Hoje eu quero trazer uma perspectiva diferente para discutir o tema do aborto, considerando que este é um assunto em permanente debate e vez por outra vai parar em nosso polêmico Supremo Tribunal Federal.
A minha ênfase, aqui, será às consequências emocionais e psicológicas sobre a mulher após o aborto praticado intencionalmente, o que sem dúvida interessa a todos, incluindo a população cristã, uma vez que a questão religiosa está presente em muitos relatos envolvendo a problemática do assunto.
O vínculo mãe-bebê
A gravidez é um processo complexo que altera não apenas biologicamente o corpo da mulher, mas também emocionalmente, e uma coisa está estritamente relacionada à outra. Mesmo nos casos de uma gravidez indesejada, o que nós chamamos de vínculo mãe-bebê é criado.
Esse vínculo começa no momento em que a mulher descobre que está grávida. A rejeição do filho não elimina a existência do vínculo, o que ocorre nesses casos é a criação de um vínculo negativo, onde a rejeição se torna a essência do vínculo.
Ou seja, o vínculo está presente mesmo quando o desejo da mãe é abortar o filho, e quando esse aborto acontece, o vínculo pode continuar existindo por um longo tempo, talvez para o resto da vida. Isso acontece porque o envolvimento emocional no processo da gravidez é muito profundo, uma vez que a vida é gerada dentro da barriga da mãe.
É impossível a mulher separar suas emoções, lembranças e sentimentos dessa realidade, mesmo quando ela não é desejada. A lembrança vai lhe acompanhar para sempre e com ela todas as emoções envolvidas no procedimento, ainda que num primeiro momento seja a indiferença.
A polêmica ativista Sara Winter, que já foi uma das principais feministas do Brasil, chegou a falar um pouco da sua experiência quando ela mesma fez um aborto, orientada por feministas, dizendo o quanto sofreu e até hoje carrega as marcas emocionais dessa prática. Ela publicou o relato em seu site pessoal, veja um trecho abaixo:
“Hoje, ainda sonho com o aborto. Acordo gritando, sonho com pedaços de sangue saindo de mim, tento colocá-los de volta, mas eles não entram. Às vezes bate aquela dor pontiaguda no coração, um arrependimento que durará eternamente. Muitas mulheres cometem suicídio pós aborto, pois não conseguem lidar com a dor de assassinarem seu próprio bebê”.
O relato dela descreve exatamente o que vive milhares de mulheres que um dia pensaram poder abortar e nunca mais sentir os efeitos emocionais destrutivos do aborto sobre suas vidas.
Muitas acham que o trauma e o sofrimento serão apenas locais e temporários, focados no momento da prática, mas aí descobrem que não é bem assim, porque uma hora percebem que o que fizeram realmente foi o “assassinato” do próprio filho, e no estágio mais frágil da vida humana, quando mais precisavam de proteção e amor materno.
Estresse pós-traumático e depressão?
Na clínica psicológica já tive vários casos de mulheres que após um aborto desenvolveram problemas emocionais graves, como depressão maior, dependência química e até pensamentos suicidas. Grupos em defesa do aborto, como o movimento feminista e os partidos liberais em geral, alegam que essas consequências são provocadas pela repressão cultural da sociedade e pela carga moral que a religião produz.
No entanto, isso não corresponde à realidade e a intenção desse argumento é desviar o foco do problema em si, que são os efeitos psicológicos colaterais do aborto.
A religião, na verdade, é a que mais acolhe e consola mulheres que fizeram aborto. É em Deus que essas mulheres encontram o perdão e o alívio da culpa pela morte dos seus filhos. A mesma religião que condena o aborto, no caso o cristianismo, é também a que mais acolhe, perdoa e sara as feridas emocionais dessas mulheres.
Não são movimentos sociais que fazem isso! Não são feministas ou qualquer outra pessoa com discurso político que consolam essas mulheres e lidam com o trauma, a depressão e a angústia de viver para sempre com a marca do aborto em suas vidas. São homens e mulheres de Deus prontos para ouvir, compreender, abraçar e dizer que em Cristo elas podem ser perdoadas e seguir em frente.
A verdade é que a moralidade é comum ao ser humano. A “carga moral” existe mesmo quando o aborto é praticado por uma mulher que não possui crença religiosa alguma. Evidentemente, essa pessoa pode reagir de forma diferente, mas isso não retira dela o peso da sua decisão.
No entanto, quantas mulheres vivem uma realidade de completa isenção moral? Quantas não professam sua fé em Deus e sabem que a vida começa na fecundação?
A vida real é bem diferente do discurso ideológico dito em uma tribuna da Câmara, do Senado ou na Suprema Corte. A maioria das mulheres não apenas acreditam em Deus, como entendem perfeitamente o valor da vida humana que elas carregam no momento da gravidez, e isso é perfeitamente legítimo tanto do ponto de vista religioso, como antropológico, porque faz parte da constituição humana, sua essência e subjetividade.
A continuidade da gravidez e adoção voluntária
Quando colocamos na ponta do lápis às consequências emocionais e os riscos físicos envolvendo a prática do aborto, sem dúvida alguma a continuidade da gravidez, mesmo indesejada, é a melhor opção para a mulher.
Comparativamente, o tempo que essa mulher vai levar para dar à luz o filho, sabendo que ele nascerá sem que ela tenha sido responsável por qualquer dano à sua vida, é infinitamente menor do que o tempo que essa mulher levaria para tentar se recuperar dos traumas emocionais provocados pelo aborto. E o que fazer depois do parto?
Milhares de mulheres estão nesse exato momento sonhando com uma(a) filho(a). São mulheres que por inúmeros problemas e circunstâncias da vida não podem engravidar. Essas mulheres dariam, se possível, a própria vida para conseguir gerar um filho dentro do próprio ventre, mas por alguma razão não podem.
Definitivamente, não há nada mais coerente para quem verdadeiramente luta em prol dos direitos humanos, do que defender que a vida do ser humano mais frágil seja doada ao coração mais disposto a lhe amar, que é o de uma mãe adotiva. Como não enxergar isso?
Como nós, mulheres que dizemos lutar pelas mulheres, não defendemos a chance de outras mulheres terem seus filhos, podendo beneficiar outras duas vidas; a do bebê que seria morto e a da gestante que não deseja ser mãe?
Atualmente, no Brasil a mãe pode comunicar o seu desejo de doar o filho para adoção já durante a gestação. Sua responsabilidade será proteger a vida do bebê em seu ventre por apenas nove meses, a vida que será o amor de outras vidas.
Acreditem! Adoção voluntária é sem dúvida a melhor alternativa, e não o aborto. A gestante sairá do hospital de consciência tranquila por não ter autorizado a morte de uma vida. Dependendo do parto, se for normal, terá alta no mesmo dia e em poucas horas estará de volta à sua rotina. A mãe adotiva, por outro lado, terá o seu sonho realizado e o bebê, para glória de Deus, uma família que vai lhe amar e cuidar para sempre.