João Batista, o maior de todos os profetas bíblicos, em meio a uma de suas discussões diante dos religiosos hipócritas de seu tempo, disse: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão”.
Sempre achei essas palavras bastante provocativas, carregadas de sentimento revelador, misturado com grande dose de ira. Ira divina, por certo!
João era um cara perfeito! Vivia a vida de um nazireu praticante, abstinha-se de tudo o que poderia aproximá-lo de qualquer aparência do mal.
Não bebia vinho, como o próprio Jesus; não tinha uma dieta robusta e rica em calorias, como era comum da gente de sua classe social. De fato, ele era filho de sacerdote, linhagem levítica, escolhida e chamada para o alto clero judaico, mas mesmo assim, preferiu buscar a Deus nos desertos e privou-se da vida gloriosa de uma sociedade que tinha em sua religião oficial seus maiores ícones nacionais.
Claro que devia ser uma grande chatice para um cara com uma vocação profética, buscar Deus onde Ele não estaria – no caso o Templo de Jerusalém. Lugar morto, apagado, sem vida! Era uma época de grandes trevas espirituais, segundo narram os teólogos, vinda daquele obscuro período inter-testamentário sobre o qual dizem ter havido longo período de silêncio de Deus.
Mas é ali, sequência daquele momento de privação de luz e de revelação profética que aparece João Batista quebrando tudo em palavras e atitudes, exortando a todos que se arrependam de sua hipocrisia e vida religiosa vazia e mentirosa.
Na Bíblia, não vemos João questionar o povo naquilo que fazia, ou deixava de fazer; não mandou ninguém parar de comer ou beber ou ser nazireu como ele. Ele acusou o adultério de Herodes Antipas, que teve uma relação incestuosa com sua sobrinha, Herodias, mas afora isto, João não foi um pregador de catecismos de certos e errados.
Ele tinha um procedimento pessoal impecável, mas anunciou um Messias que levava uma vida diametralmente oposta a sua, como se pode observar neste trecho da Bíblia: “Porque veio João o Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demonio; veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores”.
Pois é, Jesus, ao que parece, tomava uma ou duas e o que é pior sentado à mesa dos pecadores. Miseriqueima, Jeová!
O que ocorre é que nem João ou Jesus, os dois maiores profetas da história cristã, agradaram aos religiosos de sue tempo, acredito que muito disso é fruto desse tipo de humanidade normal que ambos tinham.
Cada qual com suas convicções, reconhecendo seus próprios limites, sabedores do que era conveniente a si próprios, viveram suas vidas de maneiras diferentes, anunciando a mesma Verdade: arrependam-se vocês que são hipócritas, que pregam uma coisa e vivem outra.
João era ‘caxias’ e Jesus era ‘relax’, o primeiro era humano a seu modo e o segundo também. Eles tinham diferenças entre si, mas estavam alinhados no Espírito, no discurso e no respeito mútuo.
Sobre Jesus, João disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Este é aquele do qual eu disse: Após mim vem um homem que é antes de mim, porque foi primeiro do que eu”.
E sobre João, Jesus disse: “Este é aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu anjo diante da tua face, o qual preparará diante de ti o teu caminho. E eu vos digo que, entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João o Batista”.
Quanto respeito, quanto reconhecimento. Acho que este é o ponto que queria chegar neste texto: respeito!
Entendo que todos os filhos de Deus possuem uma chamado individual, uma característica incomum, uma história e uma personalidade só sua, então, não esperaria ou desejaria que todos pensassem ou agissem iguais a mim.
Eu sei quem sou e espero que cada um de vocês também saiba. Estou aqui neste mundo por um propósito predeterminado, é o que creio, mas acredito que cada um de vocês também possui.
Uns acham que podem comer e beber de tudo, outros que devem fazer abstenção de vários elementos; há os que crêem que falar em línguas estranhas é uma coisa de maluco e também há os que o fazem e são edificados espiritualmente nisso.
Entendo por evangelho desumano tudo aquilo que tira das pessoas sua individualidade, suas características pessoais e que visa uniformizar ações e ritos. Não curto igrejas onde todos falam igual ao seu apóstolo. Cada um possui seu jeito, sua pegada, sua própria humanidade.
Uniformizar não significa que as pessoas estão em unidade; uniformizar é obra exterior; evangelho desumano é religião sem respeito e respeitar é tolerar as diferenças!