O doutor em Teologia Fernando Cintra que se especializou na matéria nos EUA, em recente entrevista foi enfático: “a produção de teologia brasileira é podre em todos os sentidos”. Mesmo que eu não concorde em absoluto com Cintra de que toda teologia produzida neste país seja por natureza estragada, reconheço que não por conta de nossos teólogos e sim por variados fatores, há uma pobreza de expressão – e não de podridão, como ele disse. Para doutor Fernando nossa teologia verde e amarela é feita de tratados importados, cinqüentenários e conservadores, constituindo-se num dos maiores obstáculos para o desenvolvimento próprio da teologia e eclesiologia brasileiras. De acordo com Cintra nossa personalidade teológica não tem demonstrado crescimento próprio; estamos parados no tempo e ainda muito dependentes de posições externas sobre a matéria para a nossa própria afirmação de fé e convicções.
De fato, nós ainda seguimos na garupa de uma teologia que chegou a nosso país por meio da obra missionária dos séculos XVIII ao XX. Daí pra cá nos dedicamos em manter a base das doutrinas fundamentais, atualizar as regras ortográficas das obras escritas no século passado pelos missionários e teólogos estrangeiros. Além disso há pouco espaço para a criatividade e manifestação dos novos (nem tão novos) teólogos brasileiros. Como prova de nossa fraca identidade teológica, será que conseguimos lembrar sem demora de pelo menos cinco teólogos nacionais? Percebemos como é séria a questão, nós não sabemos sequer dos nomes, quanto mais das obras de quem escreve sobre nossa fé e compreensão doutrinária em solo brasileiro. Muito embora a teologia esteja nas intimidades doutrinárias da igreja de Cristo, ela acabou sendo marginalizada com o tempo e desprezada pelos crentes.
Existem duas posições interessantes a se considerar quanto ao que é ou faz um teólogo. Numa abordagem mais “ultra”, o título “teólogo” será sempre restrito e atribuído a poucos seres humanos iluminados como, por exemplo: Paul Johannes Oskar Tillich que “inovou” no que tange ao método da “correlação”. Rudolf Karl Bultmann no que se refere à demitologização dos conteúdos da fé cristã. Karl Barth, em relação à neo-ortodoxia. Enfim, não que eles inventassem algo, mas em certo sentido, inovaram ou contribuíram decisivamente para aquelas escolas de pensamento. Em contrapartida, existe a posição mais “neo-teológica” em que qualquer sujeito recém bacharel na matéria, se acha teólogo e se põe a contestar obras e posições dos já consagrados teólogos. Em nenhum dos posicionamentos encontro o equilíbrio necessário, pois a teologia não pode ser apresentada como inacessível, mas também não pode ser banalizada por qualquer um.
Podemos aceitar parcialmente as colocações de Fernando Cintra quanto à nossa identidade teológica. Mas, preciso manifestar que temos no Brasil gente que faz mais gente pensar e se instruir na fé, que contribui com literatura de profundidade bíblica e teológica, que manifesta sua compreensão sobre temas há séculos debatidos nos núcleos da teologia universal. Do ponto de vista do aprendizado, todo ser pensante é influenciado por um saber ou experiência anterior; de forma que em nossas raízes teológicas teremos sempre os substratos da compreensão da fé por meio das visões européia, africana, americana e asiática. A curta estrada teológica aberta pelo protestantismo brasileiro não é apenas fruto de uma cultura informal de preparo de obreiros para o ministério cristão, tem a ver principalmente com sua história recipiente e com sua estrutura recente de ensino teológico. Foi a pouco tempo atrás que o MEC reconheceu de forma acadêmica o estudo da teologia; a partir daí é que tivemos graduação válida para os estudantes da matéria no país. É natural que nessas condições não se pode esperar por tratados de referência ou por posições e defesas antológicas, quando nos comparamos com a cultura e realidades americanas, por exemplo.
Quero aproveitar para citar alguns luzeiros teológicos deste país (não entrando no mérito de suas defesas e posições), destaco entre os tradicionais e pentecostais; teólogos, missiólogos e pensadores: Antônio Gilberto, Ariovaldo Ramos, Russel Shedd, Elienai Cabral, Robinson Cavalcanti, Claudionor Corrêa de Andrade, Augustus Nicodemus, Paulo Romeiro, Júlio Zabatiero, Esdras Bentho, Ronaldo Cavalcanti, Eguinaldo Élio, Nelson Alvim, Davi Mesquiati, Jorge Pinheiro, Haroldo Heimer, Leonildo Campos, Ricardo Gouvêa, Luiz Sayão, Isaltino Gomes, Israel Belo, Ezequias Soares, Alderi Matos, Ciro Sanches Zibordi, Éber Ferreira, Milton Schwantes, Antônio Fonseca, José Rosa, Ed René, Natanael Rinaldi, Hernandes Dias Lopes, Jamierson Oliveira, Ronaldo Lidório, Severino Pedro da Silva, Abraão de Almeida, Caio Fábio, Rubem Alves e outros.