A dessensibilização humana diante dos absurdos, isto é, o processo em que nos tornamos insensíveis a ponto de não nos sentimos chocados ao vermos coisas abjetas, como uma cena de pedofilia, violência ou qualquer outra atrocidade, já é uma triste realidade em nossa sociedade.
Não posso dizer que a sociedade como um todo está dessensibilizada, mas que uma boa parte dela, sim. Conteúdos que deveriam causar repulsa e revolta na consciência de qualquer pessoa moralmente sadia, atualmente já não estão mais produzindo os mesmos efeitos.
Em vez disso, o comportamento mais comum que tenho notado é a evitação. É a tendência de se ignorar os absurdos, a fim de não precisar lidar com ele, como se isso resolvesse alguma coisa, o que é falso. Quanto mais ignoramos o mal, mais contribuímos para que ele se torne comum ao nosso redor.
O debate sobre a cena polêmica do filme Como se Tornar o Pior Aluno da Escola, do apresentador Danilo Gentili, vem servindo de exemplo sobre essa dessensibilização social.
Apesar de muitos terem expressado sensação de repulsa e indignação, várias pessoas também minimizaram a gravidade das cenas, buscando justificar a sua existência com base em outros conteúdos semelhantes, onde cenas de violência e exploração sexual são exibidas em filmes, novelas e etc.
Na realidade, o que essas pessoas estão dizendo é que um erro pode ser justificado por causa de outros erros, e que por isso deveríamos ignorá-lo. Acontece que nem mesmo uma interpretação correta envolvendo a crítica das cenas do filme vem sendo feita.
A minha crítica, por exemplo, não diz respeito a exibição de um personagem pedófilo tentando abusar de adolescentes em um filme. Ela diz respeito ao modo como esse personagem foi retratado, que não foi o de um criminoso, perigoso e condenável, digno de prisão, mas sim o de uma figura cômica capaz de fazer piada e agradar em troca de favores.
Quando parte da sociedade não percebe essa malícia contida nas cenas, no modo como a figura do pedófilo é retratada, isso revela uma série de coisas como negligência, ignorância quanto ao tema e gravidade da pedofilia, assim como a própria dessensibilização diante do absurdo.
Não é por acaso que a sexualização precoce de crianças em filmes e desenhos tem se tornado mais comum, pois ela reflete a visão complacente de uma sociedade onde os absurdos estão deixando de chocar o senso comum. Precisamos reverter isso o quanto antes, pois tem a ver com o futuro dos nossos filhos e netos.
No mais, a Igreja de Cristo tem um papel fundamental nesse contexto, pois os valores do cristianismo são o maior e mais importante escudo contra a decadência moral da sociedade. Devemos seguir alertando e combatendo, incansavelmente, mostrando o ideal de Deus para o ser humano em todas as esferas sociais, pois isso também é parte do dever cristão.