Quem assistiu esta semana o vídeo do ator Sérgio Hondjakoff, o “Cabeção” de Malhação, da TV Globo, transtornado devido ao efeito de drogas, ameaçando matar o próprio pai com uma barra de ferro, deve ter sentido um pouco o sentimento de desespero que os familiares de quem possui dependência química vivenciam.
Particularmente, fiquei profundamente angustiada, não só pelo “Cabeção”, mas principalmente por seus pais, em especial o Seu Francisco, que aparece na gravação caminhando lentamente, de costas, como quem está literalmente esgotado e abatido devido ao problema do filho.
Imagine você, pai ou mãe, estar diante de um filho que ameaça lhe matar com uma barra de ferro, porque não possui dinheiro para comprar drogas. A dor é indescritível! Seu Francisco não precisou dizer uma só palavra, nem mesmo mostrar o rosto, para a sua angústia mortal ficar evidente na gravação.
Essas situações, contudo, geralmente são frutos de um contexto muito complexo que envolve políticas públicas, cultura, família, escolhas pessoais e também a Igreja. Sim, a noiva de Cristo tem parte nisso, mas não como problema e sim solução.
Dependência de sentidos
Ao longo de décadas atuando no combate às drogas, posso afirmar com segurança que o grande sucesso das igrejas no tratamento da dependência química está na abordagem relacionada à fé. Isso é feito, basicamente, através das Comunidades Terapêuticas.
Os centros de tratamento mantidos pelas igrejas, como a Batista, que mantém a Cristolândia, um projeto de alcance nacional já reconhecido por seu excelente trabalho, se diferenciam das clínicas tradicionais exatamente pelo viés religioso e disciplinar.
Essa abordagem, diferente do que muitos imaginam, não é um fator impositivo, mas uma oferta alternativa ao dependente químico, que ao se deparar com uma compreensão diferenciada do mundo, baseada na fé, tem a oportunidade de construir um sentido de vida forte o bastante para resistir ao desejo pelo consumo das drogas.
Isso acontece, porque, muitas vezes o viciado em drogas é alguém que perdeu a sua razão de ser. Tudo o que ele enxerga gira entorno do vício. Emprego, estudo ou parentes, nada é suficiente para motivar a “vida sem graça” e “vazia” que esta pessoa acredita ter, onde o entorpecente exerce o papel ilusório de suprir essa e outras faltas.
Quando a Igreja oferece um tipo de tratamento baseado na fé em Deus, por outro lado, sendo algo digno de compreensão, aceitação e superação, é como se um novo horizonte fosse traçado na mente do dependente químico, pois o seu olhar sobre a vida tende a mudar de forma radical.
Os problemas familiares, profissionais, cultuais e até sexuais, muitos dos quais foram responsáveis pelo ingresso na dependência química, passam a ser trabalhados sob outra perspectiva, que não é a terrena, mas sim espiritual. O viciado compreende a natureza do seu vício, mas também o que ele precisa fazer para vencê-lo em todos os aspectos.
Aspectos esses que normalmente não são abordados numa clínica de reabilitação comum, onde o enfoque costuma ser no controle da abstinência, seus efeitos e sequelas, mas não na fenomenologia do vício, o que envolve a vida do dependente como um todo.
Conclusão
É lamentável que por muitos anos e até hoje, aqui no Brasil, as comunidades terapêuticas mantidas pelas igrejas tenham sido combatidas. Os governos esquerdistas, principalmente, agiram de forma feroz contra esses projetos, os acusando de violar direitos humanos e de fazer proselitismo religioso.
A grande verdade, porém, é que a Igreja tem feito um excelente trabalho na luta contra a dependência química, através dessas comunidades. Se quisermos evitar situações como essa do Cabeção, precisamos investir muito mais na parceria do Estado com as instituições religiosas, algo que já vem sendo feito neste governo.
Se fazer proselitismo religioso significa salvar a vida do dependente químico, reestruturar a sua família e tirá-lo das ruas, então que isto seja feito hoje, amanhã e pelo tempo que for preciso. Não é uma luta fácil, mas sem dúvida este pode ser o melhor caminho.