Leia, a seguir, nossa recente entrevista concedida ao jornalista Marcelo Santos, que assina reportagem a ser publicada na revista Show da Fé, meio de comunicação da Igreja Internacional da Graça de Deus. A nova edição (192) terá publicação ainda no mês de julho. Acompanhe.
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Revista Show da Fé. Como a adesão religiosa, em especial a adesão à fé evangélica, influencia na mudança de hábitos mais saudáveis ao novo convertido, em sua opinião?
Johnny Bernardo. A adesão religiosa é sim um fato significativo do ponto de vista de mudança de hábitos e atitudes. A religião é importante enquanto elemento de coesão social, de aglutinação de indivíduos em torno de príncipios tidos como “absolutos”. No entanto, nem toda religião ou prática religiosa caracteriza-se como um elemento saudável, no sentido em que influência de forma positiva seus discípulos ou praticantes. O fundamentalismo religioso, a visão distorcida da realidade, o isolacionismo são aspectos que não contribuem com o diálogo com o próximo, com o desenvolvimento de uma prática religiosa saudável. Não obstante alguns erros pontuais, a prática religiosa contribui de forma significativa com a mudança de certos distúrbios sociais, seja quando da disciplina, ou quando instrui seus membros a demonstrar compaixão e respeito com o próximo.
O senhor acredita que a fé evangélica torna as pessoas mais felizes? Por quê?
Há uma análise de que o movimento evangélico – e não somente brasileiro, mas também estadunidense e europeu – aos poucos perde sua capacidade de atração, de acolhimento de novos membros ou manutenção dos antigos. O crescimento trouxe consigo certo engessamento, uma acomodação religiosa que não mais corresponde com a sociedade mundializada, cada vez mais carente de uma prática religiosa participativa e acolhedora. É preocupante o dado – divulgado em 2010 pela OMS – de que “até 2020 a depressão será a doença mais incapacitante do mundo”. Portanto, temos uma situação crônica e que também atinge movimentos evangélicos. Nos EUA, maior país em número de evangélicos, aumenta o número de jovens que abandona a religião dos pais, enquanto outros aderem ao extremismo islâmico e a práticas brutais de assassinatos. Diante deste contexto, a Igreja precisa se reposicionar, rever sua comunicação e formas de atuação. Mesmo nos EUA, onde o Gallup/Healthway destaca que “os estadunidenses mais religiosos possuem melhores resultados no indíce de conduta saudável”, há uma crescente insatisfação com o modelo tradicional da Igreja, substituindo-o por reuniões informais, em academias de ginástica, escritórios de grandes corporações e até mesmo em bares. Não há um questionamento ao modelo de vida saudável, mas uma crítica ao denominacionalismo que, segundo eles, engessa a prática cristã.
Em outro artigo o senhor fala sobre os países escandinavos, nações que são referência de bem-estar social. Qual o papel da fé protestante na construção de nações com índices de desenvolvimento humano tão elevados?
Com relação aos países escandinavos, observamos um fenômeno não verificável nos Estados Unidos e no Brasil, ou seja, uma correlação de forças que atuam no sentido de aprimoramento do Estado de bem-estar social. Entende? Há um conjunto de fatores que faz com que o modelo de Estado seja um sucesso reconhecido internacionalmente, destaque em áreas como educação, saúde e seguridade que não vemos, por exemplo, em países como os EUA. Retrato de décadas de desigualdade nos EUA – tomando emprestado o título de um artigo de Marc Bassets (El País) -, a cidade de Baltimore é emblemática no sentido em que nos fornece um panorama da exclusão social.
O Apartheid ocorreu na África do Sul, mas bem que pode ser utilizado para sintetizar a divisão social de Baltimore, em que negros ocupam os quetos do bairro de Hollins Market, enquanto os brancos ocupam grandes mansões localizadas em ruas arborizadas de Roland Park. Curiosamente, o Estado de Maryland – do qual Baltimore faz parte – é composto por 83% de cristãos, dos quais 56% são protestantes, com destaque para batistas, que representam 18% de uma população de quase 6 milhões. Há um conservadorismo religioso americano que, como bem sabemos da história dos EUA, tem repercussão nos desdobramentos sociais dos últimos meses, como no caso da morte de Gray.
Na cerimônia religiosa realizada perto da prefeitura pouquissímos brancos foram vistos em meio à multidão que pedia justiça no caso de Freddie Gray. Nos países escandinavos, por outro lado, há uma coesão social que envolve governos e organizações religiosas. A Suécia, por exemplo, é um modelo dentre os Estados escandinavos onde a convivência e o respeito ao próximo é parte da cultura, do modo de relacionar-se com o outro. Há uma crescente proteção social que resulta, por exemplo, em melhores índices de segurança pública, e um fato emblemático foi o recente fechamento de quatro prisões e um centro de detenção por falta de prisioneiros, segundo o jornal “The Guardiam”. Neste sentido, a fé protestante escandinava é crucial nesta sintonia com a sociedade, por ser uma manifestação religiosa compreensiva e que não vê o Estado como o inimigo.