Nesta semana, tive o conhecimento de uma entrevista feita com o bisneto de Charles Darwin, Sr. Matthew Chapman, publicada no site UOL e noticiada pelo Gospel+. Trata-se de um cineasta neo-ateu norte-americano, que dirigiu um filme chamado “A Tentação”, o qual estreou no Brasil recentemente. Veja aqui!
Confesso que tenho o hábito de acompanhar debates interessantes entre apologistas cristãos e ateus, muitos deles com um bom nível de respeito e honestidade com as questões abordadas. Porém, fiquei surpreso com a desonestidade intelectual apresentada nesta entrevista por este secularista pós-moderno norte-americano. Com alto teor de covardia e afirmações falaciosas, Chapman parece não ter “evoluído” segundo seu bisavô famoso. Afinal, Charles Darwin não era necessariamente ateu, mas sim agnóstico, bem mais coerente nos questionamentos sobre a existência de Deus do que seu bisneto. Além disso, existem indícios de que no final de sua vida Darwin tenha-se reconciliado com o cristianismo.[1]
Na entrevista, o Sr. Chapman afirma: “Eu achei que estava na hora de fazer um thriller sobre os dois lados opostos da fé americana. Um que é secular, sofisticado e educado e outro que é bíblico, homofóbico, subjuga as mulheres e acredita que o universo só tem 10 mil anos de idade. E tem muita gente que acredita nisso nos EUA.”
Com este argumento desonesto e depreciativo ao cristianismo, o Sr. Chapman em uma atitude dualisticamente maniqueísta, coloca os ateus como sofisticados e educados, contrapondo os cristãos como mal-educados, homofóbicos e subjugantes de mulheres. Ele erra ao utilizar este argumento inconsistente, pois ignora a realidade dos fatos para expressar seu pensamento tendencioso. É óbvio que existem alguns mal-educados no meio cristão, como também existe no meio secular e inclusive entre os ateus. Prova disso é a própria atitude do Sr. Chapman, na qual mostra exatamente o oposto do que ele afirma ser. Ora, suas afirmações não procedem! Os ensinamentos do cristianismo são totalmente opostos aos que ele acusa.
Como cristãos, reprovamos qualquer atitude de violência. O fato de não concordar com o comportamento homossexual em razão da fé cristã e de questões naturais, não significa que somos “doentes”. Ora, a palavra homofobia é uma patologia pscicológica direcionada àqueles que possuem medo irracional ou aversão excessiva pelos homossexuais. Esta palavra é utilizada desonestamente por militantes gays para nomear aqueles que manifestam “opiniões” contrárias às práticas homossexuais. Uma incoerência absurda que infelizmente virou moda no Brasil!
Outra afirmação falsa é que o cristianismo subjuga mulheres. Quem ler a Bíblia respeitando o contexto completo saberá que nenhuma outra religião do mundo concede às mulheres uma posição tão privilegiada e honrosa como o cristianismo. No Antigo Testamento, por conta da dureza do coração da humanidade e segundo o contexto cultural e histórico da época, existia uma punição rigorosa, tanto para mulheres adúlteras, quanto para homens adúlteros, ladrões, assassinos, estupradores etc. (Lv 20:10, 20:27, 24:10-13. Dt 13:5-10, 21:8-21, 22:22-24). Porém, como desconhecedores da Bíblia, os ateus fragmentam as escrituras pegando textos isolados da Antiga Aliança, bem como ignoram o Novo Testamento, para tentar descredibilizar a Bíblia e ainda afirmar que tais atos são praticados por nós cristãos nos dias de hoje. Um absurdo!
