Nesta última segunda-feira (13), um juiz do Catar condenou a jovem holandesa Laura a um ano de detenção pelo crime de “adultério”, mas acabou por suspender a pena com a condição de que Laura não pratique outro delito pelos próximos três anos. Motivo da condenação: a jovem holandesa praticou relação sexual com um muçulmano. “Relação sexual” é o ponto de vista do juiz, com base em uma lei islâmica da Sharia. Por outro, o que de fato aconteceu foi um estupro. Sim, Laura foi vítima de um estupro. Não estamos diante de um caso isolado, mas diante de uma ocorrência corriqueira em que mulheres são tratadas como inferiores, previamente culpadas por sua beleza. Laura é mais uma vítima do patriarcalismo e do fanatismo religioso que corroe a sociedade.
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Parece que o Catar somente evoluiu em arquitetura e urbanismo, porque em direitos humanos está em pé de igualdade com outros países islâmicos que condenam mulheres por adultério, mesmo em caso de estupro, como a exemplo do que acontece em países como Afeganistão e Paquistão. O fundamento deste e de outros casos é a lei islâmica da zina, que na prática tem o mesmo sentido de adultério e relações pré-matrimoniais – o que inclui o homossexualismo. Ann Jones, em seu clássico Cabul no Inverno, vida sem paz no Afeganistão (2011), retrata de forma dramática a realidade das mulheres afegãs. Em uma visita a um presídio de Cabul (vide parte II), Ann se depara com o sofrimento de mulheres que foram encarceradas e abandonadas por suas famílias e comunidade.
Segundo Ann, “as mulheres no presídio feminino não eram assassinas. Pelo menos, não muitas. A maioria delas nem havia cometido crime, não segundo qualquer dos padrões reconhecidos pelo Ocidente. A maioria delas eram meninas e mulheres acusadas de terem cometido ofensas contra a moralidade pública […] Algumas eram acusadas de terem contraído matrimônio ‘ilegal’. Algumas eram acusadas de terem fugido com um homem ou de fugir de casa. Uma fora detida pela polícia e trazida à prisão porque estava perdida” (2011: 140). Fora os casos de prisão por zina, às mulheres afegãs também são vítimas de agressões, e algumas queimadas vivas por seus próprios pais.
Há movimentos progressistas dentro do universo islâmico, como a exemplo da Associação das Mulheres do Afeganistão (RAWA), fundada em 1977 por Malalai, 22 anos. Formada em História e Literatura pela Universidade de Cabul, Malalai começou um pequeno grupo de mulheres que trocavam ideias sobre direitos da mulher e igualdade; depois passou a espalhar tais ideias por meio de cursos de alfabetização para mulheres pobres. Diferente de outras correntes políticas da época, a RAWA era favorável à separação da mesquita do Estado em uma república secular. Perseguido, e no auge de uma sangrenta guerra, em 1980 a RAWA foi transferida para a cidade de Quetta, no Paquistão, onde deu assistência a refugiados. É um avanço em meio ao caos e o caso de Laura, no Catar, deve dar impulso a uma nova onda progressista e de solidariedade por todo o Oriente.
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Nota de repúdio
É simplesmente deplorável e repugnante a postura da Igreja Batista de Westeboro com relação ao assassinato de 49 homossexuais de Orlando. Segundo o site Inquisitr, a referida igreja “comemorou” o atentado promovido por um descendente de afegãos e simpático do Estado Islâmico. A postura da Igreja Batista é mais um exemplo de um movimento extremista que vem crescendo nos EUA e Brasil.