O texto abaixo é uma resposta à infeliz declaração do governador do Rio de Janeiro, Luiz Pezão, por ter citado em um evento do PMDB a frase: ‘pastor de R$ 1,99 de rede de televisão’.
1) Aos religiosos que apoiaram ou apoiam o governador
Aos religiosos, tenho pouco a dizer. Em homenagem aos honestos, que Deus sabe quem são, peço aos demais religiosos que apoiaram o governador Pezão que dêem uma declaração que contenha as ideias a seguir: “Senhor governador, se V.Exa comprou algum religioso, se pagou algo por apoio político, ou se alguém o exigiu isso, denuncie-os a Polícia Federal ou ao Ministério Público, mas não insinue que eu e meus companheiros temos algum valor financeiro, ou alto ou baixo. Não lhe pedi e nem recebi nada. Não estive e nem estou à venda. Rechaço a sua declaração e afirmo que nem eu nem meus liderados nos vendemos para quem quer que seja. E se alguém se vendeu, denuncie-os. Exijo de V. Exa. uma retratação pública aos pastores e aos evangélicos e que isso jamais se repita.”
Seria ótimo que algum líder evangélico que lidera outros fizesse esta declaração, ou outra análoga, por escrito, e convidasse todos os líderes de denominações, ou de expressão no meio evangélico, para que assinassem e fossem entregar ao governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão. Ficaria bonito que os religiosos que o apoiaram fossem os primeiros a assinar. Se os líderes fizerem isso, acompanhados dos demais, os liderados e os membros de um modo geral se sentirão aliviados e seguros de que não há lobo no meio do rebanho, muito menos conduzindo as ovelhas. Isso é suficiente. Aos líderes religiosos, só isso que tenho a dizer.
2) Ao governador Pezão do Estado do Rio de Janeiro
Fiquei perplexo com a declaração do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, que, a meu ver, pisou com força nos pastores ao deixar claro que, na visão dele, há pastores de R$ 1,99. Deveria dar nome aos tais e evitar esta generalização desastrada. Que há políticos de milhões e bilhões apoiados por alguns líderes religiosos, já se sabe, mas até então nunca se veio à público a ideia de que político atribuía valores financeiros a líderes religiosos. A declaração sugere que pode existir uma tabela e, se existir, não me surpreenderia. Mas os que nada valem, talvez por serem honestos ou não liderarem grandes grupos, não merecem ser atacados por conta de atitudes dos tabelados. De fato, os que mais valem são os que não se vendem. Um conceito contrário ao ambiente da corrupção. Não sei se isso é claro na visão de um político corrupto.
Já fica o alerta à classe de corruptos, seja de políticos ou religiosos diversos, que se alguém vende ou compra apoio político é igualmente criminoso e merece ser preso, mas primeiro os ligados à religião, depois os políticos.
Governador, não consigo me referir a “padres de 1,99”, não consigo desrespeitar idosos. Não consigo falar de médicos de 1,99 e de outras categorias de profissionais ou líderes. Isso por duas razões: meus pais me ensinaram o respeito e os padres, idosos e médicos que conheço, em sua maioria, não me dão o direito de fazer este tipo de citação genérica às suas categorias. Não sei se o senhor conhece, mas há muitos pastores honestos que não se vendem por nada. Eles não costumam ficar perto do poder, eles atuam aonde o estado abandona as pessoas. Se o senhor frequentasse os corredores de hospitais, comunidades carentes, centros de recuperação seu referencial de pastores seria outro.
Se na sua opinião pastores podem ser tratados desta maneira vexatória, é porque sua referência de pastores é péssima. Os líderes do seu relacionamento podem sugerir que seus pares têm seu preço estimado e podem ser tratados desta maneira de forma pública. Eu me envergonharia se fosse um pastor do seu relacionamento. Sentir-me-ía culpado por sua declaração.
Mas fica um esclarecimento. Se alguém recebeu de algum político qualquer valor para apoiá-lo e afirmou que teria um número “x” de votos e, dividindo-se o valor por votos daria 1,99, ou qualquer outro valor, é bom que se saiba que corrupto é quem se vendeu. Não generalize. Se algum político dá dinheiro para pastor em troca de apoio, o valor pago criminosamente corresponde à reputação de quem aceitou ou do grupo que aceitou. Os demais sequer ficam sabendo disso. Não generalize.
Conforme vem sendo veiculado pela imprensa, seu nome foi citado na Operação Lava-Jato e tem muitos processos por conta de atos associados à sua vida pública, mas isso não dá direito a qualquer cidadão de generalizar comprometendo todo o seu partido. Na verdade, fico na torcida que as investigações e os processos demonstrem que o senhor é inocente. É muito ruim ver um governador sendo condenado. Mesmo com muitos processos, houve pastores no seu horário eleitoral pedindo votos para o senhor de forma entusiasmada, como pediram para seu antecessor. Outros não foram para o horário eleitoral mas foram fiéis cabos eleitorais. Essa sua declaração deve tê-los deixado muito constrangidos. Imagina! Que constrangimento perante suas igrejas e a opinião pública!
Na minha avaliação, se escolher o partido com mais pessoas corretas, e a igreja com mais pessoas corruptas, proporcionalmente, a igreja com mais levianos ainda terá muito menos criminosos que o partido mais correto. Por isso, peço ao senhor que contenha suas declarações e restrinja-se a referir-se aos seus aliados ou ex-aliados que fazem ou fizeram parte da sua mesa. A maioria esmagadora não faz. Talvez por isso não tenham hospitais decentes, escolas decentes, saneamento, água, segurança e todos os serviços que deveriam ter acesso com dignidade.
