Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos… (At 20:28).
Nesses dias de mornidão espiritual em que sobram “declarações proféticas” e que no fim são consortes de uma vida cada vez mais mundana; onde a gravidade do pecado é atenuada por ministrações de auto-ajuda, incentivando o contumaz transgressor da Palavra a buscar superação ao invés de arrependimento; perguntamos: o que ainda falta para despertarmos desse pesadelo paradoxal e sairmos dessa berlinda de vitupérios e motejos, sendo nós o povo de Deus? Nesse tempo de escassez do amor e de aridez cristã em que unções à base de azeite descem sobre tantas cabeças, serpenteando em rostos ávidos por novidades; em que os montes estão cheios de profetas entregando revelações personalizadas à gente que não encontra mais respostas dentro de suas próprias “igrejas” – parece até que a “igreja” perdeu seu centro, razão e capacidade de conduzir vidas ao Reino de Deus. Frente a tudo isso, os verdadeiros profetas tem se calado ou como nos dias de Elias estão escondidos em cavernas (1 Re 18:13) para não serem trucidados por milhões de evangélicos que não aceitam receber um “não” como resposta a seus “refestelos gospelizados” (2 Tm 4:3-4); e assim, os homens de Deus, tolhidos para proclamar a real mensagem do Senhor a uma geração perdida em seu próprio convencimento e razão; se calam!
Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus (Tg 4:4).
A maneira dessa nova geração de crentes e obreiros ver a vida (cosmovisão) é literalmente assimilativa ao mundo. Práticas e propostas que no passado eram impensáveis de se ver dentro do redil cristão; agora, na pós-modernidade que influenciou os seus valores é tudo relativo e aceitável: o pornô, o sexy shop, o cartão de crédito, a viagem a Israel, o boteco; agora é tudo “gospel”! As chocarrices agregam rodas de interesse entre nossa juventude; o consumo de bebida alcoólica é contextual e já faz parte de algumas “reuniões sociais” de evangélicos; adultérios e fornicação são entendidos apenas como uma questão de senso cultural – e quando praticados, o importante é a complacência e não a disciplina (1 Tm 5:20). Essa “nova consciência” é também avessa a autêntica vida cristã, pois fizeram da roda dos escarnecedores (Sl 1:1) a “mesa de Jesus” com os pecadores; a condenação do pecado tornou-se legalismo; a ortodoxia recebe o estigma de ser retrógrada e o vestuário decente é tratado não como sinal de recato por quem o traja, mas como cafonice ou falsa moralidade. O local consagrado a adoração a Deus foi adaptado em arena de MMA; o templo adequado em espaço para exibição de jogos de futebol tudo em nome de uma sintaxe evangelística – afinal, agora tudo pode; é “gospel”!
Não havendo profecia, o povo perece; porém o que guarda a lei, esse é bem-aventurado (Pv 29:18).
É perceptível que a noção de avivamento que pregam por aí é anômala a da Bíblia (Sl 119:25), pois transformaram reuniões de adoração em espetáculos, pregações em shows e congressos em apresentações humorísticas; cantores ascenderam a astros e pastores se fizeram em gurus de uma nova ortodoxia. O Senhor perdeu em muitos ajuntamentos o seu lugar e soberania no culto em escala decrescente, pois são tantos anjos entre os homens que falta lugar para o próprio Deus. Infelizmente há intenções comerciais por trás da maioria dos grandes nomes da homília e da música gospel que tanto ouvimos e aplaudimos; seus produtos vendem muito e são caros; suas “ofertas” são gordas; as exigências financeiras são altas para que as pessoas recebam ministrações mirabolantes dos “profetas do século” em camarotes vips. Os milagres acontecem, mas, sutilmente “vendem a promessa para quem os quer obter” através de ingressos, campanhas, correntes, objetos e tudo o que se puder comercializar, pois com esses “homens de Deus” do século XXI nada é de graça. Atravessamos uma crise de identidade pela ausência de fundamentos bíblicos que delineiam o caráter e missão da igreja; por falta de padrão bíblico estabeleceu-se uma diversidade religiosa que desfigurou o perfil cristão; pelo distanciamento da Palavra de Deus e do Deus da Palavra nossos valores foram pervertidos e o cristianismo esfacelado produziu grupos periféricos com verdades e comportamentos locais – de modo que em tal lugar uma coisa é “pecado” e noutro não é – esse cristianismo confuso está perdido!
Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina (2 Tm 4:2).
Amados pastores, Deus não mudou, sua palavra não foi invalidada e o pecado continua pecado! Se vocês não nos comunicarem por meio de exemplos e palavras todo o conselho de Deus (At 20:27), em pouco tempo seremos uma igreja evangélica ainda mais deturpada. Sobram-nos maus exemplos e faltam-nos obreiros do Senhor, homens que não estão preocupados somente com sua prebenda mensal (1 Pe 5:2) ou com o crescimento a qualquer custo da membresia de suas igrejas (Ap 3:8; 1 Tm 3:15); santos de Deus que condenam o pecado e nos mostram o caminho da virtude através de suas sinceras obras (Tt 2); ministros conscientes de seu papel diante de uma congregação de vidas que não tem compromisso de comunicar o que os agrada, mas o que Deus diz que precisam (1 Tm 5). Mestres cuja fonte do saber é a Palavra de Deus e sob a direção do Espírito Santo desenvolvem uma teologia prática capaz de influenciar os demais a desejarem a mesma graça (1 Co 11:1). Minha oração e desejo é que você querido pastor, seja consciente da gloriosa missão que recebeu e continue a pregar o evangelho completo de renúncia, santidade, livramento, prosperidade, contentamento, vitória, tribulação, cura, enfermidade, céu, inferno, arrependimento e salvação em Cristo Jesus.