Deus criou a mulher, pois sabia que sem ela, o homem não seria feliz (Gn 2:18). Sara, a esposa de Abraão, é citada dentre os que servem de exemplo para toda a humanidade (Hb 11:11). O próprio Jesus evangelizou a mulher Samaritana e tratou-a com amor e dignidade, embora tivesse ela uma vida totalmente imoral (Jo 4:9). Jesus perdoou a mulher adúltera e mostrou que é totalmente contra o machismo, claro, ordenando que ela não adulterasse mais (Jo 8:7-11). Cristo honrou todas as mulheres, pois após a ressurreição, apareceu, primeiramente, para uma mulher: Maria Madalena (Jo 20:11-18) Esta mesma mulher, Maria Madalena, teve a honra de ser a primeira pessoa a anunciar a ressurreição do Salvador (Jo 20:18). O apóstolo Paulo destaca figuras femininas que foram destaque no seu ministério (Rm 16:12). A Bíblia Sagrada proíbe o homem de ter mais de uma esposa (Gn 2:24, Mt 19:5-6, 1Tm 3:2), proíbe que o homem repudie a esposa, salvo se ela for infiel a ele (Mt 5:32). As mulheres virtuosas são comparadas a jóias preciosas (Pv 31:10). É dito que uma boa esposa é uma dádiva de Deus (Pv 19:14). Às mulheres é legado a capacidade de poder edificar o seu lar (Pv 14:1). Através da instrumentalidade de uma mulher, o Salvador veio ao mundo (Lc 1:30-31) A Bíblia Sagrada ordena que as mulheres sejam tratadas com amor e dignidade, Paulo repete isso três vezes em Efésios 5 (vs 25, 28 e 33). Elas devem ser tratadas com respeito e dignidade – (1Pe 3:7).
Já que o Sr. Chapman não conhece tanto a Bíblia, ele deveria se preocupar mais em provar a veracidade dos estudos de seu bisavô. Afinal, existem muito mais problemas em transformar a “teoria” da evolução em “verdade absoluta” do que suspeitas para descredenciar o criacionismo bíblico. Porém, ignorando estes fatos, ele estranhamente faz uma inversão de valores ao desmerecer os cristãos que acreditam nos relatos bíblicos, exaltando o ateísmo como posição correta. Grande incoerência!
Na tentativa de desmoralizar o cristianismo, ele afirma: “Se a única coisa que está impedindo você de matar uma criança é porque Deus mandou você não fazer isso, você é maluco. É óbvio que você não deve matar uma criança, você não precisa de que alguém te diga isso. Você pode ver sofrimento e reagir a ele.”
O argumento que o Sr. Chapmam utiliza é falacioso! Um cristão não mata crianças só porque Deus mandou não matar (Ex 20:13), mas principalmente porque temos o amor de Deus introduzido em nossos corações (Rm 2:15, Hb 4:12 e 10:16). É claro que para pessoas como Chapmam, este amor será algo “maluco”, pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens (1Co 1:25). Na verdade, sabedoria é o que falta nos argumentos de Chapman, pois os mesmos contradizem com a realidade. Haja vista, os regimes comunistas ateus como Josef Stalin, Mao Tsé-Tung e Pol Pot que mataram milhões de pessoas – inclusive várias crianças – em proporções bem maiores que as distorções religiosas como a inquisição, o terrorismo e as cruzadas. Até Adolf Hitler usou a teoria de Darwin como justificativa filosófica para o Holocausto. [2]
Chapman insiste, afirmando que não precisamos de ninguém para dizer que não devemos matar uma criança, pois reagimos naturalmente ao sofrimento. Ele deveria dizer isso a um psicopata, um pedófilo ou um sequestrador, que em suas próprias decisões “naturais” matam crianças, ou então para índios de algumas tribos que enterram crianças vivas por conta de defeitos genéticos. Quem sabe, perguntar aqueles que matam crianças indefesas em algumas escolas, atirando loucamente com arma de fogo para todos os lados, ou então para as seitas que sacrificam crianças em seus rituais macabros. Por que será que essas pessoas não “reagem ao sofrimento”?
Na verdade, essa tentativa de justificar a bondade de forma naturalista que Chapman utiliza, parte de uma premissa sem fundamento. Qual é a base para o princípio de bondade no ser humano? Qualquer tentativa de responder esta pergunta – ignorando os princípios de Deus como autor absoluto de bondade e justiça, torna-se subjetiva e incoerente. Por exemplo, se o princípio de bondade vier instintamente “do que achamos certo”, trata-se de um pressuposto inconsistente, pois o que é bom para Chapman pode não ser bom para nós, o que é bom para a maioria, não é bom para uma minoria, o que é bom para uma cultura ocidental, pode não ser bom para uma cultura oriental, e assim por diante.
Então, de onde parte esta reação moral do ser humano? Da possibilidade de que a moralidade estaria embutida no DNA ou em processos naturais, conforme defendem os darwinistas? Impossível, pois segundo o darwinismo existe apenas o material, mas o material não possui moralidade. Qual o peso do ódio? Existe um átomo para o amor? Qual é a composição química da molécula do homicídio? Perguntas totalmente sem sentido porque partículas físicas não são responsáveis pela moralidade. Sem uma fonte objetiva e transcendente de moralidade, todas as questões morais nada mais são do que preferências pessoais subjetivas. Além do mais, mesmo descobrindo um “sentimento moral” dentro de nós, não significa que não exista lei moral objetiva fora de nós mesmos. Portanto, sem Deus não existe referencial fixo para o princípio de bondade!
