Não existem estatísticas propriamente formuladas, ainda. Mas numa breve conversa com dirigentes de agências missionárias denominacionais ou inter denominacionais percebe-se que a tradição de preparo, envio e sustento do missionário transcultural no campo, continua pertencendo em sua grande maioria às igrejas de tradição histórica. Até mesmo numa simples conversa entre os obreiros, seja em congressos ou encontros, constata-se que a minoria recebe recursos de igrejas neo pentecostais ou as que são adeptas da Teologia da Prosperidade. Isto não acontece só no Brasil. Na América do Norte e na Coréia do Sul, os que ainda mais enviam recursos e missionários pelo mundo, continuam sendo os de tradição histórica – entre eles, os Presbiterianos e Batistas.
Bilhões todos os anos
Se juntássemos as fortunas pessoais dos maiores ministérios midiáticos do Brasil, (fortuna esta que já foi catalogada até pela respeitada Revista Forbes), perceberíamos o tamanho do poder econômico que hoje representa a grande maioria dos evangélicos em nossa nação. Lembre-se de que as fortunas feitas em nome destes ministérios (e em Nome de Deus) consistem em “ofertas, dízimos, trízimos, “quadrízimos”, campanhas, venda de sabonetes ungidos, arrudas, sal grosso e sal fino, sócios mantenedores, sócios “evangelizadores”, meias, fronhas ungidas e óleo de cozinha reciclado (o tal óleo santo). Na verdade, o produto varia de acordo com a criatividade e o desespero dos “pastores” para cumprir metas de arrecadação. Já as finalidades desta arrecadação são quase as mesmas: Mansões em Miami, empresas multimilionárias, carros importados e blindados, seguranças, jatos particulares, propriedades rurais, milhares de cabeça de gado e as eternas dívidas dos canais de comunicação (entre estes até aqueles de “entretenimento Gospel). Em muitos casos, aluguéis de “templos” e salários de “pastores” vivem em constante atraso. Hoje, muitos destes ex “pastores” enchem a internet com relatos de abuso emocional e ganância dos seus líderes.
Abrir célula é fazer missões?
Há alguns anos atrás, um pastor me disse: Não invisto no trabalho entre muçulmanos pois não existe retorno. E realmente o retorno que ele procurava não existia mesmo. O maior bem que procede do fruto do trabalho do campo transcultural são as vidas, mesmo que sejam uma só. Porém, para entender isto, é necessário ter o coração de Deus. O que hoje não se vê muito por aí. Como este pastor, existem muitos que resumem sua atuação missionária na abertura de células em cidades ou bairros diferentes. Outros, que não concordam com a visão celular, mantém sua prioridade na construção do templo e no crescimento do ministério local. Destes, poucos são os envolvidos com projetos de alcance através de obras sociais. Estas igrejas, em geral, ainda tem muito “preconceito” e preguiça para se envolver com os necessitados.
Missionárias ou pastoras?
Em muitas igrejas de tradição pentecostal, não existe um lugar definido para a mulher na liderança. Muitas que se consideram pastoras, são chamadas de “missionárias”, mesmo que nunca tenham sido enviadas para um lugar não alcançado desenvolver uma estratégia de alcance evangelístico ou que não possuam o chamado missionário. Na verdade, são “pregadoras fogo puro”, cuja mensagem resume-se as campanhas de libertação, cura e vitória e muitas vezes “muita gritaria”. Mas há quem goste. De fato, muitas delas possuem meu respeito, pois tem um chamado ministerial genuíno apesar de enfrentarem dificuldades para definir seu espaço de trabalho. Umas são intercessoras, outras possuem dons de misericórdia e mesmo sem apoio formal da igreja, sobem ladeiras e favelas (como eu também já fiz muitas vezes no Rio de Janeiro) e enfrentam dificuldades para levar a Palavra de Deus.
A missão transcultural
O missionário é aquele que recebe uma missão, é preparado, enviado e capacitado para cumprir uma gloriosa missão nos confins da terra. Não é uma tarefa fácil e exige um grande investimento. Eu mesma, para chegar ao Oriente precisei me preparar durante 7 anos (para o aprendizado de línguas, capacitação teológica e missiológica). Missionários que trabalham com tradução de Bíblia entre os indígenas por exemplo, gastam muito mais tempo do que eu. Muitos cursam o mestrado, doutorado em línguas bíblicas além da formação linguística necessária para realizar esta maravilhosa e demorada tarefa. Mas para líderes que anseiam pelo crescimento (financeiro), aqui & agora, estas coisas não interessam.
Teologia da Prosperidade X Missões
A relação entre a teologia da prosperidade e a obra missionária transcultural é quase nula. Ela quase não existe. Tais igrejas continuam investindo milhões e milhões anualmente no seu bem estar. E para outras, obras sociais existem apenas para limpar consciência (quando não para lavar dinheiro). Geralmente, conferências missionárias são eventos de cura e libertação, de pregações de prosperidade onde nada se ouve sobre a Missão. Há ainda aqueles que fazem uma viagem ao exterior (nem vou comentar sobre os hotéis e programas) e já se autodenominam missionários. Na verdade, para estas igrejas há muita confusão pelo que entendem ser a atividade missionária. Mas calma, pois é certo que não podemos generalizar. Há aquelas que adotam e sustentam fielmente projetos missionários. Estas, porém, não representam a grande maioria.
Missionários cheios do Espírito Santo
Eu pertenço a uma denominação que é em si histórica, mas que recebeu na década de 60 o chamado movimento de renovação do Espiritual. Cremos nos dons do Espírito e na sua manifestação. No entanto, percebo que no campo missionário esta divisão denominacional é quase imperceptível. No campo (pelo menos no meu caso no Oriente Médio), temos o grande privilégio de trabalhar com diferentes denominações que não estão preocupados em defender “Calvino ou Armínio”. Na verdade, quando nos reunimos, oramos, clamamos, choramos e não temos tempo para pensar nestas “calouradas”. Foi assim que o Senhor nos sustentou e nos abençoou durante tantos anos. Mas aqui no Brasil, enquanto a igreja cresce, a divisão aumenta.
Os Pentecostais e a Missão
Algumas das maiores denominações pentecostais hoje possuem secretarias de Missão e um número considerável de missionários no campo. Todavia, ainda é um número pouco expressivo se comparado com a quantidade de templos, investimentos e especialmente de pessoas em seu rol de membros. A porcentagem assusta. Isto não quer dizer, contudo, que não existam esforços.
Brasil: Celeiro de Missões adormecido ou ganancioso?
É preciso lembrar de que o Brasil já foi considerando um potencial missionário, o futuro celeiro de missões para o mundo. E isto, por diferentes razões. É com pesar que informo que isto não parece se tornar realidade, pelo menos não na minha geração. E para isto mudar, muita esforço será necessário.
Para mim a Igreja caminha para cumprir um caminho profético descrito nas escrituras, onde o amor de muitos se esfria a cada dia e a apostasia se instala em suas diferentes formas. Mesmo assim, alguns se levantarão para continuar cumprindo o Ide do Senhor entre todas (e sem exceção) nações da terra.