17 de junho de 2013, um dia histórico para o Brasil. Milhares de cidadãos inconformados com o atual quadro social do país saíram às ruas para expressar seu sentimento de inconformismo.
As manifestações, que começaram em São Paulo na última semana, foram amplificadas justamente por quem gostaria de abafar o movimento. A reação desproporcional e violenta da Polícia Militar na capital paulista despertou um gigante, e diversas cidades importantes do Brasil se manifestaram junto. No interior do país, também foram registradas manifestações.
Aliás, é importante ressaltar que a tarifa dos ônibus em São Paulo é apenas uma parte do que o passageiro paga. A prefeitura subsidia, ou seja, paga as empresas de ônibus para elas cobrarem R$ 3,20. Anualmente, R$ 1 bilhão é depositado pelo governo municipal, com dinheiro de impostos pagos pelos paulistanos, na conta das empresas.
Isso está errado. O sistema transporta milhões de pessoas diariamente, e cada uma delas paga R$ 3,20, e isso não é suficiente para cobrir despesas e dar lucro aos empresários? Numa conta rápida, se 4 milhões de paulistanos (são 11 milhões os habitantes da cidade) pagarem passagem de ida e volta de segunda a sexta, em uma semana as empresas coletaram R$ 128 milhões. Num mês, mais de meio bilhão (R$ 512 milhões) foram para o caixa das empresas. Sério que esse valor não dá pra cobrir o sistema?
Por isso o povo foi às ruas. Não apenas em São Paulo, mas em todo o Brasil. Uma das queixas mais urgentes em Brasília, por exemplo, era o custo da Copa do Mundo, que em 2007 foi apresentada como uma oportunidade de transformar as cidades e apresentar belos estádios que seriam construídos com dinheiro da iniciativa privada. As obras de infraestrutura quase não saíram, e os estádios, além de serem pagos pelo contribuinte, tiveram o preço quase dobrado.
Em Porto Alegre, a multidão se dirigiu ao gabinete do prefeito, que deixou o prédio pela porta dos fundos. Simbólico. Em Belo Horizonte e Curitiba, os manifestantes marcharam pelas ruas pedindo mudança no país. Entretanto, as cenas mais marcantes foram protagonizadas pelos cidadãos de Rio de Janeiro e São Paulo.
Na capital fluminense, mais de 100 mil pessoas tomaram a Avenida Rio Branco e a Cinelândia, de forma pacífica, com manifestações de apoio das pessoas que estavam nos prédios da região. Uma repórter da Globo News que cobria o evento se disse emocionada por ver pessoas de diversas faixas etárias juntas, gritando palavras de ordem contra a corrupção e o descaso dos políticos.
Em São Paulo, três grupos principais de manifestantes se formaram, totalizando 65 mil pessoas, que juntas, formaram uma das cenas mais emblemáticas para qualquer paulistano como eu. Caminharam – isso mesmo – na Marginal Pinheiros, conhecida pelos imensos congestionamentos; Lotaram a Avenida Faria Lima, um dos novos símbolos da elite paulistana, região da cidade com o metro² mais caro do país; E por fim, cantaram que são brasileiros com orgulho na Avenida Paulista, a mais conhecida avenida brasileira e símbolo dessa cidade que não para.
Em Brasília, um capítulo à parte, pois os manifestantes povoaram o Eixo Monumental e, depois de conter alguns radicais, subiram ao telhado do Congresso Nacional, casa do povo, tomada há tempos por políticos corruptos, mensaleiros, e outros. As imagens dos manifestantes protestando com faixas, cartazes e palavras de ordem no Congresso, de forma pacífica, são impressionantes. Um recado claro aos opressores: nós vamos mudar isso.
Muitos se questionam: saímos às ruas, e agora? Agora devemos cobrar dos políticos, não só hoje, mas também nas eleições do próximo ano, que sejam adotadas medidas claras, objetivas e duras contra a corrupção, a favor de um transporte público digno, de melhor educação, sistema de saúde, segurança e moradias.
