“Levantando os olhos, viu diante de si um homem de pé, com uma espada desembainhada na mão. Josué foi contra ele: És dos nossos, disse ele, ou dos nossos inimigos? Ele respondeu: Não; venho como chefe do exército do Senhor”. Josué 5:13-14.
Esta palavra acima eu ouvi certa vez dos lábios de um querido pastor do Rio Grande do Su – meu amigo Enoque – e confesso que fiquei bastante impressionado e até os dias de hoje, ela tem me ajudado a desenvolver novas perspectivas sobre o relacionamento de Deus com os institutos humanos.
Não é uma surpresa!? Josué, líder máximo da Nação Eleita, se depara com um enviado de Deus que diz não estar do lado nem de Israel, nem de seus inimigos. O que isso significa? Seria uma base para pensarmos acerca de uma neutralidade de Deus com relação às instituições?
Eu sempre desconfiei que Deus não se submeteria a partidos que se formam sob seu signo, ou mesmo a ideais e movimentos que levam seu nome, ou que estejam baseados nos escritos bíblicos. Deus não é um refém de Bíblia, não foi refém de Israel e também não é refém da igreja cristã, em nenhuma das suas milhares de ramificações.
Deus é Deus!
Vimos na história, desde tempos remotos até recentemente, exércitos lutarem carregando a bandeira de Deus, ou do cristianismo. Numa guerra, toda força é bem vinda, sobretudo, se pudermos dizer pros soldados que o Criador de todas as coisas está ao seu lado.
Observou-se a igreja evangélica brasileira marchando sob hinos de guerra, bradando essa convicção durante décadas. Atravessando diversos movimentos, em vários momentos, evangélicos do Brasil convenceram-se de que nada pode detê-los, pois Deus está ao seu lado.
Hoje, mais que em qualquer outro momento, os resultados expressivos dessa igreja demonstram um quadro de total sucesso desse grupo. Pequenas igrejas são fundadas sobre alguma visão e, algumas delas, se tornam em pouco tempo grandes impérios eclesiásticos, que chegam a incluir a posse de meios de comunicação, aviões, gravadoras etc.
Mais do que nunca, alguns podem estar convictos e dizer: “Deus está do lado da igreja!”, no entanto, não são resultados, vitórias, conquistas, números positivos, espaços maiores na TV, eleição de políticos e arrecadações volumosas que demonstram o favor de Deus.
Afinal, ao lado de quem está Deus, segundo pode-se interpretar pela Bíblia?
O Salmo 34:18 diz que “o SENHOR está perto dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito” e Isaías 57:15 diz: “Pois assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo: “Habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito”.
Em contraste, observa-se que a Bíblia dá base para o entendimento de que os soberbos são rejeitados por Deus. Ao menos, três textos declaram esse princípio abertamente, veja:
Se ele escarnece dos zombadores, concede a graça aos humildes.
Provérbios 3:34; Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a Escritura: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” Tiago 4:6 e “Sejam todos humildes uns para com os outros, porque ‘Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes’”. I Pedro 5:5.
Em todos esse textos, o que vejo é um detalhe muito claro pra mim: Deus está olhando diretamente pra indivíduos e não pra coletivos
Por fim, é patente que Josué tinha tudo pra crer na total “fidelidade” de Deus com relação ao seu exército. Todas as provas do passado estavam ao lado dele e de seu povo. Moisés era um grande homem de Deus e havia lhe deixado um legado e uma bênção pública. No entanto, o Anjo de Deus vem e lhe diz: “eu não estou nem do seu lado, nem do lado dos seus inimigos”.
Acredito que o favor de Deus está esteja entre os humildes, os abalados, os pobres, os carentes e que muitos engomados, abarrotados de sucesso, portadores de carrões e resultados aparentemente positivos esqueceram-se de cuidar para não cair.
P.S.: “Aqueles que anunciam que lutam a favor de Deus são sempre os homens menos pacíficos da terra. Como crêem receber mensagens celestiais, têm os ouvidos surdos a qualquer palavra de humanidade.” Stefan Zweig