O número de pessoas que passou a frequentar “cultos virtuais” durante a pandemia do coronavírus cresceu de forma avassaladora. Se o uso das redes sociais já era um fenômeno que impactava a Igreja de Cristo antes de 2020, após esse período, então, essa realidade se tornou inegável e até indissociável da vida religiosa.
Do ponto de vista psicológico, precisamos enxergar com ressalvas essa tendência, mas sem fazer julgamentos precipitados e condenatórios, uma vez que o risco de cometermos injustiças é grande, já que os mais conservadores tendem a rejeitar com afinco tudo o que parece provocar grandes mudanças repentinas, a exemplo das celebrações online.
A maior ressalva que precisamos fazer, tanto pela perspectiva psicológica quanto teológica, é sobre a importância do contato humano.
Apesar das redes sociais nos permitirem alcançar um público maior e muitas vezes impedido de se locomover ao templo físico, o culto virtual não deve ser um substituto do presencial, mas apenas uma alternativa diante de contextos específicos.
O contato físico humano é social, biológica e psicologicamente diferente do virtual. A troca de experiência entre indivíduos é maior quando também existe a troca de olhares, abraços e palavras dirigidas instantaneamente.
Em outros termos, nada substitui o poder acolhedor de um abraço sincero para quem precisa disso em um momento de angústia, por exemplo.
Da mesma forma, nada substitui a percepção de um olhar sofrido e palavras não ditas na expressão de um rosto cansado, o qual você dificilmente notaria com a mesma facilidade pela tela de um computador, da TV ou do celular.
Esse feeling humano é essencialmente presencial, e é por meio dele que conseguimos desenvolver o cuidado uns com os outros.
Por outro lado, as redes sociais são um campo extremamente fértil para produzir experiências iniciais de contato e conhecimento. É como uma infinita seara de possibilidades onde podemos deixar nela as sementes do evangelho, para que assim, ao frutificarem, possam produzir os frutos da experiência presencial.
Para que isso ocorra, a Igreja também precisa investir em projetos que possam converter o uso das redes sociais numa espécie de missão acolhedora e não apenas distribuidora de conteúdo, como parece ser a ênfase atual. Há pessoas que estão sedentas por atenção e uma palavra inicial de compreensão, mesmo online.
Algo que inicialmente parece apenas a solução de uma dúvida, pode ser o início de um diálogo evangelístico que terminará no gabinete pastoral, ou na sala de discipulado para novos convertidos. São possibilidades que, na geração atual, não podemos descartar, mas sim encarar como novos campos missionários.
Finalmente, se ainda há dúvida sobre como a Igreja deve encarar o fenômeno crescente das redes sociais como alternativa de vida e culto, a pergunta que podemos fazer, é: o que Jesus e os seus apóstolos fariam em nosso lugar?
Será que eles abririam mão da facilidade dos atuais meios de comunicação, a fim de comunicar o Evangelho? Ou será que, assim como fizeram uso das antigas cartas, explorariam da melhor forma possível os recursos disponíveis para alcançar o maior número de pessoas possível?
A solução está na resposta.