A Questão Judaica
Graça e Paz.
Do meu livro, Deus da Aliança, editado em 2003, pela “World Press” e esgotado, gostaria de chamar a sua atenção para a questão judaica, no texto seguinte: “É importante notar que as profecias relativas à Terra de Canaã e à restauração de Israel podem ter cumprimento tríplice: literal, figurado e antitípico.”
Cumprimento Literal: Por diversas vezes, as promessas de posse territorial aos descendentes de Abraão foram primeiramente cumpridas literalmente. Josué por exemplo, declara: “Desta maneira deu o Senhor a Israel toda a terra que jurara dar a seus pais; e a possuiram e habitaram nela… Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras que o Senhor falara à casa de Israel; tudo se cumpriu” Josué 21:43 e 45. Do mesmo assunto também tratam as passagens bíblicas I Reis 8:5-6 e Jer 32:21-23.
Semelhantemente, a prometida restauração dos judeus à Palestina predita pelos profetas encontrou um cumprimento literal inicialmente quando um remanescente dos judeus retornou sob o comando de Zorobabel, Esdras e Neemias. Jeremias, por exemplo, na mesma passagem, onde anuncia a restauração dos judeus “de todas as nações” Jer 29:14, declara, explicitamente, quando a prometida restauração teria lugar: Assim diz o Senhor: Logo que se cumprirem para a Babilónia setenta anos atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar” Jer 29:10. Daniel entendeu corretamente que esta profecia seria cumprida, não num futuro distante, mas em seu próprio tempo, Dan 9:2.
Cumprimento figurado: A promessa de Deus de dar terra à descendência de Abraão e da restauração de Israel também teve cumprimento de uma segunda forma, figuradamente. O Novo Testamento explica que a terra das bençãos prometida à posteridade de Abraão tivera cumprimento não só literal, no retorno dos judeus à Palestina no passado, mas também figuradamente e mediante a vinda de Cristo, a qual é a intenção e conteúdo da Aliança de Deus com Abraão Atos 3:25-26, 13:16, 32-33.
Paulo explica que as promessas de Deus, feitas a Abraão e ao seu descendente Gal. 3:16, foram cumpridas em Cristo, porque Ele é o auge da verdadeira semente de Abraão. O cumprimento, porém não consiste numa futura possessão da Palestina pelos judeus, mas na herança de toda a terra renovada pelos crentes em Cristo a partir de todas as nações Rom 4:13, Mat 5:5,9, Apoc. 21:1-8.
Reajuntamento dos gentios: Não sòmente a promessa territorial de Deus à descendência de Abraão, mas, também as últimas predições concernentes à restauração de Israel seriam cumpridas figuradamente no Novo Testamento mediante o retorno de Cristo. No concílio em Jerusalém, por exemplo, após Pedro, Paulo e Barnabé relatarem como Deus trouxera muitos gentios à fé, Tiago, que aparentemente presidia ao concílio, declarou: “Irmãos, atentai nas minhas palavras: Expôs Simão como Deus primeiramente visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para o Seu nome. Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito: Cumpridas estas coisas voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de David; e, levantando-os de suas ruínas, restaurá-los-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor; e todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor que faz estas coisas conhecidas desde séculos, Atos 15:14-18.
Tiago, aqui, cita a profecia de Amós quanto à restauração do reino de Davi (Amós 9:11-12), que produziria um ajuntamento de gentios, e declara que essa profecia estava tendo cumprimento neotestamentário de uma profecia do Velho Testamento, que diz respeito à restauração de Israel.
É digno de nota, a mudança feita por Tiago ao traduzir a profecia de Amós. A sentença de Amós “para que possuam o restante de Edom” Amós 9:12 torna-se em Atos 15:17, para que os demais homens busquem o Senhor. Isso significa que Tiago viu o cumprimento da profecia de Amós, não numa restauração política da dinastia davídica, que obteria posse militar dos remanescentes de Edom, mas no reino espiritual de Cristo, voluntariamente buscado pelos cristãos. Aqui, pois, o Novo Testamento interpreta, figuradamente, uma profecia velhotestamentária da restauração de Israel.
Cumprimento antitípico. As profecias a respeito da Terra prometida e a restauração de Israel também terão um cumprimento final antitípico – A posse final pelo povo de Deus da nova terra. A carta aos Hebreus explica que Abraão e seus descendentes viam o cumprimento derradeiro da prometida terra de Canaã, não como um retorno àquela “de onde saíram”, mas em vez disso, a uma “pátria superior”, isto é celestial Heb 11:15-16. Consequentemente,Abraão, a quem havia sido prometida a terra de Canãa “aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquitecto e edificador” Heb. 11:10.
A futura “cidade santa” Apoc. 21:10 é o cumprimento antitípico da promessade Deus a Abraão de posse eterna da terra de Canaã. Essa futura cidade será a nova terra dos descendentes espirituais de Abraão, crentes judeus e crentes gentios, por ocasião dos acontecimentos finais, preditos no Apocalipse. Paulo enfatiza essa verdade ao escrever: “E se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa Gál.3:29. Como cristãos,somos “herdeiros” da promessa de Deus feita a Abraão concernente à “pátria melhor” e a ser “herdeiro do mundo” Heb. 11:16; Rom. 4:13.
Predição de destruição, nãode restauração. Deve-se tomar nota do facto de que, ao predizer a destruição de Jerusalém, Cristo nada disse a respeito de sua restauração. O que Jesus ensinou, em vez disso, é que a condição especial dos judeus, como povo de Deus, tinha chegado ao fim Mat. 23:38; Lucas 19:41-44. Na parábola dos lavradores da vinha, os lavradores infiéis não obteêm novamente a possessão da vinha em ocasião futura, mas a perdem para sempre, pois Deus a concede a “povo que lhe produza os respectivos frutos” Mat. 21:41-43.
A mesma verdade é expressa na parábola da Festa das Bodas, onde os lugares daqueles que foram originalmente convidados para a festa são ocupados por todo o tipo de outras pessoas trazidas da rua Mat. 22:1-10. Aqueles que “tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacob no reino dos céus” “virão do Oriente e do Ocidente…ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas Mat. 8:11-12.
Esta descrição de pessoas vindas “do Oriente e Ocidente” alude a certas descrições proféticas do retorno dos do exílio, conforme Is. 43:5, Sal. 107:3. Contudo, aqui, Jesus claramente aplica essas profecias ao ajuntamento de todos os crentes, judeus e gentios. O Novo Testamento não antecipa o retorno dos judeus a uma Jerusalém restaurada, mas à reunião de todos os crentes na Nova Jerusalém, edificada pelo próprio Deus Apoc 21:22.
Conclusão
A inescapável conclusão, que emerge deste estudo das principais profecias sobre a restauração, é de que nenhuma delas oferece uma predição ou sequer dá indício de uma restauração de judeus à Palestina no nosso século, como um prelúdio dos eventos finais da história da Terra. Descobrimos, que, a Escritura, vê essas profecias como cumpridas literalmente, quando um remanescente de judeus retornou à Palestina vindos da Babilónia; figuradamente quando Cristo veio a primeira vez para reunir espiritualmente todos os que n’Ele creêm; e, antitipicamente, quando Cristo retornar para reunir físicamente o Seu povo “de uma extremidade do céu à outra” para a Nova Terra.
O ponto de vista de que a restauração política dos judeus em 1948 é “o sinal profético mais importante para anunciar a era do retorno de Cristo” é, portanto, uma opinião que não conta com suporte bíblico legítimo. Esta é a “questão judaica”.
Fraternalmente,
casal com uma missão,
Amilcar e Isabel Rodrigues