Todos os partidos, segmentos, grupos, associações, organizações, agremiações, enfim, todas as coletividades são criadas com o intuito de fortalecer uma ideia comum.
“Sonho que se sonha só é só sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade”, disse o Raul e este é um raciocínio lógico e certeiro para quem deseja tornar reais as coisas com as quais sonha para esta sociedade.
Provavelmente, não construiremos nada sozinhos, mas se compartilharmos nossas ideias com outros, estaremos partindo no rumo da sedimentação delas e, em decorrência disto, de sua realização.
Ocorre que, no mundo, sempre rolou o fenômeno das lutas entre as classes, os apartheids, as segregações. Isto desde tempos tribais, quando sempre havia a presença de maiorias e minorias, fortes e fracos, bons e maus, ricos e pobres, as supremacias e os subalternos. É natural que seja assim, embora, injusto. Temo, inclusive, que essa balança nunca alcance o meio.
Uma razão que me conduz a esse temor é a demagogia, sempre fermentando no meio dessas lutas sociais. Toda coletividade é terreno fértil para gente boa de papo e manipuladora, as quais sempre têm uma visão que vai além do interesse comum: a sua própria!
As bandeiras ideológicas, os credos, a fé, os nacionalismos são gatilhos de armas revolucionárias. Com a difusão e a semeadura dessas ideias no interior de pessoas de boa fé – ávidas por uma causa pela qual lutar – ocorre o impulso de massas humanas no rumo do sacrifício vicário, (que as leva a tomar pra si as dores dos outros), conduzindo muitas delas ao caminho da entrega de suas vidas pela causa que lhes cativou.
Contudo, não devemos nos esquecer do fermento mau, os demagogos, que trabalham nas mentes a fim de galgar sua própria escalada rumo ao poder, fazendo de qualquer coletivo, sua força, sua representatividade, seu curral eleitoral.
Isto pode acontecer com qualquer grupo, pode ser uma igreja, um sindicato, uma agremiação de bairro, uma torcida de futebol, uma escola de samba, enfim, qualquer coletivo pode ser um instrumento para levar a cabo os planos maquiavélicos do demagogo. E é quando ele chega lá, no poder, que deixa de ser a “fraca minoria”, para se tornar o poderoso representante da “forte maioria”.
É o poder que determinada, aliás, quem é bom e mau, isto a filologia de Nietzche já havia descoberto décadas atrás. E é também a presença ou não desse malévolo traço de corrupção que determina a justiça de uma causa.
A história revela que todas as minorias que lutaram para chegar lá, onde?, no poder, se tornaram maiorias e ocuparam o lugar dos opressores. Parece que existe uma cadeira que não pode ficar vaga, entre os principados e potestades que governam esta organização planetária; a cadeira do déspota.
O mundo precisa de ditadores, surjam eles da camada social que for, sejam eles participantes do grupo que for, sempre haverá ditadores e sempre haverá um coletivo cego que o conduzirá ao poder, dando-lhe um cetro de ferro, legitimando suas ações que a história virá reprovar depois de alguns anos.
Lembremos de Idi Amin, Pol Pot, Stalin, Hitler, Gaddafi… todos conduzidos pela mão do povo ao poder.
O nosso cristianismo, também uma grande incubadora de déspotas dos últimos dois milênios, segue firme e forte nesta direção, contudo, comparado a séculos passados, hoje, até que está mais piedoso, embora siga recebendo ataques fortes de outras minorias. Se nos lembrarmos dospapas inquisidores e dos que apoiaram genocídios, ficando ao lado dos ditadores, veremos que muito desse tal cristianismo, de cristão nada tem.
Procurando nesse imbróglio todo um genuíno cristianismo, me deparei com Paulo de Tarso, o qual, em completa antítese ao que vemos se repetir na história, andou pelo caminho oposto, como verdadeiro cristão. Ele, ao invés de, como todos fazem, de perseguido tornar-se perseguidor, de perseguidor, tornou-se perseguido.
Eis onde reside minha grande decepção com a raça humana e, ao mesmo tempo, minha fonte de esperança no cristianismo: todos nós que lutamos por alguma coisa, por alguma classe, por alguma causa, seja a do racismo, da homofobia, da segregação, da intolerância religiosa e da justiça social em todas as suas faces, devemos sempre decidir quem seremos no final: perseguidores ou perseguidos!
Seremos Idi Amin, Pol Pot, Stalin, Hitler, Gaddafi ou decidiremos ser Paulo de Tarso e ficar ao lado de Cristo, com suas dores, chagas, coroa de espinhos e cruz?
Eu escolho ser minoria, sempre! E se um dia alcançar a maioria, arranjarei outra causa menor pela qual lutar. Não suporto os efeitos colaterais do poder.