“Constituíram reis sem minha aprovação, e chefes sem meu conhecimento. Fizeram para si ídolos de sua prata e de seu ouro, para a sua própria perdição”. Oséias 8:4
O capítulo 8 do livro de Oseias traz uma frase conhecidíssima por qualquer pessoa, mundo afora: “semearam ventos, colherão tempestade” (Oséias 8:7).
Esse era o quadro do Israel naquele momento! Um povo que se prostituiu, abandonou seu Deus, desviando-se de seu chamado e propósito de vida e que agora estava prestes a colher os frutos amargos de sua apostasia.
Na igreja, “a assembléia dos primogênitos” (Hebreus 12:23), a situação parece não ser diferente.
Se no passado do povo hebreu, muitas decisões eram tomadas a partir da prática de “lançar sortes”, com o Urin e Tumin, na Igreja Primitiva, com a descida do Espírito Santo sobre os chamados, as decisões passaram a ser tomadas pelo conselho dos ministros.
Alguns exemplos disso são o Concílio de Jerusalém (Atos 15), em que definiram sobre temas importantes como a circuncisão de gentios, comer ou não alimentos consagrados aos ídolos e, também, a separação e o envio de missionários, conforme Atos 13, onde Saulo e Barnabé são consagrados ao seu apostolado pelo Espírito, através de profetas e mestres ungidos.
De fato a liderança do Espírito Santo sobre o povo de Deus é a única garantia de uma jornada firme nos trilhos estabelecidos pelo Senhor para nós e, biblicamente, essa liderança se dá através dos ministérios que atuam debaixo da unção e inspiração desse mesmo Espírito.
O fato que lança dúvida sobre essa situação é a presença indispensável de pessoas comuns agindo e servindo como interlocutores de Deus, pelo Espírito. Ora, pessoas são naturalmente indignas de uma cega confiança, pois a própria Bíblia nos adverte que o “coração dos homens é enganoso e desesperadamente corrupto” (Jeremias 17:9), no entanto, nosso maior desafio em dias de irremediável corrupção das instituições humanas é fazer uso pragmático da prática bíblica de “julgar as profecias”.
Paulo exortou a igreja a “Não desprezar as profecias, mas examinar tudo, abraçando o que é bom”. (I Tes. 5:20-21) e ainda, “quanto aos profetas, falem dois ou três, e os outros julguem”, I Cor. 14:29.
O problema é que, obedecendo a algum tipo de ordem que não vem da Bíblia, os evangélicos de hoje aprenderam que não devem julgar nada, nem ninguém, sob risco de ser condenados por alguma maldição.
Talvez estejam baseados, mesmo que equivocadamente, nas palavras do próprio Senhor, que diz: “Não julgueis, e não sereis julgados”, de Mateus 7:1. Contudo, é necessário compreender que o texto fala claramente de hipocrisia religiosa e não de buscar entendimento espiritual, o que só pode ser alcançado com estudo disciplinado e debate, ou seja, julgando, questionando, inquirindo.
Certamente, foi por essa razão que Jesus nos advertiu, dizendo “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” – João 7:24.
Ou seja, devemos ‘sim’ julgar, contudo de forma reta, justa, inspirada e não de acordo com preconceitos solidificados em anos e anos de tradições incongruentes.
Vivendo alheios a esta revelação, que visa a busca pela justiça e pelo estabelecimento pleno da vontade de Deus sobre a Igreja, levantamos líderes e governantes que não foram aprovados por Deus; e levantamos bispos, apóstolos e pastores sem o seu conhecimento. A história fica ainda pior quando começamos a utilizar o ouro e a prata adquiridos em nossa prosperidade para fabricar ídolos que serão a nossa perdição.
É disso que Oseias 8:4 está falando! De nossa independência de Deus, de nossas atitudes loucas, baseadas em conceitos autoritários, como se não tivéssemos que prestar contas a ninguém. Administrando a igreja ao nosso modo, realizando nossas convenções hipócritas, apertando as mãos e dando tapinhas nas costas uns dos outros em negociatas e alianças políticas, nos prostrando diante dos ídolos da música que nós mesmos criamos e dos profetas que não falam da parte de Deus.
Enfim, estamos plantando vento e colheremos uma tormenta e tormentos.