Primeiro, a confissão politicamente incorreta: eu sinto enjoo toda vez que vejo dois homens se beijando.
Desvio o olhar e medito na beleza de Jennifer Lawrence para não vomitar. Misteriosamente, não sinto o mesmo quando vejo mulheres se beijando.
Uma pesquisa recente do do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que a maior parte dos brasileiros se incomoda em ver dois homens (ou duas mulheres) se beijando. Dos entrevistados, 59% relataram desconforto diante da cena.
Eu estou entre eles. Oh, céus, serei eu um homofóbico?
A definição clássica de homofobia indica “medo e ódio de homossexuais” *. Não tenho medo de gays. Quem teria?
Ódio? Nada disso. É apenas um enjoo diante de barbudos se beijando.
Outra questão crucial: confessar publicamente o meu desconforto estomacal em relação aos gays faz de mim uma ameaça?
Sim, segundo certa militância que pretende higienizar a sociedade e combater até mesmo nossas aversões privadas diante de comportamentos “alternativos”.
Desde que nossas aversões não resultem em qualquer forma de agressão aos outros, elas deveriam ser irrelevantes. Jamais deveriam figurar como questões em pesquisas.
Porém, ao ler esta confissão sobre meu desconforto, o militante de plantão deve ter enxergado uma ameaça que precisa ser combatida pela via política.
Para a patrulha politicamente correta, a minha confissão reflete uma estrutura sócio-cultural que deve ser colocada abaixo com novas disciplinas nas escolas, dinheiro para ONGS que combatem o preconceito, lobby sobre o Congresso Nacional, etc.
Infelizmente, tenho certeza de que nada que inventem em Brasília poderá curar meu estômago homofóbico. Tudo bem. Estou em boa companhia.
George Orwell e os homossexuais
Em sua magistral biografia sobre o escritor George Orwell – “A Vitória de Orwell” (Cia das Letras) – Christopher Hitchens (1949-2011), registrou o notório desconforto que Orwell manifestava diante de homossexuais desde a tenra infância.
Hitchens relata que o famoso autor de “1984” e “A Revolução dos Bichos” enxergava “desde a meninice” o homossexualismo como uma “perversão”.
O escritor deixou a Inglaterra para lutar contra o ditador Franco na Espanha. Em nome da liberdade, Orwell levou uma bala de um soldado fascista.
Quando voltou à Inglaterra, Orwell tomou a atitude impopular de denunciar a traição da União Soviética, que sabotou os anarquistas naquele conflito. Em nome da liberdade, Orwell enfrentou as ameaças e censuras dos próprios companheiros de esquerda.
Poucos indivíduos se arriscaram em tantas frentes para defender a liberdade. Mas nosso herói tinha um “estremecimento” diante de homossexuais.
Segundo Hitchens, a repugnância de Orwell era pelo “pecado e não pelo pecador”. Ele era um ateu, mas seu instinto o levava a considerar o homossexualismo “errado”.
Por isso, se fosse vivo hoje, um dos maiores defensores da liberdade e do individualismo de todos os tempos seria considerado um “homofóbico” por certos militantes.
É claro, o problema não era Orwell. O problema não sou eu.
O problema é certa militância que não se contenta em ampliar direitos civis legítimos, mas vai além da política para patrulhar o que nós sentimos, pensamos e acreditamos.
A militância LGBT no Brasil e no mundo não quer apenas direitos civis. Ela avança contra os nossos estômagos, nossas consciências, nossas crenças e instintos mais íntimos.
Hitchens – o último polemista ateu digno de crédito – sabiamente concluiu que Orwell personificou as contradições insolúveis da natureza humana. Somos o que somos.
Para Hitchens, a genética nos fez assim. Eu acredito que Deus nos fez assim.
O paradoxal George Orwell é a prova de que mesmo os melhores dentre nós jamais irão se curar dos seus instintos arcaicos – goste ou não a militância da moda.