Primeiro Papa latino-americano, o jesuíta Jorge Mario Bergoglio (Papa Francisco) até o momento tem dado sinais de que será também o mais importante líder católico da História. João Paulo II e João XXIII tiveram um papel central no processo de abertura da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), mas nenhum conseguiu atingir as diversas camadas da sociedade como o Papa Francisco. Com pouco mais de dois anos à frente da ICAR, Francisco tem empreendido uma série de mudanças no núcleo da Igreja, com a abertura de processos e punições contra padres acusados de pedofilia, reestruturação nos quadros diretivos da ICAR e de organismos a ela associados, como o Banco do Vaticano e o mais importante: tem conduzido a ICAR a uma nova compreensão dos desafios da pós-modernidade, da crise ambiental e econômica mundial.
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Acima de tudo, o Papa Francisco retomou o discurso social da Igreja, de aproximação com os pobres e oprimidos pelo sistema capitalista. Comparado a Bento XVI, o discurso de Francisco tem maior penetração entre os pobres pelo o fato de que ele fala diretamente a eles, não recorre a protocolos outrora observados por seus antecessores, trata as problemáticas sociais como elementos a serem combatidos pela Igreja. Ao mesmo tempo, conclama os líderes mundiais a terem um novo posicionamento com relação à desigualdade social, à fome e o sofrimento de centenas de seres humanos que vivem à beira da sociedade do século XXI. Com esse discurso Francisco conseguiu romper barreiras internacionais, como a reaproximação dos Estados Unidos com Cuba.
Francisco não passara à História como um santo milagreiro, mas como uma das personalidades que mais influência exerceu sobre políticos, intelectuais e, principalmente, sobre os pobres e excluídos do Norte e Sul do hemisfério. Sua compreensão dos desafios da pós-modernidade não se restringe apenas a um entendimento das dimensões da pobreza, como também a uma compreensão da debilidade ambiental. O papado de Francisco será futuramente lembrado como o período em que a Igreja conclamou o mundo a proteger sua casa, o planeta Terra. Publicado no dia 18 de junho de 2015, o Laudato Si é a primeira enciclíca a demonstrar preocupação com a preservação da casa comum de católicos, evangélicos, muçulmanos, ateus e diversas outras confissões e etnias.
Em mais uma recente demonstração de liderança, o Papa Francisco surpreendeu ao exortar os católicos a ajudarem famílias de imigrantes que estão desembarcando na Europa. Vítimas do terrorismo estatal de Bashar al-Assad e das atrocidades praticadas por milícias como o Estado Islâmico, centenas de sírios, iraquianos e africanos estão se lançando ao mar na esperança de encontrar na Europa um lar. Mais de 2.000 pessoas já morreram este ano tentando atravessar o Mediterrâneo, dentre os quais o pequeno Aylan Kurdi. Impactado pela morte desta criança de apenas três anos de idade, o Papa Francisco foi à janela da Basílica de São Pedro para pedir que toda paróquia e comunidade religiosa da Europa receba pelo menos uma família imigrante em suas dependências. Um gesto de amor e uma resposta às inúmeras críticas e protestos xenófobos.
Esta e outras atitudes do Papa Francisco devem ser tomadas como um modelo pelos pastores que têm como responsabilidade conduzir a Igreja evangélica brasileira. Assim como Francisco, os líderes evangélicos devem demonstrar despreendimento com relação às benesses associadas hoje ao exercício pastoral, a focarem seus ministérios em servir ao próximo, em dar-lhes não apenas uma oportunidade de salvação, mas também um abraço, um aperto de mão, uma saída para seu sofrimento e exclusão social. Ao mesmo tempo, Francisco deve ser tomado como exemplo e modelo de compromisso com a preservação do meio ambiente, da casa comum dos mais de sete bilhões de habitantes da Terra. É a hora de a Igreja evangélica romper os limites denominacionais, as barreiras naturais que a separa da sociedade para ser um exemplo de organização comprometida não apenas com o Evangelho, mas também com os pobres e oprimidos pelo sistema capitalista.