Continuação:
Da identificação do Templo com Israel decorre a sua unicidade espacial: Israel terá um único santuário assumido como símbolo axial.
Se a sua expressão monumental surge com Salomão, a sua expressão arquetípica surge prefigurada no sonho de Jacob do qual resulta a erecção da pedra, “casa de Deus (beit El) e porta do céu” e, por isso mesmo, lugar de reunião (escada) com o Divino (Gêneses, 28,17). No plano arquetipal, o Templo situa-se no centro do Mundo Espiritual. Donde decorre que o verdadeiro Templo se ergue num espaço sacral do qual o Templo salomónico será tão só um sinal, dado que, como acima foi referido, se “os céus dos céus não podem conter (o Deus de Israel), menos ainda esta casa que eu (Salomão) construí” (I Reis, 8,27), e na qual o Seu Nome está presente.
Símbolo de presentificação divina e símbolo da hierofania que o consagrou, o Templo, como símbolo fundador, resiste às destruições, ao Exílio e à Diáspora, transmigrando com o povo de Israel que espiritualmente o interioriza e incorpora. A I mago Templi mantem-se e perdura no Templo interior – Templo invisível – através da partilha comunitária da vivência divina
Estamos, assim, perante uma visão cósmica e antropológica do Templo, na qual o Templo de pedra é um dos símbolos de uma presentificação que se transfere ao microcosmos humano pela via espiritual de uma permanente e renovada Aliança vertical e horizontal. O arquétipo espacial do Templo transcende a simples espacialidade tópica, apontando para um espaço sacral de presentificação e de repetição hierofânica.
Mas o arquétipo espacial do Templo remete-nos também – e por isso mesmo – para uma escatologia do retorno, ou do recomeço, posto que no fim dos tempos (no fim de um ciclo e no começo de outro) Jeová propiciará a coligação dos povos devolvendo a Jerusalém, sob o signo da união e da paz, o seu sentido axial, pela via universalista de uma renovada Aliança (Isaías, 66,18; Jeremias , 31,10; Salmos, 46 e 47).
O modelo do santuário celestial, pressentido por Jacob e revelado a Moisés, define assim o arquétipo espacio-sacral do Templo, simbolizando a hiero-História do povo de Israel até à Idade Messiânica e erguendo-se a símbolo nuclear do judaísmo”.
Contemplamos a hermenêutica àcêrca do tempo e do Templo, a Casa de Deus, a visão profética para o tempo do fim determinado, a sucessão da destruição do Templo e da cidade santa, o soerguer do Cristo ressuscitado, o cumprimento do Pentecostes, a descida do Espírito Santo em forma de línguas de fogo sobre os discípulos bem como a bendita promessa de residir em todos aqueles que n’Ele cressem, o Ungido de Deus, cumprir-se-á com o esplendor, conforme está escrito:
“E eu, João, vi a santa cidade, e a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus, Ap 21:2-3“.
Bibliografia: Estudos Judaicos, M. Breda Simões, 1995. Deus da Aliança, Amilcar Rodrigues
Fraternalmente,
casal com uma missão,
Amilcar e Isabel Rodrigues