Chapman não foi feliz ao concluir uma opinião sobre o Brasil sem ao menos analisar os fatos verdadeiros. Vejamos a afirmação dele: “Se você analisar sociedades com menos envolvimento religioso, como Suécia e Escandinávia, os países tratam seus cidadãos melhor do que países como Irã, Iraque, Paquistão e Afeganistão. Que fazem coisas atrozes às pessoas, a mulheres, crianças, artistas e homossexuais. Eu conheço o país muito bem, é que vocês tem um crescimento muito grande de fundamentalistas cristãos e evangélicos e eu acho que isso é algo que é preciso tomar cuidado, para que eles não ganhem muito poder.”
O Sr. Chapman formula muito mal o seu “fundamentalismo ateu”[3], pois mostra-se desonesto ao fazer um falso julgamento sobre o nosso país sem ao menos conhecê-lo, bem como comparar o Brasil à países com predominância de muçulmanos radicais. Bastaria para ele uma simples análise nas estatísticas do IBGE para constatar que os quase 200 milhões de habitantes no Brasil, 86,8% são cristãos, dos quais 64,6% católicos, 22,2% evangélicos; 10,8% sem religião/outros, 2% espíritas, 0,3% umbanda e candomblé.[4]
Se o raciocínio dele estivesse certo, o Brasil seria um país confessional e intolerante à outras religiões, não haveria democracia, teríamos atentados terroristas, perseguições religiosas e matanças por todos os lados. Ao contrário disto, somos um país miscigenado, aconfessional, onde convivem o afro-religioso, o espírita, o evangélico, o católico, o ateu, o muçulmano etc. Nossa Constituição Federal garante exatamente o contrário do que Chapman afirma: a liberdade religiosa e liberdade de expressão (art.3 inciso IV, art.5 incisos VI, VIII e IX ). No Estado democrático brasileiro, o respeito às crenças e valores filosóficos da sociedade provam explicitamente a democracia estabelecida. Inclusive o nosso país é presidido por uma mulher, além de possuir uma representatividade feminina muito forte nos três poderes: judiciário, legislativo e executivo. O povo elege diretamente suas lideranças através de voto popular. Portanto, comparar o Brasil com países intolerantes é completamente incoerente, pois é incompatível com a nossa realidade.
Por fim, o Sr. Chapman foi desonesto em utilizar de forma pejorativa o termo “fundamentalismo cristão”. Comparar os fundamentos cristãos bíblicos com distorções religiosas violentas é um absurdo. Os fundamentos do cristianismo não são ofensivos, muito menos possuem alguma semelhança com países de predominância de muçulmanos radicais, pelo contrário, justamente por questões de intolerância religiosa que existem vários cristãos perseguidos, presos e até mortos nestes países. No cristianismo, os ensinos de Jesus Cristo convocam até mesmo ao amor pelos inimigos. “Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). “Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18.21-22).
Se o objetivo do Sr. Chapman foi criar polêmica para aproveitar a mídia em benefício de divulgar o seu filme, creio que a estratégia não foi das melhores. Com certeza, a grande maioria dos brasileiros não verá tal filme de conteúdo ateísta, inclusive eu.
Soli Deo Gloria!
Notas:
1 – Oswald 3. Smith, Litt. D., artigo extraído de Prayer Crusade, publicada por The Little Church by the Sea, mc.) Citado no livro: O que eles disseram a um passo da eternidade, John Myers, pp. 244, Worship Produções, D’Sena Editora. Para saber mais, clique aqui!
2 – Adolf Hitler – Mein Kampf, de 1924. Quarta reimpressão. Londres: Hurst & Blackett, 1939, p. 239-40,242 [publicado em português pela Editora Cenrauro, Minha luta].
3 – Embora muitos neo-ateus discordem do termo “fundamentalista ateu”, o mesmo tem sentido ao ser aplicado quando um ateu “fundamenta” suas convicções e segue à risca os preceitos derivados. Desta forma, a colocação ateísta de oximoro para tal termo é descartada, pois existe uma defesa dos fundamentos de convicções. Como diria P.E.Johnson: “Aquele q afirma ser cético em relação a um conjunto específico de crenças é, na verdade, um crente em outro conjunto de crenças.”
4 – IBGE, senso demográfico 2010.