A entrevista abaixo foi concedida em caráter de confidencialidade. Silva é um jovem aspirante ao ministério. Por muitos anos foi o braço direito de seu pastor. Por isto, muitos já o chamam de “Pastor Silva”.Apesar de demonstrar claramente seus dons de evangelista e do ministério pastoral, a angústia de sua alma é visível. O conheci durante uma conferência missionária que realizava em sua igreja. Prontamente pediu para conversar e desabafar as dores de seu coração. Depois de um tempo, pedi que ele mesmo contasse sua história, pois seu caso representa a situação de muitos homens e mulheres que encontramos em nossas igrejas e que pedem socorro. Não é possível que você leia este relato e não seja tocado. Não é possível fechar os olhos para isso!
Conte-nos um pouco sobre sua família, como você cresceu e quando foi a primeira vez que descobriu sentir atração pelo mesmo sexo? Cresci em um lar desestruturado. Meus pais nunca se casaram, eles eram amasiados. As brigas eram constantes. Meu pai vivia em bares jogando, bebendo e fumando. Trabalhavam, mas sempre havia falta de dinheiro. Minha mãe também bebia e fumava. Apesar disso, minha mãe, que era católica praticante me iniciou na vida religiosa. Desde criança já tinha desejo pelas coisas eclesiásticas, dizia que seria um padre. Quando meus pais moravam juntos, lá pelos meus 5 anos de idade, um vizinho começou a abusar de mim sexualmente, não havia sexo, mas ele me mostrava o pênis dele, pedia para eu pegar, pedia que eu mostrasse o meu. Por volta dos meus 6 ou 7 anos um primo começou a fazer praticamente a mesma coisa. Só que minha mãe descobriu e então isso parou. Quando meus pais se separaram da última vez (pois haviam feito isso 4 vezes antes), tinha 8 anos. Então, eu e minha mãe fomos morar com os meus avós maternos. Ela arrumou outro homem. Eu visitava meus pais nos fins de semana. Nesse período apareceu outro vizinho e os abusos começaram novamente. Dessa vez os encontros se tornaram maiores, não só com ele, mas com meu primo. O sentimento por outros meninos floresceu. Acho que o que agravou meu tumulto emocional foi o suicídio da minha mãe, quando tinha 9 anos de idade. Apesar dela ter morrido, vivi com meus avós maternos até os meus 13 anos. Nesse período o meu envolvimento com vizinhos mais velhos do que eu foi mais intenso. E com primos também: um mais velho e dois mais novos. O meu primo mais velho foi um dos que mais me seduziu e me envolveu. Essa vida só cessou quando fui morar com a minha avó paterna, quando estava para completar 14 anos. Minha vida foi um tumulto até então, todavia começou a melhorar quando passei a morar com minha avó paterna. Meu pai sempre foi muito ausente na minha vida. Nunca mais me envolvi com outro garoto depois que fui morar com minha avó paterna.
Como se deu sua conversão? Me converti aos 15 anos de idade. Tenho uma prima que sempre me evangelizou, mas eu não dava muito crédito. Todavia, um pastor se tornou vizinho meu e trouxe um grupo de jovens da JOCUM para fazer evangelismo na minha cidade. Eu vi duas apresentações deles e então fui conversar com uma das jovens. Ela me disse para ir na casa do pastor no dia seguinte. Lá ela me convidou para ir a Igreja, então eu fui. Já não via aquilo como uma barulheira e o pastor como um ladrão de dízimos. Na segunda visita à Igreja me converti. Até então era um católico praticante, fazia teatro de fim de ano, lia trechos da bíblia durante as missas. Após me converter fiquei durante 7 anos e 1 mês sem me envolver com nenhum outro homem. Nem virtualmente, nem pessoalmente. O que levou a ampliar meus desejos homossexuais foi a masturbação, que foi atiçada por voltar a ver sites pornográficos. Fiquei durante 5 anos e alguns meses ininterruptos sem me masturbar. A coisa piorou depois que fui para a faculdade, havia muitos rapazes que me despertavam a atenção, mas eu não queria pecar, ficava orando dentro de mim repreendendo o que sentia.
Sua igreja sabe da sua situação? A minha igreja não sabe de minha situação, não ela toda. Apenas os meus pastores, uma missionária, um obreiro e os meus dois melhores amigos que são de lá. Rapazes por quem despertei sentimentos de atração. Agora eles já sabem da verdade dos meus sentimentos por rapazes, mas não deixaram de ser meus amigos, me ajudando do jeito que podem.
Por quanto tempo você conseguiu não se envolver com outro homem? Desde que comecei a me envolver com rapazes fui afastado do meu cargo de diácono, professor de crianças, evangelista, assistente pastoral – um verdadeiro faz de tudo na igreja. Continuei frequentando com bem menos assiduidade. Tentei ficar firme, mas até hoje não consegui. Me reconciliei com a igreja, mas não estou frequente. Fui convidado a dar aulas novamente para as crianças, mas só dei aula 2 vezes. Meu maior problema são relacionamentos virtuais, isso é o que mina a minha fé e comunhão com Deus. Não tenho nenhum relacionamento com algum rapaz. Só tive dois, um no começo do ano e outro no meio do ano. Os outros foram todos virtuais. É horrível não conseguir praticar a verdade da Palavra. Só quem passa por isso é que sabe. Quem está do lado de fora não tem noção do que é isso. O viciado em bebida alcoólica precisa no mínimo para satisfazer seu vício atravessar a rua para comprar a bebida. Eu e as outras pessoas com desejos homossexuais não precisamos de comprar o que nos satisfaz, a batalha está mais ainda acentuada em nossas mentes.
Como você descreve a vida que leva: um evangelista, um homem de ministério e por outro lado, um homossexual praticante? Vivo uma vida dupla, não me sinto muito mal por não estar participando ativamente da igreja agora. As pessoas ainda tem uma boa imagem de mim. Mas eu quero ser eu mesmo. Me vejo um rapaz que sente atração por outros rapazes. Me vejo alguém querendo me completar com outro homem, em outro homem. Mas isso é impossível. Me vejo como alguém que quer Deus, mas que ao mesmo tempo não se esforça o suficiente para vencer esse desafio. Alguém que não está dando conta de permanecer firme no propósito de dizer não para o homossexualismo. Não me vejo com duas caras, pois não estou frequente na igreja. Mas me sinto constrangido por não estar vivendo a verdade que aprendi
Você está feliz? Não estou feliz. Minha mente vive me guerra, em conflito. Não consigo mergulhar no mundo homossexual. Há algo em mim não permite que eu mergulhe, que sempre está me brecando, me puxando para trás. Não me sinto mais realizado, não me sinto em paz, porque sempre me lembro que estou errado. Minha consciência me cobra isso.