Todos os que de alguma forma compreendem um chamado de Deus para servir o corpo de seu filho na terra estão em constante busca por intimidade espiritual com as revelações de sua Palavra.
Os anos vão passando, gerações vêm e vão e ela (a Palavra) ainda está aí, firme, sólida e apta para ensinar, repreender, corrigir e instruir em justiça, conforme Paulo falou ao discípulo Timóteo, em uma das cartas que lhe dirigiu (II Timóteo 3:16).
Os tempos se modernizam, tendências novas se aproximam e seguimos num intenso desafio de nos manter sólidos, sem, contudo, nos engessar.
Como será possível sermos modernos sem abrir mão de tradições e princípios inegociáveis?
Grande é a luta para se viver numa dimensão espiritual altaneira, sonhando com realizações e reformas práticas relevantes para a transformação da história da igreja, estando ao mesmo tempo ancorados numa rocha firme.
Dia desses, ao escrever o editorial para uma revista, cuja edição trazia o perfil de alguns homens que realizaram grandes obras para a história recente do cristianismo evangélico do Brasil, deparei-me com visões que chacoalharam nossa nação no passado. Pude observar que as realizações desses grandes vultos da história contrastam muito com as visões de igreja projetadas para o futuro.
Para um jornalista, transformar o passado em algo relevante e interessante para os leitores do presente é um desafio excitante. Para um pregador ou pastor, os quais extraem basicamente tudo o que falam de um livro de tradições de um remoto passado, tornar seus conteúdos atuais e aplicáveis aos cristãos de nossos dias, sendo relevante diante de um mundo em constante transformação, é um desafio ainda maior.
A verdade é que o presente é o elo entre o que já foi e o que pode ser. Tudo está conectado ao hoje, ao agora, ao já. Olhar pro passado, estudá-lo, aprender com seus erros e acertos, ouvir a voz de seus mártires e mestres, pode promover no hoje a transformação que almejamos para o amanhã.
No entanto, esse mesmo olhar deve estar isento de tradicionalismos, que são leituras defeituosas da história. Sobre isto, gosto sempre de citar o professor americano Jaroslav Pelikan, escritor de diversos volumes sobre a tradição cristã e que soube diferenciar muito bem os dois conceitos, “tradição e tradicionalismo” declarando: “tradição é a fé viva dos que já morreram e tradicionalismo é a fé morta dos que ainda vivem”.
Tradição, em sua semântica, significa “entregar, transmitir” e, numa acepção religiosa, expressa a transmissão das práticas e dos valores espirituais de uma geração para a outra. Naturalmente, fazemos uso das tradições para que possamos solidificar através dos tempos conceitos, experiências e práticas nas quais acreditamos. Diferente do tradicionalismo, que é uma tendência de supervalorização da tradição (um ato que por vezes nos conduz à hipocrisia).
O apóstolo Paulo, costumava convocar seus discípulos a serem seus imitadores e, imitar ao apóstolo Paulo, parece ser uma boa tradição.
Meu convite é que cada um de nós decida por si no presente, a quem do passado vamos nos espelhar, a fim de que possamos definir qual o futuro de igreja iremos produzir com nossas vidas.