Um conhecido pediu minha opinião sobre um “Boteco Gospel” que foi inaugurado por pastores em Belo Horizonte. Analisando a notícia que ganhou destaque na TV e assistindo ao vídeo, considero que o maior problema que o Boteco Gospel tem é o próprio nome. Talvez se o recinto comercial fosse chamado de ponto, cultura ou cantinho gospel as opiniões teriam sido menos negativas. O termo “boteco”, em minha opinião agride a conceitos cristãos, visto que os professantes desta fé não vêem com bons olhos a bares, botecos e boates. Dito isso, afirmo que comercialmente a proposta é boa, socialmente tem sentido para o segmento. Biblicamente a iniciativa empresarial não pode ser classificada como um “negócio que incentiva pecados” e nem há base para a condenação dos frequentadores do local. O ambiente deve ser crente, pois é ocupado por “cristãos” e por essa razão, penso que principalmente para jovens, deve ser agradável estar lá. Eu não frequentaria o Boteco Gospel por que não tenho hábitos de sair muito e tenho outras coisas pra fazer (tenho pouco tempo disponível pra diversão), mas não posso condenar os que o frequentam, se lá estiverem por simples e saudável entretenimento.
Feita a consideração quanto ao nome, a meu ver nem tão apropriado por ser uma casa dedicada a público evangélico; o boteco gospel é um negócio que tem alvará, paga impostos e emprega gente como qualquer outra empresa de entretenimento. A idéia do negócio é promissora, o público alvo é bacana, são jovens cristãos (maioria solteiros), que buscam diversão num ambiente de identificação religiosa e cultural. É melhor ir como solteiro ou casal neste lugar que em algumas lanchonetes “não evangélicas” onde tocam músicas mundanas ou passam programas nada cristãos nas TVs de tais locais, não é verdade? Radicalizando o comentário, não vejo base para crente algum frequentar botecos, boates, bares ou qualquer casa de shows onde se vendem bebidas alcoólicas, tocam músicas desmoralizantes ou incentivam qualquer ato de ofensa à fé cristã (No boteco gospel não rola nada disso). Mas, se você encontrar um lugar onde têm diversão sem o ambiente ser hostil a sua fé e coerente com sua conduta (Um dos responsáveis disse que essa a proposta do lugar, ser um ambiente agradável), porque não conhecê-lo?
Bom, se o negócio do Boteco Gospel não é um produto de transgressões, se a ida ao local por si mesmo não é pecado, porque tantas críticas à iniciativa? O novo as vezes surpreende gerando polêmicas. No dia a dia tem gente fazendo coisa bem pior que frequentar um “barzinho de crentes”. Bem, parafraseando, quem estragou a harmonia do Éden não foi à árvore da ciência do bem e do mal, mas o casal que dela comeu do fruto que oferecia. O pecado é praticado quando a personalidade não transformada do homem dá as caras, quando dando atenção às nossas vontades decaídas ignoramos os mandamentos de Deus e os quebramos deliberadamente, quando a razão cristã é suplantada pela impulsiva vontade da carne. O caso do Boteco Gospel levanta a questão que para se estar em qualquer ambiente é preciso ter caráter e espiritualidade cristãos. Mais importante que o ambiente em que se está, é o nível de maturidade e mente cristã que se tem. Existem crentes que pecam dentro da igreja por irreverência, nas praias por lascívia no olhar, nos restaurantes por glutonaria e quem sabe iriam pecar no Boteco Gospel por lhes faltar medidas e compostura evangélicas. Então meu irmão se for para pecar não vá, de jeito nenhum.
O escândalo que os frequentadores do Boteco Gospel (e não o próprio negócio em si) poderão trazer estará relacionado com a mesma causa que trouxe desordens a toda raça humana – o pecado – que agora se acha incrustado na natureza humana. Deste modo, quando o citado pecado encontrar terreno propício nos sentimentos e motivos dos irmãos fregueses do boteco, dos membros da igreja, dos alunos da escola dominical, nos crentes transeuntes das ruas e nos motoristas crentes que trafegam pelas avenidas, brotará de suas concupiscências mais íntimas, de seus desejos mais anticristãos com a desculpa ensaiada que o problema é a influência do lugar ou das pessoas com as quais se encontram ou estão, e sabemos que essa justificativa nunca foi aceita por Deus.
Se existir algum problema quanto ao ambiente do boteco gospel e sua proposta, ele estará ligado por certo à natureza intrínseca e comum aos homens. Se forem crentes equilibrados e de caráter o lugar será um point agradável, mas se a rapaziada e a moçada for apenas com segundas intenções e na gana da carne, aí o que era doce se tornará no mais amargo dos féis. A casa de entretenimento se tornará num ambiente de horrores gospelizados e a atenção que atraiu da mídia será ridicularizada aos quatro cantos. Esse comentário por certo não vai agradar a ala mais radical do protestantismo brasileiro, mas não nos esqueçamos que o universo gospel no Brasil cresce a cada dia, e cada vez serão mais comuns produtos e serviços dirigidos ao segmento. Eu não concordo com tudo que vem com o nome de gospel, mas o boteco da forma como assisti na entrevista não me pareceu “proibido para crente de verdade”.
Se você quiser assistir ao vídeo, acesse-o neste link