“Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Porque, os que isto dizem, claramente mostram que buscam uma pátria. E se, na verdade, se lembrassem daquela de onde haviam saído, teriam oportunidade de tornar. Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade”. Carta aos Hebreus
A espera, a expectativa, a saudade de um lugar que só existe dentro de nosso mais profundo sentimento ideológico, habitando o âmago de nossa esperança humana.
Muitos que vieram antes de mim tinham dentro de si essas mesmas ambições perante a existência. Todos eles, contudo, morreram na fé, sem ter recebido essas promessas!
Havia um contato visual, uma perspectiva que alimentava sua fé em torno daquelas possibilidades, porém, para eles, chegou um tempo em que entenderam que se tratavam de alienígenas com aspirações altaneiras num mundo rasteiro.
Tanto eles, quanto eu, que atendemos pela chama de filhos de Deus, possuímos uma nacionalidade intrínseca, ocultada por características exteriores. Por fora, somos pessoas normais, mas por dentro, existem marcas e anseios que nos alçam a um status diferenciado.
Somos estrangeiros, peregrinos, não nascemos aqui e não pertencemos a este mundo!
Este mundo é uma criação de homens, é um capricho de deuses caídos, inspirados e alimentados pelas culturas de ambições trapaceiras, por paixões carnais, que deturpam e intoxicam o verdadeiro amor e pela arrogância de mortais que imaginam ser mais do que realmente são.
Algo tocou meu interior e me fez lembrar que não pertenço a este mundo! Não falo do mundo geográfico, físico, mas do cosmos como ele se desenvolveu sob o cetro iníquo dos seres humanos. O Cristo veio pra cá, instalando-se como um vírus do bem no sistema de coisas de pecado e o fez, como se lê, para “resgatar o que havia se perdido”.
No espírito, fui tocado de forma especial e passei a reconstruir a partir daquele novo instante, chamado de “novo nascimento”, a nacionalidade esquecida. Me tornei parte integrante do “Israel de Deus”, pela ressurreição, pela vida que se sobrepõe à outrora inexorável morte.
Mas não são todos que se dão conta disto, então, muitos ficam vagando por esta existência como zumbis espirituais, adormecidos para a vida genuína, avivados apenas para os movimentos peristálticos do cosmos. Amam o dinheiro, a sensualidade pervertida, a corrupção e se conformam com as coisas, dizendo: “é assim que elas são”.
Eu desejo algo melhor, mais alto, mais inspirador! Fico feliz por ter sido chamado para fazer arte, para cantar, compor, escrever, abstrair… Porque, desta realidade implacável que vivo nesta terra maldita, nada desejo, senão o Bem que é possível extrair de cada pessoa e situação.
Quero o amor e a consideração, o perdão e a reconciliação, a tolerância e o respeito as diferenças, quero os sentimentos puros e altaneiros, quero o celeste, não o terrenal, quero a vida, não essa morte travestida de existência, a qual, sem oferecer saída, escraviza e com uma faca no pescoço de cada pessoa declara não haver outra alternativa.
Rompi com isto, com o mundo, com o sistema de coisas, me joguei nos braços da arte e reneguei todas as cadeias que o sistema enviou para me prender, sejam elas políticas, ideológicas, sociais, religiosas…
De prisão, já me basta a alcatraz do corpo, do qual aprendi a fugir com a arte, dando vazão à emoção, às virtudes e à expressão do amor e do qual deixei de ser refém, no dia em que meu Mestre destruiu o último aguilhão de seu cárcere.
Em Deus tenho uma cidade nova, uma nova terra, uma Jerusalém que posso frequentar por um novo e vivo caminho, que se anda em espírito e em verdade.