Há fortes indícios de que o próximo papa pode ser um cardeal brasileiro. Com a eleição do polonês Karol Wojtyla, em 1978, tinha fim uma hegemonia italiana de 458 anos – desde 1520 apenas cardeais italianos ocuparam a presidência mundial do Catolicismo Romano. Em 2005, foi a vez do alemão Joseph Ratzinger ser eleito papa. Chamado Bento XVI, Ratzinger colocou em prática seu conservadorismo, chamando a atenção para a importância do matrimônio heterossexual, o combate ao aborto e os métodos anticonceptivos. Ao mesmo tempo, deu sequência ao diálogo ecumênico, iniciado com o Concílio Vaticano II e colocado em prática pelo papa João Paulo II.
A ruptura na hegemonia italiana e as mudanças advindas do Vaticano II abriram espaço para novas perspectivas com relação à sucessão papal. Por outro lado, o conservadorismo – característica comum dos antecessores de Bento XVI – é um aspecto que deve ser mantido no próximo Conclave, apesar de pressões internas e externas por abertura litúrgica e doutrinária. Por certo, os 117 cardeais com direito a voto tomarão este e outros aspectos, como a idade limite – que é de 80 anos –, histórico eclesiástico e intelectual como base para a eleição do novo papa, após o anúncio da renúncia de Bento XVI, marcada para o próximo dia 28 de fevereiro. É um fato novo para a cúria.
Possibilidades reais
Não obstante o cardeal italiano Ângelo Scola, 72, reúna características essenciais para assumir o comando mundial da Igreja Católica, há possibilidades reais de que o próximo papa pode ser um brasileiro. Dos vinte principais candidatos em 2005, metade já ultrapassou a idade limite para participação na eleição, dentre os quais dois africanos: os cardeais Francis Arinze, 81, e Bernardin Gantin, 91 anos, afastando a possibilidade de um africano ser eleito papa.
Apesar de desfavorável ao Brasil, a distribuição de cardeais por país e continente – dos 117 cardeais com direito a voto 63 são europeus, dos quais 23 italianos – poderá sofrer uma alteração com a entrada do arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, elevando o número de cardeais brasileiros com direito a voto para seis, ultrapassando a Índia – com cinco cardeais – e se igualando a Espanha e a Alemanha – o último sendo o país de origem do atual papa Bento XVI, eleito com a mesma quantidade de cardeais do Brasil.
Levando em conta o número de representantes latino-americanos, africanos, asiáticos e da Oceania – que somam trinta e sete cardeais -, a disputa com os representantes europeus e norte-americanos possui certo equilíbrio. Poderá ser um fator de vantagem aos postulantes brasileiros. Dos cinco cardeais – representantes do Brasil, dom João Braz de Aviz, 66, é um dos mais cotados para assumir o cargo. Dom Cláudio Hummes, 78, é quem possuiria as melhores condições, não fosse a renuncia, em 2010, ao cargo de prefeito da Congregação para o Clero, mesmo cargo ocupado por Joseph Ratzinger antes de sua eleição a papa, em 2005.
Crescimento evangélico no Brasil poderá influenciar o próximo Conclave
O crescimento do movimento evangélico brasileiro poderá influenciar os rumos do próximo Conclave. Na eleição de 2005 o tema serviu de base para especulações jornalísticas e por parte de autoridades católicas, motivando a indicação, um ano depois, de dom Cláudio Hummes ao cargo de prefeito da Congregação para o Clero. A abertura de pelo menos 70 processos de beatificação ou canonização – atualmente existem 2 “santos” e quatorze beatos brasileiros – também é vista como uma tentativa de frear o avanço dos evangélicos. Mesmo que não eleito um cardeal brasileiro, também há a possibilidade de que o novo papa poderá surgir da América do Norte – os Estados Unidos é o segundo país com maior número de representantes no Vaticano e o Canadá possui o nome do cardeal Marc Oullet, 68, atual prefeito da Congregação para os Bispos.