Ainda me lembro de quando era criança e durante o mês de dezembro havia em minha cidade uma encenação especial de Natal, um “presépio vivo”. Eu achava um máximo ver aqueles camelos de verdade, os magos com suas roupas exóticas e a humilde manjedoura. Eu também gostava muito de montar o meu próprio presépio, com minhas vacas e ovelhinhas de plástico. Aquilo era muito importante para mim, pois era uma espécie de “contracultura” natalina que eu tentava estabelecer. Mesmo sendo um criança, queria deixar claro pra todo mundo que eu não acreditava em papai Noel e que o nascimento de Jesus era muito mais importante para mim.
Lembro em especial de um ano em que após ter assistido a uma das apresentações do “presépio vivo”, perguntei a minha mãe se ainda existia em Belém a manjedoura em que Jesus havia nascido e se eles também faziam “presépios vivos” lá para lembrarem da vinda de Jesus ao mundo. Minha mãe, embora não conhecesse bem a situação do Oriente Médio apenas afirmou que não, que Belém vivia em guerra. Confesso que mesmo sendo ainda uma criança aquilo me entristeceu. Como poderia o lugar em que Jesus havia nascido hoje ser uma zona de guerra?
Aquilo me inquietou profundamente e não foi simplesmente uma coisa de criança. Ano após ano eu ficava na noite de natal em frente à TV querendo saber como estava a situação em Belém. Logo descobri que no lugar na manjedoura havia se erigido a Igreja da Natividade e embora na região houvesse uma série de conflitos que eu nunca conseguia entender, alguns anos havia uma certa trégua e milhares de pessoas do mundo inteiro se reuniam ali.
O tempo passou e mesmo eu crescendo, a preocupação com Belém nunca foi embora. Logo eu descobri a complexidade dos inúmeros conflitos que ocorriam na “Terra da Bíblia” e mesmo nunca estando lá, passei a amá-la com um sentimento que ainda hoje não consigo ao certo explicar. O que só tem aumentado com o passar dos anos. Foi aí que entrei na universidade e comecei a cursar Relações Internacionais. Poucas semanas antes de começar o curso ganhei um livro que mudou completamente a minha vida. Era o livro “Força da Luz” escrito pelo Irmão André da Missão Portas Abertas. No livro o Irmão André fala um pouco da situação da Igreja Palestina em meio aos conflitos do Oriente Médio, e para minha surpresa, ele falou exatamente sobre Belém, me apresentando a vida de homens e mulheres dos quais nunca me esquecerei, mesmo sem conhece-los.
Belém é hoje uma cidade que faz parte dos territórios palestinos ocupados por Israel e é governada pela Autoridade Palestina. Durante anos a cidade tem sido palco de inúmeros conflitos entre árabes e israelenses, iniciados em 1948 após a criação do Estado de Israel. O berço literal do Cristianismo, contém hoje menos de 35.000 cristãos, cerca de 2,2% da população local, segundo fontes não confiáveis. O fato é que o Cristianismo está praticamente em extinção em Belém, assim como em toda Palestina e Oriente Médio. O que se dá principalmente devido aos constantes conflitos, bem como pela perseguição religiosa impetrada por grupos radicais islâmicos. No caso de Belém, acrescenta-se as terríveis restrições impostas pela ocupação israelense, dificultando ainda mais a vida dos cristãos que além de serem considerados cidadãos de segunda classe em sua própria sociedade palestina, ainda enfrentam as adversidades impostas pelo governo israelense, sendo muitas vezes forçados a migrarem para o Ocidente.
Falar sobre isso me comove e me inspira. Não é à toa que tenho gasto os dois últimos anos da minha vida estudando incessantemente a situação dos Cristãos Palestinos e procurando meios de ajuda-los. É por isso que todo natal, não posso deixar de me lembrar de Belém, nem da pequena Igreja que lá tem feito a diferença, tentando ser luz em meio a trevas tão densas. Isso se torna ainda mais inevitável quando leio na Bíblia as promessas relacionadas ao nascimento de Jesus. Acho incríveis as palavras proféticas do livro de Miqueias. Elas sempre me confortam e me enchem de esperança!
“Mas tu, Belém-Efrata, embora sejas pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos. ” Miquéias 5:2
Desde os tempos antigos, Belém-Efrata era uma cidade desprezada em Israel e um dos significados do seu nome é exatamente “casa de guerra”, devido aos inúmeros conflitos que lá haviam. Entretanto, Deus tinha um propósito especial para aquela cidade. Era de lá que Seu Filho encarnaria na Terra trazendo a esperança e salvação para todas as nações. É por isso que o outro significado do nome Belém é “casa do pão”, porque é de lá que viria o pão da vida, o único capaz de satisfazer todas as necessidades humanas, Jesus. Hoje em dia, mesmo após o advento de Cristo, Belém ainda permanece como uma “casa de guerra” e os poucos cristãos que lá ainda vivem lutam diariamente a fim de serem “casas do pão” transmitindo Cristo a todos os que estão ao seu redor.
Eu sei que isso pode soar estranho e até mesmo ser visto como ingênuo ou ignorante da minha parte, como um quase internacionalista, mas tenho certeza absoluta de que Jesus é a única solução para os conflitos do Oriente Médio. Ele é o Príncipe da Paz e foi por isso que Ele veio ao mundo. Desse modo, não posso permanecer indiferente ao saber que os cristãos, os únicos que de fato podem ser pacificadores estão desaparecendo de Belém.
Não posso comemorar o natal celebrando Jesus, a esperança das nações sem clamar por Belém. Sem lembrar do sofrimento do povo palestino; da Igreja Palestina e dos milhares de muçulmanos que tem ido ao inferno por crerem que Jesus é apenas um profeta e não o Filho de Deus.
É por isso que gostaria de encorajar você nesse Natal ao olhar para a Bíblia, olhar para Jesus e se lembrar do Seu povo, da cidade em que Ele nasceu. Que não nos esqueçamos de Belém. Que não nos esqueçamos do tão sofrido povo palestino. Que ansiemos por ver Belém se tornar de fato uma “casa do pão.” Caso você queira conhecer mais sobre os cristãos palestinos, basta entrar em contato comigo pelos comentários.
Feliz Natal a todos!