O Brasil não é mais o maior país católico do mundo, pelo menos não em número de praticantes. A declaração do cardeal Dom Geraldo Majella, ao G1, de que “aqueles que aparentemente mudaram, nunca pertenceram (à Igreja Católica)” e que “não se perde o que não tem”, reflete uma realidade cada vez mais perceptível dentro e fora da Igreja. O Censo 2010 do IBGE apontou uma média de 123,3 milhões de pessoas que se declaram “católicas”, mas sem levar em conta a frequência destas em comunidades.
Católicos nominais
Por ocasião do 50º Assembleia Geral da Conferência Nacional de Bispos do Brasil, realizada entre os dias 18 a 26 de abril de 2012, o padre jesuíta Thierry Lierry de Guertechin, apresentou, com base em dados coletados pela Fundação Getúlio Vargas e das Pesquisas de Orçamentos Familiares do IBGE, um quadro preocupante. Segundo o padre jesuíta, apenas 5%, ou cerca de 7 milhões de brasileiros vão à missa e recebem os sacramentos, de um universo de 123,3 milhões que se declaram “católicos”.
Sincretismo religioso
Outro problema identificado é o sincretismo religioso. Diferente de igrejas evangélicas – cujos membros possuem uma vivência denominacional –, no Catolicismo Romano o sincretismo de crenças e práticas cria um transito religioso que torna difícil uma classificação precisa. Por exemplo, em estados do nordeste é comum um fiel católico orbitar em torno de templos católicos e terreiros de umbanda, candomblé e xambá.
Herança religiosa
Os novos brasileiros veem ao mundo em um período em que a diversidade religiosa, cultural e social oferece multiplicas opções de escolha. A herança católica, comum até pelo menos a metade do século XX, é outra realidade que começa a perder sentido no Brasil. Apenas em áreas rurais do nordeste, norte e sul a herança religiosa continua sendo observada por tradicionalistas, muitos dos quais de origem espanhola, portuguesa e italiana, por exemplo. No entanto, nas grandes cidades há uma liberdade cada vez maior com relação à escolha de uma confissão religiosa e que começa já na juventude.
Estratégias de retomada
A chegada da Renovação Católica Carismática (RCC) ao Brasil, no começo da década de 70, o investimento em padres jovens e midiáticos, e a realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio, representam parte do esforço da Igreja no sentido de retomada da dianteira. Foi com a Constituição de 1891 que a Igreja começou a perder parte de sua hegemonia, sendo finalmente ameaçada com o crescimento pentecostal e neopentecostal, a partir da década de 50. Atualmente, os esforços pela manutenção de uma confissão religiosa contextualizada parecem começar a surtir efeito, principalmente em um momento em que o protestantismo demonstra dar sinais de enfraquecimento, com evasão de crentes e um crescente liberalismo teológico.
JMJ na Polônia
A movimentação católica visa fortalecer suas áreas de influência, como o Brasil, na América do Sul, México, na América Central, Filipinas, na Ásia, Itália, no Mediterrâneo e a Polônia, no leste europeu. A escolha de Cracóvia, na Polônia, como a próxima cidade-sede da JMJ segue uma agenda de fortalecimento regional. Com uma população de 38,53 milhões, a Polônia é de especial interesse para o Vaticano pelo o fato de que possui o maior número de católicos por habitantes da região, com algo em torno de 86,7% de fieis. Situação diferente ocorre na Ucrânia, onde há apenas 11,1% de católicos, contra os 54,3% de ortodoxos, e na Romênia, onde o número de católicos não passa de 4,7%, contra os 86,7% de ortodoxos. Há outros desafios, como a predominância protestante na Letônia (a Igreja Luterana possui 30 mil fieis a mais que a Igreja Católica), o secularismo da Estônia (dos países europeus é o menos religioso), a influência da Igreja Ortodoxa Russa (IOR), além de politicas liberais e o narcotráfico.