“Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos”. Filipenses 2:3
Nos tempos de Jesus, sob uma realidade fortemente influenciada pela tradição teocrática, havia diversos partidos que relacionavam política, sociedade e teologia. Herodianos, fariseus, saduceus, escribas… Além desses e outros, existia também os ‘xiitas’ da época, que podem ser praticamente considerados os tataravôs dos homens bomba da atualidade, os chamados zelotes e os sicários (estes com representantes entre os discípulos de Jesus).
Partidos, denominações, agrupamentos, coligações, grêmios, tudo isto são formas de fortalecimento social que visam dar corpo e representatividade aos ideais. Foi o Raul quem cantou que “sonho que se sonha só é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade”. Enfim, agrupar é um caminho óbvio na busca de trazer à realidade o objeto dos sonhos de alguém, ou de alguns.
Em contraste a esse modelo vejo, na coletividade da Igreja Viva, um viés intimamente relacionado ao da vida em família, marcado por amor fraternal, objetivos comuns, geração, criação e desenvolvimento de filhos, irmãos, pais, mães, primos.
Isto é bem diferente de um partido!
Um partido, como o próprio termo sugere, é uma parte de um todo, ao contrário da família que é o todo numa pequena partícula. Quando se é um partido, se tem uma perspectiva ideológica predeterminada na qual todos, estatutariamente, são obrigados a seguir e sob a qual devem rezar uniformemente. Caso transgrida, o rebelde é logo punido, talvez excluído do grupo.
No ideal da família, tudo é agregado, inclusive as diferenças. As batalhas de um são as de todos e os pecados de um são suportados e perdoados por causa do vínculo maior que sobrepuja as falhas do indivíduo: o amor, que atua a favor da unidade. Na família, a regra maior não é o estatuto, não há presidente, não há secretário, há simplesmente a Lei Maior fluindo, o respeito e o reconhecimento da autoridade de um líder. Este, alguém responsável por manter uma ordem, sendo protetor, provedor, amigo e mestre (minha ideia de pastor).
Numa família, todos se reúnem na sala de jantar, onde podem se olhar nos olhos, onde um conhece o som do ronco do outro enquanto dorme e também o cheiro e os barulhos do outro, quando chega em casa. Identificam suas manias, virtudes e defeitos.
Acredito mesmo que a ideia original de igreja é baseada na família, onde tudo é operado pela força de uma aliança firmada no sangue, na qual, uns pertencem geneticamente aos outros.
É bem diferente de um partido com ideais cristãos, cujo pastor ou apóstolo preside uma associação da sociedade civil, com registro em cartório, CNPJ e logradouro, que batalha pela defesa de sua opinião e de seus valores a fim de influenciar a sociedade ao seu redor. Assim sendo, não difere de uma loja maçônica, uma ong, uma associação comunitária ou um sindicato.
Acredito na nobreza de se lutar pelo que acredita, de desejar compartilhar com a sociedade valores cristãos. Contudo, acredito que devemos dar grande atenção para o risco de perdermos, como Igreja, nossa identidade de Família Cristã, que é um ente profético e peregrino que, por ora, vive neste mundo.
O profético nunca está comprometido com uma parte, mas sempre com o Todo. O profético não se filia a uma parte, o profético nasce de Deus e vislumbra o Plano Eterno. O profético não é um candidato esperando receber o voto de confiança de uma liga de correligionários, unidos por uma causa humana e transitória. O profético pertence a Deus e aqui está por uma causa maior do que a mente mais sensível poderia vislumbrar.
Temos como modelo de uma atuação não partidária e profética, na história Jesus, que abriu mão de provocar mudanças sociais, ou mexer em estruturas humanas ao seu redor, apesar de injustas, mas transformou pessoas, vidas.
Acredito que a Família Cristã nasceu de forma (sobre) natural, a partir do amor e da visão de Jesus. Acredito que ela está aqui entre nós, como os antigos guardiões do ‘fogo’ e que seja muito menor do que os partidos que se formaram em torno de infinitas denominações cristãs. Acredito que a Igreja de Jesus é invisível, mística e o que se pode ver e experimentar dela são os ecos das virtudes da eternidade. Acredito que a grande maioria dos auto denominados cristãos não passam de correligionários que abraçaram uma causa conectada a seus ideais existenciais e isso está longe de significar novo nascimento.
Enfim, a Igreja não é um Partido!