Olá queridos amigos! Começo esta cartinha com a foto de Imad, Fátima e seu pequeno filho Mohammad ao lado.
Um dia estava na porta da igreja e ao olhar para o lado vi Imad com seu filhinho no colo procurando ajuda. Ele não se mostrava desesperado e nem gritava como os outros. Apesar da aparente desnutrição, falava calmamente ao perguntar quem poderia ajudá-lo. Todos os demais trabalhadores responderam que estavam ocupados e que o horário de registro havia terminado e que por isso ele precisaria voltar no dia seguinte.
Infelizmente assim é rotina diária na igreja. Quando milhares batem a porta e pedem ajuda ao mesmo tempo, os refugiados podem tornar-se apenas mais um na multidão. Suas histórias tão similares de sofrimento e fuga tornam-se apenas mais uma dentre tantas outras. Não posso culpar meus colegas de trabalho, pois há mentira e engano no meio do povo. Há também mais trabalho do que podemos suportar. Mesmo assim, não consigo olhar para eles como apenas “mais um” na multidão. Eu vejo o pai, a mãe, o homem e a mulher por trás do clamor. Evidente que não posso atender a tudo que pedem, mas posso ao menos oferecer meu respeito.
De repente, na igreja olhei para Imad e disse que se ele quisesse poderia me dar seu número de telefone e eu tentaria visitá-lo para o atendimento. Ele agradeceu mas senti que não acreditou muito em mim. De fato, ele iria mais tarde me dizer que já vinha pedindo ajuda em todos os lugares e batendo em todas as portas sem nenhuma resposta. Na verdade, ele já estava quase perdendo a esperança.
Passado alguns dias, a face daquele pai ficou na minha memória. No fim da semana, reservei um tempo para ir até sua casa. De alguma forma senti algo diferente nele e em sua pequena família, o que me motivou a encontrá-los. Imad e Fátima moram num bairro afastado também à beira do deserto. De sua casa as vezes pode-se ouvir os aviões da força aérea nacional e a movimentação da fronteira.
Em sua casa, como na casa de muitos, há poucos móveis, entretanto, são extremamente asseados. Não são do norte como a maioria dos refugiados que vivem aqui. São da capital, de Damasco e por isso talvez tenham uma mente um pouco mais leve. Antes da guerra, Imad era sócio de uma pequena firma de construção com mais outros 4 homens. Depois da guerra, perdeu tudo. Triste, me mostrou que todo o dinheiro que possuía eram duas moedas no bolso.
Imad e Fátima começaram a contar como era a Síria antes da guerra e da dor que sentem pelo que estão fazendo com sua amada nação. Educados e inteligentes, culpam o exército livre e o governo pela destruição da terra. “Nenhum deles se importa com o povo”… dizem.
Devido ao trauma que sofreram durante o bombardeio, tanto Fátima quando o pequeno Mohammad passaram a ter convulsões. Imad já sofria de epilepsia antes, mas com a medicação diz que fica tudo bem. Seu filho de menos de 2 anos, no entanto, não toma remédio. Precisa de um acompanhamento médico urgente. “Mas como vou leva-lo ao médico, Rahil, se nem para a condução tenho recursos?”
Conversamos mais um pouco e antes de sairmos, oramos com ele. Aliás, foi uma das primeiras casas, onde senti que a família também orou conosco. Imad estava tremendamente grato. Sei que naquele momento fomos o socorro bem presente no meio da angústia pois seus olhos já não estavam mais tão tristes. Brilhavam com a pontinha de esperança que ministramos em seu coração. Não era só por causa do dinheiro, da cesta básica, do leite ou das fraldas que deixamos. Mas tinha a ver com o fato de nos importarmos com eles. Os abençoamos em Nome de Jesus, o Messias e falamos um pouco sobre o amor desse Pai. Confesso que muitas vezes, nossas palavras não significam muito. Mas nossa presença aqui e cuidado para com eles mostraram que o amor do Pai por eles é real.
Esta semana estarei voltando ali. Sempre deixamos uma porção do Evangelho mas quero agora deixar um pouco mais… do Evangelho. Algo que aprendi trabalhando no meio deste povo é que a confrontação e agressividade nunca resultarão em salvação. São atos de amor, do amor que vem de Deus que abrem as chaves para o coração deles. E este é o tempo para semear nesta terra.
Quero agradecer aos irmãos que me enviaram recursos para mais esta semana de trabalho. Tenho muitas famílias a assistir. Algumas vivem bem do lado da fronteira. Não sei se poderei estar indo ali todos os meses visto que os gastos são maiores. Mas agradeço pelo que até aqui tem chegado a mim.
Peço que não se importem ao me ouvir falar de recursos em todas as cartinhas. Aqui as coisas são assim: os recursos são para cada semana, um dia de cada vez e sempre… até quando estivermos por aqui. Mas seja encorajado a contribuir, com o tanto que desejar. Pois este verdadeiramente é a única chance que alguns terão para ouvir do Evangelho.
Por favor, orem por Imad e Fátima. Para que seus olhos espirituais sejam abertos.
Quero começar a estudar a Palavra com eles, no livro de João.
Por favor, orem para que o Senhor restaure minha mente, meu coração e minha compaixão por eles.
Ore também para que o Senhor continue suprindo de forma milagrosa para o nosso trabalho.
Deixo aqui minha conta: BRADESCO AG. 2465-1 C/C 0027504-2 RAQUEL ELANA MAIA DE OLIVEIRA
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Um abraço fraternal a todos.
De sua irmã na fronteira da guerra,
Raquel Elana