Creio que já escrevi sobre o voto cristão em alguns dos meus artigos ao longo dos anos, mas a sua importância é tão grande que precisamos reforça-lo, especialmente em ano eleitoral, tendo em vista que muitos irmãos compreendem de forma errada a responsabilidade que possuem sobre o voto.
O maior erro na relação do cristão com a política é a noção equivocada sobre o papel da Igreja no Estado. Considerando que a Igreja somos nós, o corpo vivo do Senhor, precisamos ter em mente que o nosso envolvimento nas decisões que definem o futuro do país, também diz respeito ao que entendemos por valores cristãos.
Quando o cristão não compreende isso, ele acha que o voto eleitoral não deve refletir os valores da sua fé, pois acredita numa concepção equivocada de “Estado laico”. O mesmo acontece com alguns políticos declarados cristãos; eles não assumem, na esfera política, a responsabilidade do que são como parte da Igreja de Cristo.
É o tipo de político, por exemplo, que no púlpito ou no debate eleitoral se diz contra o aborto, mas na hora de avaliar uma proposta parlamentar que visa legalizar a morte de bebês no útero materno, alega que não pode interferir porque “o Estado é laico”, cabendo à “maioria do povo” decidir.
Na prática, essa postura é nada mais do que uma forma de não assumir a responsabilidade moral pela fé que carrega, bem como a representatividade que possui diante dos eleitores que confiaram nessa pessoa o dever de refletir os valores de Cristo. O político “cristão” que pensa e age dessa maneira, portanto, não passa de um covarde que ama mais o mundo do que a Deus.
Acertando o alvo
O Estado laico não diz respeito aos valores que carregamos na “ponta do voto”, quer seja do eleitor ou do parlamentar que precisa julgar viável ou não um Projeto de Lei, mas sim às políticas públicas aplicadas em nível federal, estadual e municipal por parte dos seus respectivos executivos.
Em outras palavras, o conceito correto de laicidade estatal diz respeito apenas ao poder público, e não às decisões e pautas que pessoas como eu e você adotamos. Uma vez que a forma como nos posicionamos reflete quem somos, esse posicionamento pode ser motivado por princípios religiosos ou não.
Cabe ao poder público apenas garantir que todos tenham o mesmo direito de se posicionar e defender o que acreditam, livre e respeitosamente. Este é o verdadeiro e correto conceito de Estado laico.
Como cidadãos, portanto, sobretudo cristãos, temos o dever de tomar decisões baseadas em critérios compatíveis com os princípios e valores que norteiam a nossa fé. É aqui onde se torna impossível dissociar o que somos, como seguidores de Jesus, do voto nas urnas eletrônicas.
Isto significa que não é possível votar em político que é a favor do aborto, da ideologia de gênero, legalização das drogas, da união homoafetiva e de tantas outras pautas que contrariam os princípios da genuína fé cristã, pois toda ela afeta a sociedade como um todo, e por muitas gerações.
Não importa o que o Estado poderá decidir sobre esses temas neste ou em outros governos, pois o mais importante é a decisão que tomamos sobre o voto que poderá eleger políticos alinhados ou não com essas pautas. Como cristãos, essa é a nossa grande responsabilidade, primeiramente aos olhos de Deus, e também aos da Igreja.