamento em seus parques.
Hoje, sexta-feira, 19 de agosto, após apurar mais alguns detalhes com as fontes que estão próximas ao caso, publicamos a informação de que o delegado que indiciou Patrícia Lélis por extorsão e denunciação caluniosa (que é levemente diferente de falsa comunicação de crime) iria pedir a prisão preventiva da estudante porque ela – entre outros motivos -, em 2015 foi diagnosticada com mitomania, um desvio que leva à mentira de forma compulsiva.
Esse diagnóstico, segundo o delegado Luiz Roberto Hellmeister, foi feito após o Boletim de Ocorrência que Patrícia registrou em Brasília, alegando ter sido estuprada aos 15 anos. O SBT Brasil foi um dos que repercutiram essa informação (talvez movidos, além do compromisso jornalístico, pelo fato de que Patrícia tentou vender a história à sucursal da emissora no DF antes de o caso explodir).
Minha dúvida sobre a culpa de Feliciano nas acusações de estupro não me faz convicto de sua inocência. Acredito que o pastor ainda tem perguntas a responder. E deve respondê-las, como homem público que é, no exercício de um mandato eletivo. No entanto, tudo aponta para a compreensão de que o sexo não consensual não houve. A própria Patrícia disse isso com todas as letras em mais de uma ocasião. A mais recente, na entrevista ao Superpop, da RedeTV!
Mesmo assim, com tudo isso posto acima, hoje fomos, novamente, acusados de atuar como assessoria de imprensa de Feliciano. Gente que já caminhou as mesmas trilhas íngremes, de ombros alinhados, dizendo que “o tempo cobrará” do portal a postura que adotamos no caso.
O tempo nos cobrará pela isenção? O tempo nos cobrará por não seguir a cartilha da grande imprensa? O tempo nos cobrará por mostrar um conteúdo abordado por um viés ignorado por quem não tem compromisso com a exposição de pontos de vista que são caros aos evangélicos? O tempo nos cobrará o que, exatamente, caros acusadores?
Em tempos idos, noticiamos à exaustão as acusações feitas a Feliciano em diversos momentos, e igualmente repercutimos os desdobramentos, como quando o Supremo o inocentou das acusações de estelionato, por exemplo, ou quando a Procuradoria Geral da República recusou a abertura de processo contra o deputado por um suposto crime de homofobia, quando opinou sobre a homossexualidade no Twitter.
Tanto é assim que no atual episódio, noticiamos as duas denúncias feitas por parlamentares contra ele. Deputadas e uma senadora, em diferentes esferas. Publicamos uma lista de perguntas sem respostas que ele deve responder. E por isso, no Facebook, houve leitor que dissesse que somos “apelativos” porque, do jeito que noticiamos, “expomos demais o pastor”.
Aqui é assim: sim, sim; não, não. Jesus ensinou isso, e frisou: “o que passa disto é de procedência maligna” (Mateus 5:37). Servir ao Pai através de um serviço a seus filhos, como prega o slogan desse portal, não é fácil, cobra independência e gera inimizades com aqueles que, cegos pelo ódio que nutrem contra Feliciano, abrem mão da isenção e ética. Pena é que são os mesmos que cobram ética da igreja evangélica, que pregam uma nova reforma protestante, que se dizem seguidores de Jesus, entre outros rótulos que gostam de lustrar.
Resumindo: criamos inimizades por não sermos a mídia que engana, escraviza e manipula mentes, ou por não aceitar odiar um homem que, até que se prove o contrário, é inocente. Que Deus nos sustente em Sua graça.