Era noite de um domingo comum e mais uma vez, eu esperava sair renovado do culto.
Sabia o que viria pela frente, pelas pregações baseadas na “visão” dos pastores nas últimas semanas: Uma “teologia da prosperidade” com uma “roupagem” “Light” e discreta, certamente pelas críticas dos últimos tempos, mas que crescia e ganhava vigor à medida da receptividade do público nas reuniões aumentava.
Contudo, eu ainda tinha esperanças de que o Espirito de Deus falasse através do Pastor…
Deus tem um compromisso com o seu povo, ainda que esse povo não queira dar ouvidos a ele… Então, ele sempre tenta.
Naquela noite era o mesmo pregador das últimas reuniões. No dia anterior, um pastor convidado e que ao que tudo indicava, era um amigo que “compartilhava” da mesma “visão”, fora radicalmente, em outra direção; Firme em sua fala, o pastor, de outra igreja, se reservou simplesmente a lembrar à igreja que pouco conhecia, de seu compromisso em ser como a igreja primitiva.
Silencio.
Não houve relutância ou discordância, mas apenas um silencio pouco comum. Um silencio que denotava atenção por parte igreja, apesar de um “desconforto” aparente.
Ele continuou, lembrando o texto de Atos 2: 42 a 47:
“… E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister.
E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo.
E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”.
Na pregação do domingo, o pregador voltara, quase que imperceptívelmente, falando a respeito da necessidade de nós os filhos de Deus, sermos “abençoados” financeiramente; “Sem dúvidas”, segundo ele, era preciso que o mundo visse, tudo o que indicasse uma prosperidade; toda uma vida “próspera”… Dai então, quisesse ser tão “abençoado” como o crente em sua vida de “vitórias”…
Confesso que minha vontade foi a de sair, já que eu não era mais que um simples espectador na nova condição em que a igreja me “colocara”. No entanto tentei, apesar de sua fala me parecer sem razão, entender o porque de sua insistência. Quis achar um motivo para a forma do que ele dizia, já que o conteúdo havia se tornado insipido .
Porém, não havia.
Era esta mesmo a sua fala? Será que não tinha ouvido direito todas as suas ideias e não entendido sua visão?
Sei que você pode até conjecturar sobre uma série de argumentos, visando defender a tal prática e talvez, diga: “Ora, Como as pessoas verão e virão a Jesus se os olhares do mundo e sua cobiça infelizmente, são para o que é “material”??
E a única resposta que eu teria para você hoje, são as mesmas perguntas que naquele momento eu me fazia, enquanto o pastor continuava em seu discurso repetitivo:
“Será mesmo que a igreja primitiva havia conquistado sua popularidade entre as pessoas, por sua “riqueza” aparente?
Seria por talvez estarem tão “prósperos” financeiramente, a ponto de possuírem bens à vista de todos – dentro e fora de suas comunidades – , é que os sorrisos lhes saiam pelos lábios e a graça lhes enchiam os olhos, tornando-os amáveis e simpáticos?
Será mesmo que o texto de Atos 2 falava de um contexto apenas histórico, de um momento único na história que, por contextos sociais não poderia ser aplicado hoje?
Seria uma utopia, pensar que o que o Espirito de Deus fazia naqueles dias, não era aliado ao contexto histórico, mas sim, visava e saciava o coração humano que é atemporal??”.
Tentava pensar, não na resposta que claramente, dizia não, à todas as perguntas, vinda diretamente do próprio contexto do livro de Atos e de toda a história de Jesus, mas sim, pensava em como tal negação ao evangelho se fortalecia e, por que se fortalecia.
Continuei no culto, atento para ver até onde tudo aquilo, toda a insistência baseada em contextos pessoais de outros pastores ou em testemunhos diversos, colocando de lado toda a meta do coração de Deus, iria chegar…
A apenas um dia antes, uma exortação em que a maioria, apesar dos costumes, havia ouvido e no final, tinha começado a corresponder, estava o pastor, ditando a “cartilha do crente esperto”; Firme e irredutível em suas próprias convicções.
Fui tomado por uma vontade de sair do culto em “sinal de protesto”, mas se a igreja já parecia novamente “render-se” às palavras macias que confortavam suas dúvidas, tampouco dariam falta de um membro…
Se não ouviam a voz do Espirito falando à igreja como fora previsto na palavra, certamente não se dariam conta, nem de minha ausência, nem dos muitos que terminam por largar suas igrejas pelo fato de, ao invés de serem alimentados em suas fraquezas, serem incitados a tomarem suas “doses” de um “remédio” que apesar de uma satisfação momentânea, terminava os destruindo por dentro.
Quem disse que os evangélicos não usam “drogas”??
Elas são vendidas livremente em troca de um conforto, de uma cobiça e terminam como todas a outras ilícitas, destruindo almas e indo contra todo o plano perfeito que Deus começou com Jesus em sua vida, em sua morte e em sua ressurreição.
O plano de Deus era, antes do céu, te fazer uma pessoa melhor.
Mas talvez você tenha preferido a “droga”.
Não sei o que aconteceu com o pastor depois daquele dia, mas, uma coisa eu lhe digo e talvez, você já tenha tido a mesma impressão:
À medida em que ele falava de suas convicções no púlpito, se contradizia, quando citava alguns textos que usava na mesma pregação. Apesar de “viciado” na tal “teologia” da prosperidade, ele repetia e ainda dizia: “Não sei porque estou falando isso… Ia pregar outra coisa, mas terminei falando isso…”
Mesmo assim, a pregação se aproximava do fim e ele a terminou, “arrematando” com mais uma frase de “sub vitória”, levando à maior parte dos presentes ao delírio e não à rendição da noite anterior…
Sua “missão” fora cumprida. Se fora na melhor da intenções , não sei… Deus o sabe… Mas não importa… A intenção de Deus era a que deveria importar.
O que sei é que esta história triste de equívocos e perdas, tem se repetido na maior parte das igrejas…
Duvida?
Então preste atenção, examine-se, examine todas as coisas. Conheça o verdadeiro desejo do coração de Deus. Escolha o que é bom de verdade.
Afinal, você com toda certeza foi ensinado a se manter longe das “drogas”.
Você só as usa, se quiser.
Por Rogério Ribeiro.