Há um tempo, escrevi um artigo intitulado “Cuidado crente! Nem tudo que você assiste, ouve e lê da dita mídia cristã é verdade”. Meu objetivo naquele texto foi alertar a milhões de crentes que todos os dias, principalmente através da internet, a acessam com o objetivo de se inteirarem sobre os mais recentes fatos do mundo gospel. Nenhum problema neste hábito, o perigo reside em alguns canais ditos cristãos que tem grande visitação divulgarem mentiras e promoverem calúnias contra pastores, cantores e políticos cristãos. Essas páginas não se preocupam em checar fontes ou menos apurar os fatos; o compromisso é o de obter curtidas e compartilhamentos, e é neste ponto que crentes ingênuos são enganados e gente inocente sai prejudicada.
Uma vez escrevi sobre uma importante instituição religiosa com sede em meu Estado, a matéria teve muita repercussão e fui acusado por um portal que se diz defensor da verdade do Evangelho. Afirmaram que eu tinha sido comprado por uma grande empresa para produzir o texto sob encomenda a fim de desviar a atenção de investigações que corriam contra os líderes daquela instituição. Nada daquilo foi verdade e como uma calúnia difamatória dói, pois além de ser ofensa pessoal gera mau juízo coletivo. Pensem como deve ter sido chato, desagradável e totalmente injusto o que passaram Aline, Fernanda e Ana Paula na última semana, tudo por conta de mentiras de gente que também se diz defensores da verdade. Incoerência, contradição, malandragem, maldade; sei lá, faltam-me adjetivos ruins para tal produção de conteúdo infeliz e maldosa.
Esse último caso de sensacionalismo midiático com nome de “crente” foi espalhar uma baita de uma mentira ao povo evangélico. A notícia inverídica foi a de que as cantoras Fernanda Brum, Aline Barros e Ana Paula Valadão participariam da novela Amor à Vida, cantando em um “culto” de celebração de um casamento gay. Essa notícia foi divulgada principalmente pela página Crente Santão no Facebook. O referido subdomínio tem mais de 25 milhões de curtidas e imagine você a quantidade de cristãos que tiveram acesso a essa informação inventada, sabe-se lá por que e por quem. O efeito da notícia manipulada foi bombástico, tornou-se viral e provocou como conseqüência à ira e a indignação de muitos crentes, além de difamações e ofensas as três artistas da música gospel.
Manifestações e represálias começaram a ser vistas e ensaiadas e já tinha até gente organizando quebra-quebra de CDs das cantoras em locais públicos, em sinal de protesto e repúdio por conta do fato inverídico. As inocentes cantoras sofreram ataques, passaram por constrangimentos nas mídias e no fim tiveram que prestar esclarecimentos em notas em seus perfis sociais. Tornou-se necessário se justificarem sobre algo que jamais aconteceu (olha o que uma mentira divulgada por uma página dita evangélica consegue produzir). As dimensões da mentira divulgada cresceram tanto que o próprio autor da Novela Amor a Vida, Walcyr Carrasco, saiu de certa forma em defesa das três ao afirmar que não havia convidado as cantoras para participarem do fim da trama e menos da cena aludida nas divulgações, que mais pareceram divagações de mentes desocupadas.
Como saldo, A imagem das cantoras acabou arranhada, pois as mesmas pessoas que compartilharam a notícia não tiveram o cuidado de compartilhar o desmentido. Essa boataria no Brasil já prejudicou no ano passado a imagem do pastor Marco Feliciano, acusado de ter indicado a “pastora Suzane Richthofen” para presidente da Comissão de Seguridade Social e Família. Qual o interesse de se propagar uma mentira? Seja por brincadeira de mau gosto, por falta de informação ou puramente para criar sensacionalismo, o fato é que a “mentira gospel” continua se espalhando. E ficou ainda pior quando o perfil se identifica como “santão”.
Essa mídia com máscara gospel é irresponsável por que tem se dedicado a espalhar fofocas, sustentar pré-julgamentos e promulgar achismos – mas o juízo para essa gente não tarda (2 Pe 2.3). Como ficam as vítimas (pessoas e instituições) atacadas por este impiedoso “sistema de popularidade a qualquer preço” que forjando mentiras como “provas da absoluta verdade” destroem a dignidade e moral dos vitimados pelos ditos canais? Isso é loucura editorial passível a configurar crime de danos morais e etc. É tempo de refletirmos como seguidores do Evangelho sobre como temos tratado as informações que recebemos pelos meios de comunicação ditos cristãos (1 Ts 5.21). O servo de Deus não deve se alienar do mundo, antes precisa estar “ligado” ao que acontece, de forma coerente, prudente e firmada na verdade (2 Pe 1.12).