Por @RubensTeixeira
I – Além dos princípios cristãos, quais outros temas temos de defender?
Lembremo-nos das palavras de Jesus, citadas na parte 1 deste artigo, quando disse: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas”. Mateus 23:23. Vivemos em um país em que 90% dos moradores de comunidades pobres são negros e, coincidentemente, 90% dos presos são negros. Mais terrível ainda é que cerca de 40% dos presos no Brasil não têm sentença condenatória transitada em julgado, mesmo que o artigo 5o. da Constituição afirme que: “LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;”.
O Brasil está entre os países mais desiguais do mundo. Vemos miséria misturada com opulência nas grandes cidades. Nas igrejas, isso não é diferente, mas todos estão acostumados com a “paisagem”. Há excelentes hospitais e escolas no Brasil, basta ter dinheiro para pagar. Quem tem recursos é socorrido em aviões e helicópteros ambulâncias, mas quem não têm, vai de ônibus ou de carona para o hospital e, muitas vezes, morre antes do socorro. Algumas pessoas podem argumentar que “o problema não é nosso, é do governo ou de qualquer outra pessoa ou instituição”. Essa indiferença deveria nos envergonhar. O número de evangélicos cresce, mas o perfil da sociedade não muda tanto em função disso. Que tipo de contribuição temos dado para o juízo, a misericórdia e a fé?
A realidade é que quanto mais dispostos e preparados para os debates estivermos, mais credibilidade teremos e mais conseguiremos influenciar. Quem agride, ofende ou funciona como “black blocs”, agindo no anonimato, ou na pancadaria, não consegue mudar nada e nem influenciar ninguém. Discordando ou concordando com uma opinião, devemos estar abertos ao debate. Se formos surdos às opiniões alheias, serão surdos às nossas também. Mesmo que a força política dos que defendem ideias contrárias às nossas nos superem, temos que ter sobriedade, calma e preparo para continuar defendendo o que acreditamos sem cometermos excessos. Os apóstolos e a igreja primitiva enfrentaram os debates até onde puderam e foram até o fim neste espírito. Nós devemos copiá-los.
Quando saímos de casa, pegamos ônibus, trem, metrô, barca, barco, ou mesmo o carro para o trabalho, sofremos no trânsito, mas não conseguimos cobrar medidas sobre esse tema daqueles em quem votamos. Nosso filho vai para a escola e nós não somos capazes de defender que o professor ganha mal e que a escola pública que treina o nosso filho, o do parente ou o do amigo, para o futuro é mal aparelhada e estas crianças podem não ser tão competitivas no futuro e se prejudicarem. Somos socorridos em hospitais públicos, ou vemos amigos ou parentes sendo, mas não somos capazes de cobrar dos políticos que elegemos, e nos rodeiam, que exijam respeito ao que sofre por conta do descaso com os que dependem desses serviços.
Vemos drogas circulando, policiais matando e morrendo, meninos do tráfico e cidadãos que não são do tráfico também morrendo, compra e venda de votos em vários ambientes em épocas de eleições, em uma simbiose maldita que envolve políticos e eleitores, e tantas outras mazelas que vemos ou sabemos que existem, mas somos lenientes. Escolhemos mal os nossos representantes e depois pregamos de forma entusiasmada o apocalipse como se Deus tivesse alguma culpa das nossas escolhas.
Assistimos a líderes importantes atacarem parlamentares e partidos em uma eleição, por conta das suas posturas e pensamentos anticristãos, mas ‘paradoxalmente’ os apoia nas eleições seguintes, o que evidencia que esses líderes não têm ideologia, princípios ou qualquer outra coisa a defender: estão em defesa dos seus próprios interesses e seus seguidores são levados cegamente de um lado para o outro como um rebanho de inocentes úteis. Alguns se colocam como régua da fé e usam sua influência em prol de si mesmo, não defendendo nem mesmo os membros de suas igrejas que sofrem pelos corredores de hospitais, em creches e escolas desaparelhadas. Uma hipocrisia semelhante a daqueles fariseus que questionavam Jesus.
A questão é simples e direta: se não combatermos a desigualdade social, se não defendermos políticas econômicas que favoreçam o emprego, confrontando juros exageradamente altos, se não defendermos a melhoria da infraestrutura de transporte, de saúde e educação, vamos sempre ficar festejando a entrada e saída de pessoas do poder que poderão fazer o que interessa para os mais ricos e para si mesmos, mas deixarão de lado o juízo, a misericórdia e a fé.
II – Conclusão
Se você conhece algum partido que não mereça o seu voto, por qualquer que seja a razão, não vote nele. Se você conhece algum parlamentar ou candidato que não mereça seu voto, não vote nele. Você não precisa justificar seu voto para ninguém. Por outro lado, cuidado com os “bons partidos”. Jesus nos ensinou a termos cuidado com os: “que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores”. Mateus 7:15. Como nenhum partido é santo e nem religioso e quem deve pregar o Evangelho é a igreja, cuidado. Ouçamos o que Jesus disse: “Portanto, pelos seus frutos os conhecereis”. Mateus 7:20. Assim, sejamos prudentes e vejamos o que mais interessa para nosso bem estar, da sociedade e da igreja e vigiemos para não sermos massa de manobra de quem quer que seja. Deus nos deu livre arbítrio e só colocam coleira em nós se deixarmos. O Brasil, com suas riquezas e potencialidades, tem tudo para ser um país muito melhor, mas isso só acontecerá se nós o construirmos, como fizeram os povos das demais potências.
As Sagradas Escrituras nos ensinam a sermos moderados (Tito 3:2) e prudentes como as serpentes (Mateus 10:16). Vamos pregar o Evangelho, defender firmemente nossos princípios, mas cuidando para que façamos as melhores escolhas para a “casa” onde nascemos, vivemos e vamos deixar para nossos filhos e netos: nosso país, o Brasil, abençoado por Deus, que tem muitas riquezas e potencialidades: rico em recursos energéticos, água, alimentos, solo etc. Temos tudo para sermos potência, mas não chegaremos lá por acaso, só se a construirmos e Deus não fará isso, pois já nos deu os insumos necessários. Nós cristãos devemos defender firmemente nossos princípios, sem esquecermos do juízo, da misericórdia e da fé em Jesus Cristo que verdadeiramente nos faz amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos, mandamentos estes que Jesus disse, em Mateus 22: 37-40, depender toda a lei e os profetas.
A parte 1 deste artigo está neste link.