O lance é tão profundo quanto complexo. Caberia um ensaio de várias páginas e até, quem sabe, uma tese de conclusão de curso teológico.Resultado da luta entre a razão e a espiritualidade, o tema frutifica no fecundo campo de guerra entre carnal e espiritual, onde todos nós vivemos em constante choque.
Como seres pensantes e ao mesmo tempo espirituais, devemos buscar o consenso interior, entre as duas dimensões. Pessoalmente, tem vezes que sinto Deus tão inatingível, que me resigno na insignificância humana, sentindo-me irremediavelmente pecador, imperdoável e condenado.
Mas é justamente nesses momentos em que sinto as forças se esvaindo e a esperança se esgotando, que me lembro das experiências que já vivi. A salvação que me alcançou, os muitos livramentos de morte, as desgraças das quais fui poupado…
Vejo, então, que de alguma forma inexplicável fui guardado, escolhido, pinçado pelo dedo de Deus no meio de um monte de coisas podres de vi e vivi.
Relembro o filho pródigo, as pessoas que viram e ouviram Jesus, que entraram numa igreja qualquer e de alguma maneira foram transformadas. Os milhões de ladrões, prostitutas, assassinos, pecadores moralmente arrasados, socialmente marginalizados, que encontraram um colo afetuoso e um par de braços abertos prontos para o acolhimento do amor.
Algo aconteceu na vida deles e eu já senti isso em minha vida!
É então, quando vejo que sim, Ele se importa comigo. Mesmo que em muitos momentos as aflições me cerquem e a esperança se enfraqueça, sei que Ele se importa comigo.
Esta é a síntese de Jesus: a humanização do divino, a identificação do Deus sublime com a fraqueza dos homens caídos, a graça que cobre o vexame e triunfa sobre a implacável lei do karma.