A igreja evangélica passa por uma intensa crise de identidade no Brasil. Fala-se em crescimento, mas que tipo de crescimento? De um lado, dados do IBGE apontam para 42,5 milhões como sendo o número de evangélicos; do outro, a impressão interna é a de um crescimento desordenado, deficitário, sem raízes ou fundamentação sólida.
O que tem crescido – e que deve ser motivo de preocupação e análise – é o número cada vez maior de novas igrejas e ministérios. Disputas por poder – da impossibilidade de ascensão ministerial – e interesses pessoais, econômicos, são alguns dos vários motivos pelos os quais levam lideranças a organizarem suas próprias denominações.
Na maioria das vezes acrescentam-se expressões de impacto ou títulos adicionais, como Assembleia de Deus Coluna de Fogo e Avivamento Bíblico Restaurado, permanecendo nas novas denominações aspectos da igreja-mãe. Raramente são abertas novas igrejas por diferenças doutrinárias ou estratégia de trabalho e visão diferenciados.
É possível encontrar, em uma mesma rua, avenida ou bairro, até duas ou mais assembleias de Deus, por exemplo. Quase sempre são alugados pequenos salões, que passam a abrigar um pequeno número de membros, na maioria das vezes de uma mesma família, ou círculo de amizades.
São igrejas sem ação, que fomentam uma espécie de “religiosidade” mesclada com interesses pessoais, e um completo desinteresse para com a vida pessoal de seus membros ou congregados, de suas necessidades de habitação, alimentação, vestuário.
Diferenciam-se de suas vizinhas pela eloquência de suas pregações – extremamente desprovidas de compaixão – e canções repetitivas. Não há diálogo, não há cooperação entre igrejas vizinhas, sendo um reflexo do que se dá em nível nacional. A Igreja, no Brasil, é uma igreja de múltiplas faces, de múltiplos interesses e projetos pessoais. A unidade é, portanto, uma utopia.
Igualmente tem diminuído a presença da Igreja na sociedade, no diálogo com a população. A Igreja caracteriza-se como uma igreja de templos, de reuniões infindáveis, de liturgia rotineira e massante. Ao invés de crescer para além de suas paredes, muitas igrejas têm se retraído cada vez mais.
Resultado: crentes passam a exercer uma fé alienada da Igreja, de seus templos e liturgias. Saem em busca de Deus, de uma experiência espiritual mais profunda, desprovida de regras e costumes que os distanciem de Deus. Outros desistem da fé, voltam às práticas anteriores à conversão, desiludidos com seus líderes e irmãos. É uma realidade em ascensão!