Não gosto de abordar certos temas, mas infelizmente têm acontecido coisas que nós, enquanto povo capaz de ajudar, não podemos ficar calados. É impossível, por exemplo, ver jovens pregadores famosos cometendo erros que trazem escândalos, mas que são frutos da falta de cuidado daqueles que deveriam zelar pela Igreja.
O caso recente envolvendo Vitória Souza, que abandonou um evento da Assembleia de Deus Fonte de Vitória, em Catanduva (SP), dizendo em pleno palco que teria sido chamada de “produto” pelo pastor local, expõe o nível de preocupação que devemos ter enquanto Igreja.
Que fique claro: o meu objetivo aqui não é dirigir uma palavra à Vitória, pois entendo que ela – que é muito jovem – precisa mesmo é de atenção e cuidado da nossa parte. Por isso, escrevo aqui aos pastores que têm a responsabilidade pela formação ministerial das suas ovelhas.
Maturidade
Independentemente de o pastor envolvido nesse caso estar certo ou errado, o fato é que situações como essa nos fazem questionar se estamos discernindo corretamente o tempo de maturidade daqueles que colocamos no altar.
Não tenho dúvida de que Deus pode usar adolescentes e até mesmo crianças para falar aos nossos corações, pois Ele é soberano e pode fazer isso de múltiplas maneiras. No entanto, não significa que nós, como pais e líderes, devemos negligenciar o tempo de maturidade necessário para que os nossos jovens recebam grandes responsabilidades, como pregar em eventos públicos.
Essa maturidade envolve o preparo emocional para lidar com as demandas da função, e também o conhecimento objetivo/intelectual sobre àquilo que é dito. Abandonar um evento e expor o pastor em público, por exemplo, é fruto de imaturidade e discernimento, pois Deus poderia transformar 30 minutos em bênção para todos.
Mas, a grande responsabilidade por esse tipo de coisa acontecer não é da convidada em questão, pois como sabemos, ela é apenas uma jovem, carente de experiência e conhecimento. Os seus erros, portanto, são parte de um processo natural de aprendizado.
Contudo, há uma larga diferença entre tornar isso público, gerando assim uma exposição desnecessária de erros sucessivos em decorrência da imaturidade, e de ser parte de um processo de aprendizagem junto à igreja da qual faz parte, onde o ambiente deve ser de treinamento, capacitação e crescimento.
Além dos pais, portanto, a grande responsabilidade é dos líderes espirituais, pastores, responsáveis por capacitar ministerialmente as ovelhas, priorizando junto a elas o relacionamento genuíno com Cristo, para só então discernir quais podem, ou não, ministrar a Palavra no devido tempo e da forma correta, tendo por único interesse a proclamação do evangelho.
O que temos visto, no entanto, é a exposição de jovens, cada vez mais novos, alguns ainda crianças, em cultos e eventos, como se já fossem capacitados intelectual e espiritualmente para ministrar. Como se não bastasse, isso tem sido compartilhado nas redes sociais, dando maior visibilidade a esses casos.
Pergunto aqui, como psicóloga: quais os efeitos que essa exposição precoce, carregada de responsabilização ministerial, também precoce, poderá trazer sobre a vida emocional desses jovens? Será que a Igreja não será cobrada, futuramente, caso essas “estrelas mirins” do gospel caiam em pecado, heresia ou outros problemas em decorrência das tentações geradas pela fama?
Olhemos para os casos de Jotta A, Priscilla Alcantara e mais recentemente, Jessé Aguiar, por exemplo. Será que eles, se tivessem tido outro tipo de cuidado ministerial, tendo seus talentos trabalhados de outra forma, sem que a fama os tivesse consumido tão precocemente, teriam trilhado o caminho que estão hoje
Influência preocupante
Outro quesito que chama atenção sobre a atuação desses jovens pregadores e cantores “fenômenos” – cuja carreira, em alguns casos, tem sido explorada comercialmente – é o nível de influência que eles exercem sobre os demais.
Se nós, como Igreja, queremos plantar as sementes para uma geração espiritualmente sadia no futuro, temos que ensinar aos jovens de hoje o que é ter vida com Deus, antes de mais nada, e não jogá-los em cima do palco, ou púlpito, para que falem sobre o que mal entendem e nunca vivenciaram.
Precisamos de jovens cristãos que influenciem outros a partir da maneira como são em casa, na escola, faculdade, no trabalho e nas ruas, pois esse tipo de influência que vem do número de curtidas e visualizações nas redes sociais é artificial, passageira e sem experiência real de vida com Deus.
Fiquei preocupada ao ver vídeos de adolescentes emocionados ao encontrar Vitória, como se quisessem tocá-la. A final, como eles, esses jovens, estão interpretando tamanha fama? Como algo dirigido à glória de Deus ou ao ser humano?
Por fim, aos jovens como Vitória: se recolham na humildade junto à presença de Deus, que é na Palavra. Estejam debaixo da liderança espiritual de pastores sérios, comprometidos com o Reino e não com a fama. Fazendo isso, o Senhor dará a cada um, no devido tempo, as oportunidades para que sejam sal e luz nessa Terra.
No mais, espero que esse texto seja encarado por todos como uma exortação de quem ama a Igreja e os irmãos, crendo que Deus pode, sim, continuar usando poderosamente jovens como Vitória, cujo talento é inegável, mas que precisa ser polido com muita cautela pelos que são responsáveis por sua formação espiritual, intelectual e emocional.
Que a sabedoria do Senhor esteja com todos.