Eu, Marisa Lobo, psicóloga e presidente do Corpo de Psicólogos Pró-Família, que fui uma das motivadoras da PDC 234/2011, estou pedindo ao deputado João Campos (PSDB-GO), autor do projeto, que retire o mesmo de tramitação no Congresso por vários motivos, entre eles, que com essas manifestações que estão acontecendo no Brasil, o PDC 234 virou mote de uma política oportunista, que está com medo de um apelo midiático (medo de perder a eleição).
Querem mostrar serviço de forma suja e oportunista. Nunca foi intenção, quando criado o PDC 234, de competir com tantos problemas de corrupção no Brasil. Não posso aceitar que um projeto que nasceu para proteger profissionais de serem injustamente acusados, ou de ser deles tirado o direito de liberdade de expressão, seja usado para resolver uma situação de desgaste da política nacional como, por exemplo, a má administração pública e principalmente a corrupção.
Querem servir ao povo o PDC 234 como “placebo” para acalmar os ânimos, tentando enganar aqueles que lutam nas ruas de forma digna por direitos. Querem tirar o foco, dando-lhes uma causa que não é deles, tentando demonizar o projeto, como se esta Nação, este povo, que acaba de acordar, fosse massa de manobra ou “idiotas úteis”.
Eu pessoalmente pedi ao deputado Marco Feliciano (PSC-SP) que não colocasse o projeto em votação porque não era o momento, pois temia exatamente o que está acontecendo agora. Os oportunistas nunca leram o projeto , e se lessem, saberiam que não fala em “cura gay” e/ou trata de gays como doentes, mas fala apenas do cerceamento do direito do profissional e da pessoa que busca ajuda quando essa condição/orientação e/ou opção não seja mais aceita por ela.
Penso que oportunistas viram no projeto hoje uma forma de lucrar com ele (politicamente, socialmente e em causa própria), sem se importar com o outro. As inverdades são ditas e repassadas, e uma mentira se torna verdade. Mas entendo que isso só foi possível porque a resolução 01/199 do Conselho Federal de Psicologia é capciosa e não deixa as coisas claras. Ela acusa o profissional de preconceito em seus artigos (três e quatro) de forma subjetiva sem dar direito a argumentos, e é dúbia em sua interpretação, dando margem para preconceito. É a resolução quem fala de curar gays, não o PDC 234.
Com esta resolução, a psicologia fecha questão em assuntos que estão em constante mudança, transformação… Gostaria muito de discutir com todos os envolvidos sobre esta questão, mas infelizmente, muitos só querem guerra e fortalecer suas causas e suas candidaturas.
Eu sou a psicóloga que motivou o projeto. Ele não é do Marco Feliciano, é do deputado João Campos, e acredito na intenção do deputado quando o reativou, mas penso que ele ainda deveria ter sido mais discutido e entendido. O que me preocupa no congresso é que nada é discutido exaustivamente, é tudo jogo de interesse. Temo pelo nosso país, mas se o projeto deixa brecha para pensar o que pensam dele, então deve sim ser retirado e ser mais bem elaborado ou ter esses artigos mais discutidos, com quem é de direto.
O PDC virou fato de uma guerra, moral, política e religiosa, e era apenas uma discussão por direitos humanos, do profissional e do paciente. Por isso, pedi ao deputado João Campos, sabendo da sensatez e da honestidade das suas intenções, que retire imediatamente este projeto e que possamos juntos, entender o porquê de seu nascimento, com olhos de pesquisa e conhecimento, e direitos humanos. O que não podemos é deixar essa guerra fazer com que pessoas de todos os lados, inocentes, continuem sofrendo por se sentirem discriminados por ele. Essa é a principal razão.
Creio que o Conselho de Psicologia já deixou claro que ninguém é proibido de atender homossexuais que não se sentem satisfeitos com sua condição, e a psicologia não nos dá o direito de induzir convicções de orientação sexual, certo? Então quanto a nós profissionais, igualmente não podemos negar o direito desse ser humano de buscar ajuda e procurar mudar uma condição que não seja aceita por ele, seja ela qual for, e promovermos a aceitação da maneira que ele desejar. Exatamente como tenho feito e como três pacientes homossexuais deixaram claro em minha audiência no Conselho de Psicologia, me defendendo dessas acusações mentirosas.
Mais uma injustiça que os militantes da LGBTT tem que corrigir: ninguém pode ser massacrado (como vem sendo) por se declarar ex-gay. É uma postura paradoxal: se luto por direitos, tenho que dar estes direitos a quem quer que seja, por qualquer motivo, e a ciência não pode ser malabarista, tem que saber que eles existem.
Quanto à psicologia, que respeita e incentiva tanto a multiplicidade da sexualidade, não pode induzir a convicções heterossexuais, certo? Porém nem homossexual, nem bissexual, que a psicologia seja a primeira a ser ética, para dar o exemplo e não contribuir com essa indução de orientação principalmente na escola.
Assim caminhamos em conhecimento, ética e respeito à pessoa humana e às diferenças, sem nos esquecermos de que a pessoa que acredita em Deus faz parte desse universo como maioria que não pode, e nem deve, ser ouvida somente em época de eleição. As suas convicções na construção de qualquer política pública devem igualmente ser ouvidas e respeitadas, coisa que não tem acontecido.