Existe uma diferença abismal entre fazer a boa ciência política e praticar politicagem. O ser humano é ontologicamente político, não é possível arrancar este dispositivo natural, mas é possível deixa-lo inconsciente. Por isso, ao cristão, é preciso lembrar: o covarde não herdará o reino.
No final, a pessoa estará fazendo política a todo instante, toda relação social é ato da boa ciência política. Desde de negociar preços, organizar horários com funcionários, convencer clientes, realizar eventos, viver bem com vizinhos, participar de reuniões na escola dos filhos, tudo se converge em política!
Por outro lado temos a politicagem, aquela realizada nas sombras da corrupção, o tal ”jeitinho brasileiro”. Nas entranhas do organismo social se encontra a famosa ”lei do Gerson”, onde todo mundo quer tirar vantagens. A politicagem não tem separação de classes, ricos e pobres.
Desde do indivíduo que fura a fila de um banco para aquele que está no topo do poder corrompendo as instituições privadas e públicas do país.
Geralmente o cristão não sabe fazer a distinção entre ciência política e politicagem e por isso acaba por ver tudo como pecado.
É um assombro ver ignorantes travestidos da piedade cristã, justificando neutralidade em relação a política deste país. O apolítico será presa fácil da minoria translouca doutrinada e cooptada para acelerar a destruição dos pilares da civilização ocidental.
Afinal, política é ocupação de espaço! Cadê os bravos homens? Onde se esconderam os nossos heróis?
Quando estudo o Antigo Testamento, entendo que neste mundo não haverá governos perfeitos ou lideranças exemplares. Reflito com indignação sobre quaisquer que usem a Palavra de Deus para espalhar a covardia!
O melhor caso para exemplificar a coragem política, é o rei Davi. Homem de sangue, saqueador e de muitas mulheres. Planejou a morte do seu amigo Urias para usurpar sua esposa; Davi viu sua família desabar em conflitos que trouxeram consequências terríveis como a violência, abuso sexual e mortes; foi expulso do trono por seu próprio filho que planejou executar sua vida em pleno exílio, e, por consequência do seu desejo descontrolado por Bateseba, Deus ceifou seu primogênito desta relação adúltera.
Mas como Deus via Davi no seu plano divino? É preciso ler: ”Depois que tirou o reinado de Saul, deu-lhes Davi como rei, sobre quem testemunhou: ‘Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, ele fará tudo conforme a minha vontade’’, Atos 13.22. –
Davi era o homem segundo o coração de Deus para governar Israel ou deixou de ser depois de tantos desacertos? Nenhum cristão em sã consciência pensa o contrário, Deus amou Davi! Ele era um homem corajoso e temente a Deus, fiel defensor da Lei do Senhor, sempre lutou com toda sua força para vencer os inimigos de Israel e governou bem em um período de extremos.
Todavia não é uma apologia para justificar a péssima conduta do ruivo violento para atestar um conformismo diante do pecado. Nenhum líder é perfeito, todos são pecadores e precisam da graça de Deus!
Mas vamos para o Novo Testamento e aprender com o Paulo sobre a relação governo e cidadão: “Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá. Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal” –Romanos 13:3,4.
Será que Paulo está fazendo referência aos governos dos homens piedosos e que são exemplos de justiça e administração? Ou ele se refere a autoridade em geral, ímpias, independente das ações certas ou erradas que realizam? Não existem governos perfeitos, homens perfeitos e justiça perfeita no plano humano, fato!
O que podemos fazer é colher o máximo das informações possíveis dos candidatos e seus partidos e escolher aqueles que estão mais próximos dos princípios da nossa fé cristã, ficou claro?
Penso sempre na coragem do nosso mestre em responder questões que poderiam trazer a ele desconforto e perseguição, mas não fugia do assunto política . Nosso Rei Jesus quando indagado sobre impostos, foi claro: “a Deus o que é de Deus, a César o que é de César”. Ou seja, somos cidadãos do céu e enquanto estiver neste plano humano sejamos cidadãos do mundo. Vivemos entre dois mundos!
A vida com Deus clareia a consciência para perceber o que é ou não ofensivo a sua Palavra. Mas neutralidade disfarçada de piedade é uma nova caverna que os covardes estão se refugiando.
Não estou aqui para criar uma base argumentativa e dizer a você o que pensa ou não; nem direcionar sua opinião, sua liberdade de pensar e criticar. Mas por favor não force os textos sagrados, não ignore seus fundamentos, seus contextos comprometidos com a boa teologia Bíblica.
Alguns cristãos se comportam acima do bem e do mal – ou como se não pecassem, e por isso sofrem da síndrome dos olimpianos, triste, pois bastava declarar: “Eu sou servo, não me envolvo em coisas do mundo […] o cristão só deve se preocupar com as coisas da igreja”.
São justificativas que desabam facilmente com a palavra: “Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte” –Mateus 5:14.
Cristãos, o covarde não herdará o reino de Deus. Sejamos fortes, homens e mulheres que resistem aos dias maus, marcando pés firmes na defesa dos princípios que norteiam no fé.
Ah, não tome a Bíblia para justificar sua neutralidade, ela não é adequada para uso dos covardes, pois como diz a Santa Palavra de Deus: “Com efeito, Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de fortaleza, de amor e de moderação” –2 Tm 1,7.