O Brasil há tempos necessita de uma reforma tributária, pois o esqueleto que “organiza” os impostos no país é arcaico, e oprime os trabalhadores. Precisamos de uma carga de “contribuição” (aqui, as aspas são a ironia em sua essência) menor, com impostos que não sejam cobrados diversas vezes sobre os produtos; Com impostos menores sobre os alimentos, remédios e vestimentas; Com Imposto de Renda justo, que cobre mais de quem tem mais, de forma proporcional; Com impostos reduzidos sobre o transporte público, para que as prefeituras – como a de São Paulo – não precisem subsidiar o sistema; Com penas duras para quem sonega imposto e alimenta a rede de corruptos que cobram propinas; Com um sistema previdenciário mais justo, e inteligente; Com imposto reduzido sobre imóveis voltados à moradia popular, e quiçá, zerado para quem adquire a casa própria pela primeira vez; Entre outras questões.
É utopia? Não. Até ontem, a realidade era uma. Agora somos outros, o país conhece outra faceta da sociedade. Podemos conseguir, vamos conseguir. Se os incompetentes que ocupam os cargos eletivos não se mexerem, podemos juntos reunir o número de assinaturas necessárias para levar ao Congresso um projeto de iniciativa popular, e acampar na porta dos Três Poderes até a aprovação dessa Reforma Tributária. Estamos sufocados.
Eu sonho, e acredito que outros milhões de brasileiros também, com menos corrupção no Brasil. Deveria existir uma lei – já que o Novo Código Penal está sendo discutido no Senado – que transforma o desvio de dinheiro público em crime hediondo, inafiançável, sem progressão de pena. Afinal, quem rouba dinheiro público rouba de 200 milhões de brasileiros de uma só vez, tira a oportunidade de um sistema de saúde eficiente e justo, pois pagamos caro; tira a chance de uma educação melhor; Tira a oportunidade de uma casa decente para quem vive em encostas, à beira de córregos, ou debaixo de pontes e viadutos; Tira de quem é dependente químico e precisa de tratamento, tira de quem cometeu delitos e está preso, mas deveria ser recuperado pelo Estado e acaba sendo condenado a uma vida criminosa; Tira de quem precisa de água no Nordeste para manter a agricultura familiar e subsiste de fé; Tira de todos nós.
Aliás, o Nordeste é um caso contraditório. Políticos empurram com a barriga o projeto de transposição do rio São Francisco há décadas, oferecem soluções paliativas e ainda “compram” o silêncio e o voto daqueles brasileiros com assistencialismo. Está errado. Eles precisam, e querem fazer parte de um país grande, rico e justo, e não é com “Bolsa isso ou aquilo” que seremos essa nação que sonhamos. Não estou falando de cancelar esses benefícios, mas sim, de fazer deles um estágio de transição, em que as famílias necessitadas recebem a ajuda para se manter, e por outro lado, o Estado também se movimenta para que elas tenham seus empregos a fim de subir na vida, como todo trabalhador merece. Está na hora de repensar isso.
Aliás, diria que está na hora de repensar o Brasil. Está na hora de pedir o fim da reeleição para cargos executivos; está na hora de acabar com os privilégios dos parlamentares, que são os mais caros do mundo; Está na hora de investir em ferrovias para transporte de passageiros e cargas, em aeroportos e portos decentes; Está na hora de investir em infraestrutura (esgoto e saneamento 100% em todo o país); Investir em polícia unificada e trabalhando com os recursos da ciência para prevenir e solucionar crimes; Em cidades mais agradáveis, menos barulhentas, mais sustentáveis; No fim do desmatamento, que beneficia meia dúzia e prejudica um planeta inteiro; Enfim, investir num novo Brasil.
Eu quero um país melhor e mais justo para os meus filhos, que ainda não vieram, mas virão. E é por isso que me levantei ontem, e continuarei de pé pelos próximos dias, até que possamos ver sinais de um novo país.
#MudaBrasil