Se há alguma diferença política sua com políticos ligados a alguma igreja, resolva sua diferença sem generalizar a todos os pastores desta igreja. Tem gente que não tem nada a ver com suas diferenças políticas e está pelas ruas socorrendo e ajudando pessoas abandonadas por seu governo. Resolva como se espera de alguém equilibrado: de forma direta e com o responsável. Sua generalização mostrou falta de respeito e senso de justiça. Quem atinge inocentes, em todo mundo, não é bem visto, nem se a alegação é fazer justiça ou vingar algo.
Não sei a lista de honestos ou desonestos do seu partido, mas sei que Pedro Simon é de lá. Por isso não posso dizer que os políticos do seu partido são políticos das empreiteiras e dos desvios. Se tiver muitos corruptos por lá, certamente há um Pedro Simon que não é, juntamente com outros que deve haver. Se o senhor se aproximar dos pastores honestos, de várias igrejas, terá vergonha de repetir o que disse. Honesto é honesto em qualquer lugar, mesmo se estiver rodeado de desonestos. Desonesto é desonesto em qualquer lugar, mesmo se estiver rodeado de honestos.
Governador, mesmo com sua truculência, isso ainda é de menos. Pastor que verdadeiramente prega o evangelho é acostumado com agressões. Quanto a isso, os verdadeiros pastores, que cumprem seus ministérios, antes de sofrer por conta dessas suas palavras, já foram avisados pelo Mestre Jesus Cristo. Esses, governador, são bem aventurados. Jesus disse para eles: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa”. Mateus 5:11 “. Mas Jesus também tem uma mensagem para todos os corruptos: “Quem é injusto, seja injusto ainda; e quem é sujo, seje-se ainda; e quem é justo, seja justificado ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. Apocalipse 22:11”.
Assisti um líder religioso no horário eleitoral de sua campanha referindo-se de forma desrespeitosa a uma certa denominação. Daí o senhor parece estar seguindo o exemplo dele. Mas vai uma sugestão ao senhor: não vá nessa linha que não dá certo. Acerte as contas politicamente com quem o senhor quiser, mas deixa a igreja de fora disso. Mesmo que seus líderes tenham envolvimento político, seus membros são inocentes e se constrangem profundamente. Não sei se o senhor acredita, mas com relação a isso, o senhor está mexendo com pessoas sinceras e isso não dá certo, nem para o senhor, pior ainda para alguém que se diz também pastor.
Por outro lado, o melhor que o senhor pode fazer é mostrar que as acusações que fazem contra o senhor ou seus aliados não são verdadeiras. Isso envergonharia os acusadores. Mas se o senhor não se explicar, se irritar e partir para a guerra pessoal a coisa fica esquisita. Além de tudo isso, há pessoas morrendo nos corredores de hospitais e são tratadas com total indignidade. Há crianças que estudam em escolas desaparelhadas e chegam ao fim do ensino médio levando uma pancada dura em seus sonhos quando fazem o ENEM. Há uma violência desenfreada no Estado do Rio de Janeiro onde morre-se policiais e cidadãos e são necessárias medidas efetivas. O Rio de Janeiro tem a fama de ser um Estado violento. Falta água na Baixada Fluminense, perto do Guandu, a maior adutora do mundo. Muita gente sem saneamento básico. Enfim. Há uma multidão de problemas que deveriam ocupar o seu tempo. O senhor precisa ter compaixão do povo para que os sofridos não sejam tratados como pessoas de pouco valor. Se estão lhe acusando levianamente, mostra que os acusadores estão mentindo e convoque-os para que mostrem os bons resultados do seu trabalho.
Governador, entendo que certamente haja rapinagens no meio evangélico, mas não escaparão ao juízo de Deus, conforme diz a Bíblia, mas há também uma maioria anônima e honesta de pastores que o senhor não conhece. Portanto, não ponha na conta da maioria honesta a rapinagem dos líderes que fazem acordos corruptos com políticos. Os sinceros não são bobos. A Bíblia diz: “Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que, porquanto as minhas ovelhas foram entregues à rapina, e as minhas ovelhas vieram a servir de pasto a todas as feras do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não procuraram as minhas ovelhas; e os pastores apascentaram a si mesmos, e não apascentaram as minhas ovelhas; Ezequiel 34:8”. Não se preocupe que os que leem a Bíblia não se enganam facilmente. Os malandros e corruptos da fé que perderam o temor a Deus, juntamente com quem despreza inocentes e carentes, não perdem por esperar. A maioria que é honesta e abandonada pelo poder público nada tem a ver com isso. Respeite-a, por favor. Chama pelo nome e classifica da forma que o senhor quiser apenas os que se sentaram à sua mesa.
Conclusão
O povo brasileiro está exausto e quer respostas para duas perguntas: 1) Onde está o ladrão? 2) Cadê o dinheiro? A associação de pastores a valores tão irrisórios realmente é o fundo do poço. Os cristãos honestos não merecem pagar por isso. O silêncio de entusiasmados líderes que se colocam como representantes de evangélicos está constrangendo os cristãos verdadeiros que achavam que seus “porta-vozes” de fato se posicionariam contra a corrupção ou insinuações como esta do governador do Rio de Janeiro. Há líderes e políticos cristãos mais fiéis aos seus aliados corruptos do que os próprios partidos dos enlameados. Realmente muita coisa está vindo à tona e é bom que venha mesmo. Espero que o povo aprenda e não se permita ser enganado por corruptos, inclusive pastores, e seus convidados que sobem em púlpitos.