Para uma religião que até pelo menos o ano de 1891 – ano da promulgação da primeira constituição republicana – gozava de plena liberdade de atuação e apoio governamental, atualmente o Catolicismo Romano vive um momento de profundas reflexões sobre a sua atual conjuntura e os desafios da diversidade religiosa brasileira. De fato o Catolicismo não possui mais o mesmo poder de atração – compulsória ou não – de fieis como possuia nos primeiros 390 anos da história do Brasil, e há motivos para se preocupar: dos mais de 123 milhões de pessoas que se declaram católicas, apenas sete milhões frequentam regularmente as missas, o que representa meros 5% do total de católicos brasileiros. Na verdade, nunca houve um real envolvimento dos fieis com a religião trazida pelos portugueses, e a situação tende a piorar nas próximas décadas, como a própria liderança católica tem constatado.
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De fato o Catolicismo Romano estabeleceu suas bases sem um fundamento sólido, razão pela a qual – principalmente em Estados do Norte e Nordeste do Brasil – fieis católicos participam de outros cultos religiosos ao mesmo tempo em que participam da eucaristia. Não é uma novidade para ninguém, e principalmente para quem acompanha a fenomenologia religiosa brasileira. Some a esta particularidade católica a uma série de outras dificuldades enfrentadas no pós-1891 e chegaremos a uma religião que se vê diante de um dilema: manter seus traços históricos, sua liturgia tradicional, ou aderir a um formato mais leve, participativo, com enfoque na formação religiosa de seus fieis? São diversas as opções em discussão, e o Movimento Carismático é um dos resultados conhecidos da movimentação de parte do catolicismo para impedir a debandada de fieis para outras religiões.
Além de disputar espaço com as igrejas evangélicas, a Igreja Católica se vê diante de uma sociedade pluralista, que passa pela aceitação do homossexualismo e o ateísmo que tem tido um considerável crescimento nos últimos anos. Sobre o ateísmo, dados coletados pela Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), e que estão em discussão na 54ª Conferência Geral da CNBB (esta com realização entre os dias 6 e 15 de abril), demonstram que o segmento teve um crescimento de 1% entre 2010 e 2014. Se em 2010 o número de ateus estava na casa dos 7,9%, em 2014 o número chegou aos 8,9%. O aumento do segmento foi recebido com preocupação pela Igreja, mas com um reconhecimento de que “durante 400 anos, todo mundo no Brasil era obrigado a ser católico […] Hoje vivemos um regime democrático também na religião e é natural que, com mais opções, haja uma distribuição”, reconheceu o bispo da cidade de Santo André, d. Pedro Cipollini
A declaração do d. Pedro Cipollini pode ser destacada como inédita, pelo o fato de que nenhum outro líder católico veio a publico reconhecer que “durante 400 anos todo mundo no Brasil era obrigado a ser católico”. O reconhecimento foi feito em entrevista ao jornalista José Maria Tomazela, do Estadão, e consta da reportagem “Aumento de número de ateus no País já preocupa Igreja Católica” (09 de abril de 2016). Antes tarde do que nunca, obviamente. Estava na hora de uma liderança da CNBB reconhecer que o estabelecimento do Catolicismo no Brasil se deu pela via do autoritarismo e centralismo. A realidade é outra desde a promulgação da Constituição de 1891, que desde então a pluralidade de confissão religiosa e filosófica passou a ser uma realidade no Brasil. Hoje não faz mais sentido dizer que alguém “nasceu católico” porque a conversão não é mais hereditária, mas sim opcional e ao longo dos anos da juventude e início da fase adulta. É uma lição que deve ser seguida também pela liderança evangélica nacional, principalmente pensando que a Igreja evangélica assumirá a dianteira em alguns anos. É preciso respeito à diversidade religiosa.