Quando tratamos de educação familiar, é comum vermos conteúdos que ressaltam a responsabilidade dos pais sobre a formação física e principalmente moral dos filhos.
Passagens bíblicas famosas como a de Provérbios 22:6, por exemplo, são citadas para fundamentar a impressão de que tudo o que ocorre na vida dos filhos é fruto dos pais.
Mas, será mesmo?
A passagem de Provérbios, de fato, nos faz parecer isso, porque ela diz: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”.
O trecho em que diz “não se desviará” é o responsável por trazer uma noção de determinismo acerca do futuro.
Entretanto, a lição de Provérbios não deve ser encarada por uma perspectiva determinista, mas norteadora e abrangente.
Ou seja, ela traz uma verdade que realmente se aplica à maioria dos casos, o que é certo, pois se os pais ensinam desde o começo qual caminho os filhos devem andar, a probabilidade de que eles venham a se desviar é muito pequena, correto?
Mas, quando enxergamos a temática da educação familiar no contexto bíblico como um todo, levando em consideração outros exemplos e lições narrados pela Bíblia, entendemos que existem exceções em relação ao ensino de Provérbios 22:6, e que elas não estão, necessariamente, relacionadas à conduta dos pais.
Ou seja, que em alguns casos é possível que os pais tenham sido pessoas altamente dedicadas, zelosas no que diz respeito à orientação educacional/moral dos filhos, mas que mesmo assim eles tenham se desviado desses ensinos. É o que vemos, por exemplo, na história do profeta Samuel.
As passagens de 1 Samuel 3:19 e 12:3 nos mostram que Samuel foi um homem íntegro, obediente a Deus, mas a Bíblia também diz no capítulo 8:3, do mesmo livro, que “porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele, antes se inclinaram à avareza, e aceitaram suborno, e perverteram o direito”.
Nas Escrituras há outros exemplos, além da história de Samuel, de filhos que se desviaram dos caminhos ensinados pelos pais, mesmo os pais tendo sido pessoas dedicadas. Veja por exemplo 2 Reis 16:2 e 2 Crônicas 21:6. Há também casos inversos, onde os pais foram maus e os filhos se tornaram bons (1 Reis 15:11).
Portanto, o que desejo deixar como reflexão no artigo desta semana é um recado de consolo aos pais dedicados que podem se achar culpados pelas escolhas erradas dos filhos. Não se culpem! Se você tem a consciência tranquila de que fez e/ou está cumprindo com a sua responsabilidade de ensinar em “qual caminho” eles devem andar, isso basta aos olhos de Deus.
Reconhecer isso, no entanto, não significa que você deva desistir de continuar ensinando, admoestando e orientando os seus filhos. Assim como não significa que você não possa fazer uma autocrítica em relação aos seus próprios métodos de ensino, afinal, muitas vezes o que ensinamos está correto, mas a forma como fazemos isso é que está errada.
Assim, leve tudo isso em consideração, coloque-se debaixo da autoridade do Senhor, peça sabedoria, faça a sua parte e descanse na certeza de que Deus cuidará de tudo o que estiver fora do seu alcance. É isso o que importa.