Tudo indica que o tucano João Doria é a mais nova promessa – ou produto – que Silas Malafaia pretende vender entre os evangélicos. Além das promessas de prosperidade financeira, o pastor Malafaia é um bom vendedor de ilusões políticas.
É bom contextualizar: depois que a Operação Lava Jato atingiu o PSDB, manchando a imagem de tucanos como Aécio Neves, o prefeito de São Paulo passou a ser visto como a última grande esperança de retorno ao poder dos social-democratas.
Em um passado recente, Silas Malafaia deu total apoio ao também tucano Aécio Neves. “Sou Aécio desde criancinha”, declarou o pastor na época. Ele gravou vídeos e foi bastante ativo no esforço de boa parte do Brasil para tirar o PT do poder.
Mas, como é de seu feitio, Malafaia exagerou (e muito) na dose.
O pastor chegou a fazer uma comparação indireta entre Aécio e Jesus Cristo. Agora Malafaia é Doria “desde criancinha”. E apresenta o mesmo grau de entusiasmo infantil e irrefletido.
Hoje alvo de nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal, acusado dos crimes de corrupção passiva e obstrução à investigação de organização criminosa, Aécio luta para não ser preso.
Mesmo com apoio de Malafaia, Aécio naufragou nas urnas e hoje especula uma candidatura humilhante ao Congresso, o que lhe garantia ao menos o foro privilegiado.
Antes de apostar todas as fichas em Aécio, Silas Malafaia já havia “ungido” como salvador outro famoso tucano. Em 2010, Malafaia apoiou o tucano José Serra contra o PT. E chegou a aparecer no vídeo de campanha de Serra, dizendo: “Para ser presidente do Brasil tem que ter liderança, estar acima dos partidos, conduzir a nação. Só temos uma pessoa: Serra, 45”.
Serra perdeu para Dilma. Já em 2012, Malafaia deu apoio irrestrito a José Serra na corrida pela Prefeitura de São Paulo. Serra perdeu para Fernando Haddad (PT).
Na última segunda-feira, 28, o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou a abertura de inquérito para apurar denúncia de caixa 2 contra o agora senador José Serra. Não é difícil imaginar que Serra, em breve, estará lutando por sua liberdade.
Se quisesse aprender com as lições do passado, o pastor Silas Malafaia adotaria hoje uma postura mais cética diante de mais uma promessa de salvador nacional que está sendo gestada pelo PSDB, novamente de forma artificial e sem base factual.
Mas o apoio de Silas Malafaia ao recém-criado João Doria é indisfarçável. Mesmo com as eleições ainda distantes. “Desconfio que será um ótimo presidente”, afirmou Malafaia.
Doria: pró-LGBT e contra o Escola Sem Partido
Em toda sua trajetória como figura pública, João Doria jamais participou dos esforços para denunciar os riscos da hegemonia cultural de esquerda. É possível argumentar que ele nunca se propôs a isso e que é apenas um empresário que ingressou na política há pouco.
O problema é que o tucano João Doria tem sido vendido como o candidato antiesquerdista, o político antipetista, o grande gestor e candidato da direita “civilizada”.
Ocorre que, neste caso, a incoerência é enorme. Enquanto presidente do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), organização que conta com cerca de 1.700 empresas filiadas, João Doria viabilizou polpudas doações de dinheiro para as campanhas eleitorais petistas.
Diz a reportagem do jornal Estadão:
“Em períodos eleitorais, Doria costuma fazer doações para candidatos que são arquirrivais dos tucanos. Entre eles estão Orlando Silva (PC do B-SP), vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, a deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila (PC do B) e Paulo Skaf (PMDB)”.
Ou seja, nos últimos anos, enquanto lutávamos contra o projeto de poder totalitário do PT, o “ecumênico” João Dória levantava dinheiro para ajudar petistas e comunistas.
Doria nunca foi um antiesquerdista, como é vendido agora, mas alguém muito interessado nas benesses da aproximação entre empresários e políticos importantes:
“Embora não goste do rótulo, o Lide prosperou ao reunir e aproximar CEOs, governadores, ministros, parlamentares e jornalistas em eventos sofisticados e reservados. O principal deles, o Fórum de Comandatuba, realizado em uma paradisíaca ilha na Bahia, sempre foi frequentado por políticos que vão do PC do B ao DEM, passando, é claro, por PSDB e PT. Entre as figuras carimbadas dos encontros estão o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (PT)”.
É possível ainda contra-argumentar dizendo que o que interessa é tudo que João Doria está fazendo agora que é prefeito de São Paulo. É um argumento. Vamos lá.
João Doria deu apoio logístico e se comprometeu viabilizar recursos financeiros para a Parada Gay em São Paulo, motivo pelo qual foi criticado por vereadores evangélicos. Mas, curiosamente, não recebeu nenhuma crítica do pastor Malafaia.
Neste vídeo, o prefeito João Doria afirma: “Terminamos agora uma reunião de organização e preparação da Parada do Orgulho LGBT, junto com a Secretaria de Cultura, SPTURIS, Secretaria da Saúde, Secretaria de Transportes, vários setores da Prefeitura que estarão apoiando este evento […] Há um benefício na irrigação da economia da cidade”.
Conforme registrado em vídeos como este do Carteiro Reaça, o que realmente acontece durante a Parada Gay em São Paulo é um festival ofensas contra cristãos, profanação de imagens religiosas e atos obscenos até mesmo na frente de crianças.
Mas para o empresário João Doria está tudo bem porque, afinal de contas, a Parada Gay movimenta a economia, com ocupações de hotéis e movimento nos restaurantes.
Como o pastor Silas Malafaia pode justificar a afirmação de que João Doria, apoiador da Parada LGBT, “seria um excelente presidente”? Difícil de entender.
Durante a campanha, João Doria insinuou apoio ao projeto Escola Sem Partido. Mas, depois de eleito, o tucano nomeou Alexandre Schneider como secretário de Educação. O senhor Schneider é ligado ao PSOL e um opositor ferrenho do projeto Escola Sem Partido.
Coerência
Vamos recapitular: Silas Malafaia passou a última década denunciando aberrações como o Kit Gay nas escolas. E agora está apoiando um tucano que deu às costas ao projeto Escola Sem Partido que visa, entre outras coisas, livrar os estudantes desse tipo de assédio.
O Doria que deu às costas ao Escola Sem Partido é o mesmo que abraçou a Parada Gay por “movimentar a economia”. Trata-se do mesmo Doria que recebe apoio do pastor Malafaia.
Há algo de muito esquisito no ar.
Silas Malafaia precisa rever com cuidado a sua postura para não ser visto como um vendedor de ilusões políticas. A única coerência, o único fator preponderante, no seu histórico de apoios políticos é o fato de estar ao lado de tucanos que costumam perder as eleições.
E alguns deles muito enrolados com a Justiça, como é o caso de Aécio Neves, alvo de delação premiada do empresário Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, que entregou uma gravação na qual Aécio lhe pede R$ 2 milhões para pagar a defesa dele na Operação Lava Jato.
O PSDB é um partido de centro-esquerda que protagoniza uma falsa polarização com o PT, de maneira a excluir verdadeiras alternativas políticas contra a hegemonia esquerdista.
Uma pena que, com tantas derrotas acumuladas, Malafaia ainda não tenha aprendido a sua lição e continue nos vendendo produtos que já chegam comprometidos.