Primeiro foi o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, depois o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e agora o novo secretário de Recursos Hídricos do Estado, Benedito Braga, decide recorrer a Deus para resolver a incompetência administrativa tucana, no Estado há 20 anos. Segundo a Folha de São Paulo, em nota publicada hoje (7/2), por ocasião de um evento realizado pela Federação do Comércio Estadual, Benedito fez uma apresentação das ações e dos planos do governo para enfrentar a crise do abastecimento de água. Ao final, de acordo com a Folha, Benedito Braga disse – “Temos de pedir a Deus piedade e que nos mande água!”. É a realidade que vivenciamos no Estado de São Paulo.
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Se nos últimos 20 anos o governo do Estado não conseguiu resolver o problema hídrico, por que recorrer a Deus? Seria a solução mais fácil, mais sustentável, no momento? É o que podemos entender pelas entrelinhas. Em um país em que as coisas são resolvidas à brasileira, com jeitinho, não deveríamos estranhar que um político venha a público fazer declarações improvisadas, sem fundamento técnico. “Por que não deixam Deus em paz?”, questionou Juan Arias, colunista do jornal El País, em artigo publicado no final de janeiro. “Deus, para os que nele creem, não pode ser um coringa, sempre disposto a resolver os erros e incapacidades dos políticos”, aponta Juan Arias.
A escassez de produtos básicos na Venezuela, a pane elétrica no Brasil, e a crise hídrica no Estado de São Paulo, são resultados de políticas equivocas, de anos de incompetência administrativa. Enquanto a população padece com a falta de água – especialmente em regiões mais altas e pobres da periferia de São Paulo -, o governador apresenta como opção a água podre da represa Billings. É o cúmulo do absurdo. Para um Estado que tem o maior PIB do País, que é considerado a locomotiva do Brasil, não investir de forma adequada na expansão das reservas hídricas, com novos reservatórios, preservação dos mananciais, reflorestamento de áreas próximas aos grandes afluentes, é um grande retrocesso. Diante da incapacidade administrativa, resta clamar a Deus.
É fácil e cômodo recorrer a Deus quando não conseguimos corrigir nossos erros. É uma fórmula antiga, porém descontextualizada. Era comum, nas sociedades primitivas, sacerdotes oferecerem sacríficos aos deuses para apaziguar às forças da natureza, terem uma boa colheita, ou mesmo para serem superiores no campo de batalha. Estamos falando de um contexto social diferente, dos primórdios da humanidade. Hoje temos recursos humanos e tecnológicos necessários para abastecermos o mundo por décadas, contornarmos situações climáticas desfavoráveis à agricultura, proporcionarmos saúde ao homem, mas interesses pessoais são impeditivos ao crescimento.
Deus, atualmente, é uma moeda de troca, um negócio, um seguro contra crises hídricas e elétricas. Recorra a Deus e tudo estará resolvido. Seja um total incompetente, gaste os recursos públicos com viagens internacionais, com festas à beira-mar, e jogatinas em cassinos de Las Vegas, e depois recorra a Deus. Simples assim. Deixe o chicote estralar no lombo dos pobres, dos comerciantes, dos empresários. Esta é a fórmula adotada por nossos políticos e líderes partidários. Estamos perdidos. A saída então seria colocarmos Deus na Presidência, no Ministério de Minas e Energia, ou constituí-lo como governador do mais rico Estado do Brasil, o Estado de São Paulo! Deixem Deus em paz!