Escrevo este artigo motivado pelas repercussões amplamente negativas nos comentários dos leitores do site G1 sobre o caso. Quem não está por dentro pode conferir em G1.com.
Não vou entrar no mérito de um condenado a 200 anos de prisão poder ou não estudar, seja teologia ou qualquer outro curso pois a legislação brasileira garante esta possibilidade. O detento pode trabalhar ou estudar para ter diminuição de pena, no caso de Beira-Mar a primeira opção não é possível em Catanduvas.
A Faculdade Teológica Batista do Paraná, por ser uma instituição de ensino filiada ao MEC, está sujeita as implicações do código-civil brasileiro e não pode negar o estudo a ninguém, independentemente do seu credo. Uma vez que o candidato tenha prestado vestibular e tenha sido aprovado, está apto para fazer o curso.
Já esperava que a Igreja Batista do Bacacheri, igreja responsável por manter o capelão em 19 penitenciárias no Paraná e Santa Catarina e subsidiar o estudo de Beira-Mar, fosse comparada a tantas igreja que precisam de marketing e conchavos para subsistirem. Contudo, tais críticos, que tomam a parte pelo todo, pouco ou nada conhecem desta igreja. Alguns comentários atacam a igreja por não ajudar pessoas carentes com a quantia investida no detento. Não sabem estes que a igreja, além de participar de um sistema de cooperação entre igrejas chamado Convenção Batista Brasileira que tem inúmeros trabalhos sociais, tem em sua estrutura e terreno funcionando uma Associação de cunho beneficente que já testemunhou de centenas de vidas resgatadas das drogas, delinquência e auxiliadas no processo de re-integração na sociedade e no mercado de trabalho.
Tal igreja nunca precisou de marketing em mídias de massa para se sustentar, ser relevante e expandir suas ações sociais e espirituais. É bom esclarecer que a exposição na grande mídia ocorreu após o depoimento do próprio Fernandinho Beira-Mar que contou sobre sua nova atividade acadêmica em depoimento à justiça. Apesar da denominação Batista apoiar a atitude da igreja, foi decidido manter sigilo pela natureza do aluno e por ser praxe apoiar novos estudantes de teologia sem fazer propaganda do fato.
Quanto aos comentários do tipo “será que ele se converteu mesmo?” digo que isto nunca poderá ser provado. É uma decisão íntima, pessoal e intransferível. O capelão responsável deixou claro que não ouviu Beira-Mar confessar a Cristo como Salvador e Senhor de sua vida. Contudo tem demostrado muito interesse nas visitas espirituais e sinceridade nos depoimentos dados a polícia, atitude bastante diferente das últimas audiências com o juiz. Se não cremos que um Fernandinho Beira-Mar pode experimentar uma transformação, então não podemos acreditar em mais nada. Ou a graça serve para todos, ou não serve para ninguém. Não importa a quantidade de pecados no currículo. (ou você se esqueceu de Davi, o assassino, Abraão, o mentiroso, Samuel, o pai relapso e Raabe a prostituta na genealogia de Cristo, ou Zaqueu, o ladrão publicano, a lista vai até o Osmar, o pecador!)
Mas o que mais me doeu foi ver a grande maioria dos comentaristas desejando que Fernandinho Beira-Mar não tivesse oportunidade de estudar, ou mesmo de mudar de vida. Quando alguém nos faz um grande mal, ainda assim podemos passar pela situação sem deixar que o mal nos domine ou nos contamine (Salmo 121). O que mais me entristeceu foi ver que o mal que este moço fez inegavelmente a tantas pessoas e famílias alcançou o coração de tantos críticos, que contaminados pelo ódio e pela vingança, esperam que o sofrimento de uma pessoa possa ser capaz de aliviar o sofrimento dos outros. Jesus já nos havia alertado que a lógica do olho por olho e dente por dente resultaria num mundo “cego e banguela”. Mas o ser humano prefere ouvir suas entranhas que pedem sangue. Vingança travestida de piedade.
Quanto as leis humanas, a justiça deve ser feita e o pagamento à sociedade deve correr seu curso natural, mas lembremos que nosso negócio não é justiça e sim graça (que é diferente de tolerância). Você honestamente gostaria que Deus agisse com justiça conosco? Graça cheira injustiça, certamente, por isso o evangelho é tão subversivo. O evangelho não articula as palavras mérito e justiça e sim amor e graça. Quanto maior a lista de pecados, maior a graça, nas palavras de Paulo, onde abundou o pecado, superabundou a graça! Romanos 5.21
Imagine-se na areia da praia, diante das ondas do mar, olhe para o seu lado e veja o Fernandinho Beira-Mar, imagine as ondas da graça de Deus aos poucos alcançando você e ele também. Então comece a agradecer a Deus por tamanha graça e amor.
pr Osmar.
(membro da diretoria da Convenção Batista Paranaense)