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Eleições 2018: “Joãozinho da Glória” e alguns “diabos” que disputarão o seu voto!

Não me leve à mal, por julgar que no desenvolvimento desta exposição eu me mostre um pouco pessimista quanto a alguns ilustres candidatos evangélicos à cargos públicos, principalmente aos legislativos. Infelizmente, a realidade incide sobre o estado de espírito do povo brasileiro – afinal, estamos cansados de tantos discursos, fartos de tantas promessas, enojados de tamanha corrupção e perplexos aos fisiologismos da notória politicagem tupiniquim. E considere que não é pelo simples fato de uma candidatura de qualquer evangélico – por melhor que o sujeito for – que mudará tal desconfiança à classe política em nossa nação. Precisamos nos envolver para desenvolver uma política de processos de confiança – de modo que quem faz direito avança, e quem faz errado dança.

Permita-me apresentar a você, breves observações cabíveis ao ano eleitoral e aos candidatos, suas campanhas e articulações políticas, principalmente em torno, sobre e entre os evangélicos.

1. Essa eleição deverá ter uma adesão maior e mais consciente de cristãos, não somente pelo ato de cidadania em si, mas pela defesa de valores morais e éticos em conformidade com suas crenças tradicionais (família, contra aborto, contra legalização de drogas, contra ideologia de gênero e etc). Os crentes perceberam que precisam de maior representação política para garantirem quórum suficiente na defesa de suas convicções e cosmovisão. As minorias incomodaram a maioria por um bom tempo e me parece que está na hora do troco majoritário. As conclamações de católicos e protestantes sobre muitos assuntos de natureza ética – repercutirão com força nos resultados das eleições deste ano – e veremos o delineamento de uma coalização “católica-protestante” (eu já escrevi sobre isso, veja aqui).

2. O discurso político mais à direita será fundamentado nessas bases e expectativas cristãs. OS candidatos não são nada bobos – e vão falar o que o povo quer ouvir (se ele vai defender mesmo os pontos do discurso é outra estória – ainda mais que o brasileiro tem memória curta – e nem se lembra direito em quem votou na eleição passada). Necessário se faz abrir um parêntese de enfoque aqui: você precisa buscar mais informações dos candidatos (porque os discursos poderão estar destoados da vida dos mesmos). Se o candidato já ocupou cargo público, informe-se como ele correspondeu a confiança dos eleitores. Se ele defende mesmo a família tradicional – porque se divorciou? Quis levantar essa questão porque a sua orientação de voto não pode guiar-se apenas pelo discurso do candidato e nem pelos apelos de sua religião – mas precisa ser também de cunho social, pelo bem de sua comunidade, de seus filhos e da nova geração. Não elegemos políticos para estabelecerem uma teocracia; os elegemos para nos ajudarem a construir um Brasil melhor!

3. O discurso do “crente vota em crente” vai crescer. Eu não concordo sempre com o jargão: “Crente vota em crente”; porque até o diabo é crente – e eu não votaria nele. Jesus escolheu seus 12 apóstolos, mas disse: “um de vocês é um diabo” (Jo 6.70). Então, não se escandalize: mas alguns “diabos” tentarão obter o seu voto! Bom, seguindo a revelação de Jesus – até nos ajuntamentos mais exclusivos de crentes, pode haver “diabos”, ainda mais quando se trata de apoio à candidatos políticos por parte dos crentes (acordos geralmente costurados pelos pastores desses crentes) e o diabo mora nos detalhes. Significa que você precisa considerar também o candidato que não veio à igreja para pedir o seu voto (talvez ele tenha mais temor e uma teologia pessoal mais definida que a maioria que vai lá na igreja pedir o seu voto).

Isso quer dizer que tem candidato que não vai ocupar o púlpito de sua igreja para fazer campanha política; ou que não convidará você somente em ano eleitoral para participar do aniversário dele; esse candidato distante do púlpito e que não distribuiu placas honoríficas aos pastores de sua igreja – poderá ser mais coerente com você do que os que fazem isso. Afinal, o legado de vida pública ou o testemunho de vida social destes (a daqueles que se quer dão as caras na igreja) poderão ser mais convincentes que as confraternizações e os cafés da manhã oferecidos por aqueles que falam o que igreja gostaria de ouvir, trajados de vestimentas brancas, batendo asinhas e com flutuantes auréolas angelicais; mas que no dia a dia de suas vidas e em seus efetivos mandados é tudo uma confusão dos “diabos”.

E o que você acabou de ler não é retórica – tem gente que pediu votos na igreja e recebeu – e que está vivendo assim mesmo, um pandemônio, precisando mais de libertação que de seu voto – mas que este ano devem voltar novamente a sua igreja; então: abre seu olho crente!

