Acredite, pois você não vai ler um artigo com recheios mitológicos, ficção científica ou qualquer conto zumbi. Em Apocalipse 13, lemos de uma besta que subiu do mar e de outra besta que subiu da terra – o texto se aplica (mesmo que por figuras) em perspectiva futurista no clímax escatológico da aparição do futuro líder político mundial “Anticristo” e ao seu parceiro religioso – o “Falso Profeta” – na empreitada global de enganar a humanidade. Não obstante, o mesmo evangelista João tenha também nos escrito que muitos se fizeram anticristos ao enganarem outros homens e, sobretudo por se oporem a Cristo e ao seu Evangelho. Em suma, João nos advertiu que haveria muitas bestas nos séculos posteriores a ele e deveríamos ter cuidado. O apóstolo Paulo descreveu e caracterizou com inspirada maestria as bestas prenunciadas pelo apóstolo do amor em 2 Timóteo 3:1-5.
Mas, minha curta reflexão não é escatológica – é em certa medida sociológica. Estamos num mundo que mais parece um pasto, uma selva aberta e perigosa pela presença de “bestas, monstros e mutantes” que já foram humanos, mas que agora se acham sem qualquer noção do próximo e dos sentimentos inerentes à esse outro ser humano. Um século de idiotices e estupidezes em que a lei que impera, principalmente em nossas selvas de pedras – é a da sobrevivência do mais forte – onde a subsistência da animália só é possível por uma indispensável cadeia alimentar – pois bestas-feras trabalham para devorar presas. E nesse ponto as “bestas” do século XXI sofreram mutação – pois também se tornaram predadoras. A nossa cultura de sucesso é altamente “matadora”; o nosso lazer de fim de semana é plenamente eliminatório; nossas aspirações de vida profissional são sempre para sermos os melhores dentre todos – pois em nossa sociedade a vida secular é uma intensa competição e não há espaço para perdedores em segmento qualquer. Enfim, nós pensamos e agimos assim, racionalmente – é o que nos difere das bestas irracionais que atacam e se atracam instintivamente – só que muitas de nossas brigas não têm lógica e sentido algum – e aí concluímos: muito pelo que lutamos não difere tanto assim daquelas bestas ferozes do mato – estraçalhar pra viver. Mas precisa ser assim?
Portanto, para se alcançar o ápice da existência nota-se bestas em esquinas, mulas em empresas, burros em locais públicos, asnos em escolas e até jumentos ocupando posições de governo – é um tempo de híbridos mentais e comportamentais – seres que perderam a “raça” e a identidade de quem realmente são – por isso vivem como animais, uns como bestas de carga, outros como mutantes que um dia foram humanos – mas que agora se expressam com suas garras, seus dentes afiados, suas carrancas de mal e seus músculos de vigorosa força e truculenta falta de amor. Tem besta saindo pelo ladrão – de famosas bestas da TV (sem generalizar é claro) ao anonimato do populacho das feras, do avião ao metrô, do xilindró a grandes corporações tem besta se achando – há besta perdida; besta de carrão, besta andando a pé; besta com doutorado e besta iletrada. Neste mundo de gente vivendo como animal – a única salvação para o mundo das bestas mutantes – é voltar a ser humano!
Neste descrito contexto, besta é alguém que vai deixando a natureza humana ir embora – vai encurtando os sentidos, limitando as percepções e travando os sentimentos. É contraditório que alguém que aspira ser algo mais que humano – não admita que o outro erre, que é incapaz de compreender, insensível para reconhecer onde falha, gente que valoriza objetos e não pessoas – e assim não evoluímos, na verdade regredimos e nos deformamos na vida, deixamos a razão das coisas para seguir os instintos de obter coisas – e como o rei babilônico Nabucodonosor entramos numa licantropia e ficamos muito bestas com isso. Nossa geração passa por um processo de “bestificação” que deslumbrada pela falta de sentido demonstrada pela sociedade pós-moderna, reconhece-se como superior em tantas coisas – mas a cada dia é mais animal e bicho, mais monstro do que humana – essa é a verdade.
Neste infeliz, horrível e monstruoso processo de desumanização pelo qual atravessa nossa sociedade, alguns se pasmam diante dos reflexos de si mesmos – e se culpam pelo que fizeram ou pelo que se tornaram. Outros se acham na senilidade e já entregaram os pontos, dizendo: “não dá mais pra mudar, já estou velho”. Queridos, todo cristão tem o dever e o poder para ser um ser humano melhor; não podemos nos conformar com um mundo fora de si, de pessoas dissecadas pelo egoísmo e até hedonismo, de gente petrificada pela insensibilidade – desfigurada pela ausência do amor. Nós temos Cristo, temos o Evangelho e ainda mais: recebemos uma vida nova – de gente boa – de ser humano transformado pelo poder de Deus. Que façamos a diferença – que jamais nos entreguemos ao mundo perverso e deformador de vidas que jaz no maligno.
Então, mesmo que você esteja cercado por bestas e monstros da típica vida ímpia contemporânea – você não pode negociar sua identidade de servo de Cristo e rejeitar sua personalidade humana. Espalhemos o amor de Cristo que é o poder transformador capaz de regenerar bestas feras em homens e mulheres de bem!