Em meio às discussões, sempre há quem brade: irmãos, por que tanta divergência, por que tanta polêmica? Evangelho é tão simples!
Não sei de onde tiraram essa idéia de que o evangelho é simples. Da Bíblia não foi, lógico, pois na Bíblia, o evangelho é uma grande e complexa trama de idéias sobre a qual devemos empreender grande esforço para conectar umas as outras. E se ultrapassarmos suas linhas, adentrando a história da igreja na Terra, então, tudo o que se pode encontrar são divergências e mais divergências, além de uma gama enorme de injustiças cometidas em nome do próprio evangelho. Nada simples, mas muito complicado!
Agora, falar que Jesus era simples, isso sim eu concordo! Nele e através dele, o Evangelho foi e, confio, ainda é simples, muito simples. Jesus viveu neste mundo praticamente flutuando, sem estar atrelado a qualquer sistema de poderes, a qualquer hierarquia social. Jesus tinha uma missão profunda em seu coração, fundamentada numa lei magna que dava todo o respaldo para suas atitudes, muitas delas, consideradas heréticas.
Talvez sua simplicidade residisse no fato de que ele nasceu praticamente morto pro mundo, abortado para as concupiscências desta terra e, por essa razão, nada poderia corrompê-lo.
No entanto, aquilo que se construiu sobre Ele e suas palavras, quebraram e vêm quebrando a simplicidade geração após geração.
Quando transformamos a piedade, mensagem e passos de Jesus em um sistema religioso estamos construindo, na verdade, uma grande Babilônia, filha de Babel com enormes requintes de confusão lingüística! Combato essa realidade, pois vivi muitas dessas situações e com o tempo, emergi, não me perdi, como alguns podem pensar, mas acabei concluindo que não me identifico com essa igreja evangélica que se consolidou através das propagandas sofismais. Não acredito nela, pois não fala nada ao meu coração, não sinto o amor do Pai nela, só a vara de um padrasto opressor, ao qual dão o nome de cobertura; nem a Graça do Filho, senão leis apregoadas por mediadores humanos, que pra nada mais servem além de aplacar a consciência pecadora através de rituais; tampouco a influência do Espírito, mas somente um vento soprado dos pulmões humanos e pequenos feixes de luz oriundos de ‘revelamentos’ particulares.
Hoje, é difícil encontrar nessa igreja evangélica algo além de espiritualidade paganizada, baseada em trocas, na qual, pastor, apóstolo ou profeta vende e povo compra. Eles dizem deter segredos e mistérios em si e cobram sem o menor constrangimento, royalties por isso em suas conferências.
O que há de simples nisso?
Hoje, pessoas mudam de religião, mas não trocam de demônio interior, pois seu espírito pagão permanece e, quando lidam com Jesus, o fazem como se Ele fosse um santo milagreiro, sem vontade ou personalidade, fazendo promessas em forma de desafios e sacrifícios em troca de ‘benças’.
Espero que os irmãos compreendam que minhas figuras de linguagem, meus devaneios e questionamentos são fruto de minhas indagações diante do próprio Deus. Não quero ofender ninguém, mas quero compartilhar minha busca, acreditando que existam perspectivas diferentes ainda a ser exploradas e conhecidas que tomam o rumo do verdadeiro evangelho simples. Não sou dono de nada novo, nem recebi de Deus uma outra revelação. Sou uma alma em luta contra as confusões interiores e envolvida numa busca sincera, nada mais!
O Evangelho simples? Esse não pode ser encontrado através de uma Bíblia literal como se fosse a Palavra de Deus, mas estou convicto de que está derramado na Palavra de Deus contida nessa mesma Bíblia. Portanto, observo que a A simplicidade está na “Vida no Espírito de Vida”, na relação íntima com Jesus, sem intermediários, sem preconceitos e tradições sedimentadas em nossas almas.
Reforma interior é o primeiro passo para o Evangelho Simples! E o primeiro passo antes da Reforma é quebrar tudo e recomeçar a construção.