4. Essa eleição deverá apresentar rostos e nomes novos como alternativa de uma nova política. Mesmo que isso não resolva o problema nacional, é de alguma forma o começo de uma tímida renovação – pois nossos problemas não são apenas os candidatos, mas principalmente o sistema político em curso neste país que domina e dá continuidade à velha política – a prática do toma lá dá cá. Mas, sim – novos e bons nomes apresentados e aprovados pelas comunidades poderão ser uma boa e necessária composição aos quadros eletivos deste ano. Minha cisma é que ninguém se candidata neste país sem um “padrinho político” e sem um “mentor partidário”; e qualquer filiação partidária é a aceitação de uma doutrina ou ideologia política de legenda. E por isso, permita-me a ficção nominal do “Joãozinho da Glória” e o seu caso figurado.

Ainda que “Joãozinho da Glória” tenha sido sempre um cristão exemplar; porque cargas d’água filiou-se a um partido que é contra tudo o que ele acredita? Então por mais que “Joãozinho da Glória” mereça meu voto – será a legenda dele a lhe impor obrigações e a pedir-lhe fidelidade, de modo que em algumas votações, Joãozinho não citará os versículos da bíblia que fundamentam sua crença, mas se pautará pela orientação de votos da cartilha e dos pontos de vista do partido dele. Puxa, “Joãozinho da Glória” acabou de perder meu voto. Em suma: novos candidatos precisam navegar por ideologias partidárias de acordo com seus valores e cosmovisão, senão será o coitado do “Joãozinho da Glória” que pensa de um jeito, mas é obrigado a fazer de outro – mais uma idiossincrasia do que chamamos de democracia em nosso país.

5. Os showmícios estão proibidos em nosso país desde 2006; mas alguns candidatos espertinhos, utilizarão “laranjas de massas” (rádios e imprensa evangélica) para através da voz e da representatividade de terceiros aglutinarem multidões de crentes em shows evangélicos – eventos na verdade permeados de figuras e discursos políticos dirigidos à crentes. E aqui nesse ponto é mais do mesmo. Com as devidas exceções, pouca gente dá a cara à tapa no parlamento em Brasília ou na assembleia estadual. Não se submeta à “campanha para bobinhos” que consiste em manifestações de bondades só em ano eleitoral para ludibriar os símplices. Porque não há shows evangélicos de graça (como agora em tempos de eleição) com figurões do meio, famosos do pedaço antes do período eleitoral? Resposta óbvia – porque isso é campanha política disfarçada de show evangélico. Consideração pertinente – se você votar em alguém somente porque o sujeito trouxe à sua cidade o cantor(a) ou o grupo gospel famoso, ou porque lhe deram o mais novo CD da dupla gospel de graça – desculpe-me, mas você vai cair na “política para bobinhos” e quem faz isso é “bobinho democrático” (não leva a sério o poder de seu voto que agregado à outros pode mudar os rumos de uma nação).

6. É possível que alguns pastores tomarão partido a favor de alguns candidatos e demonstrarão mais atividade que o normal sobre esses apoios. Sempre que um pastor pedir voto para algum candidato descaradamente, utilizando púlpito de igreja ou colocando o tal candidato no altar para lá fazer o seu discurso encomendado – desconfie o dobro. Com as devidas exceções, alguns o cumprem (o papel de cabo eleitoral) porque também terão vantagens pessoais se o candidato apoiado ganhar – e isso leitores – é a atuação da velha política; papel em que nenhum pastor deveria atuar, ainda mais utilizando-se de seu ministério e sua comunidade para obter vantagem pessoal – são as portas da corrupção.

O pastor pode se interessar pelas propostas políticas para sua comunidade? Lógico que pode. O que é bem diferente da conclusão do último parágrafo. Acredito que a liderança da igreja deveria promover uma consciência política entre os crentes, mas não da forma que tem acontecido em alguns lugares – em que políticos aparecem em reuniões solenes (ou seja em momentos do culto congregacional) para fazerem campanha política, ocupando o púlpito e invertendo o propósito do altar (isso pra mim é sacrilégio e profanação, não me sentiria bem numa reunião com tal ocorrido). Dica: busque a associação de pastores da qual é filiado e solicite uma apresentação dos candidatos em local adequado (fora do templo) afim de conhecerem as propostas de cada um – isso é saudável e louvável.

Bom, por hora já chega. Mas, essa é uma reflexão com observação na rotina de sua igreja quanto à política nos próximos meses, bem como na proposta dos candidatos que aparecerão por lá ou promovendo festanças e encontrões evangélicos em sua cidade. Se você quer mudar os rumos desse país, além de orar você precisará votar com consciência; e seu voto é o seu voto – não siga o fluxo de nenhuma “manada”, até porque você é rebanho e seu lugar de ovelha é no aprisco do Senhor e não em currais eleitorais do senhor ninguém.

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