Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas,
justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que crêem. Não há distinção,
pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus,
sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus.
Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os pecados anteriormente cometidos;
mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. Romanos 3:21-26 (NVI)
Cranfield chama os versículos de Rm 3:21-26 de “o centro e o coração da divisão principal”[1] da carta de Paulo. A expressão chave destes versículos conforme Stott é Justiça de Deus [2]. Estes versículos nos trazem grande alívio dado que demonstram uma justiça que provém de Deus e não de nós, dado que nossa justiça, conforme Is 64:6 não passa de trapos de imundícia.
Nestes versículos temos o cerne do evangelho e o centro da bíblia: A Justiça de Deus satisfeita no sacrifício de Jesus Cristo para todo aquele que crê.
A nossa tendência de querer justificar nossos atos é muito grande. A religião ao redor do mundo tem tentado trazer paz e segurança ao homem por meio de atitudes positivas que os levem a conquistar sua salvação por meio de obras, ou atingir o nirvana, ou se elevar espiritualmente. Contudo, temos diante de nós, a partir do texto de Paulo em Romanos 1.18-3:20 que todo ser humano na face da Terra, seja homem, seja mulher, seja religioso ou não, quem quer que seja, independente da raça, nacionalidade, sexo ou religião, todos são igualmente pecadores e culpados diante de Deus. Nestes versículos Paulo profere a sentença de todos os homens: Culpados. Não há esperança para a humanidade diante da Justiça de Deus. Deveríamos ser executados, banidos, condenados ao fogo eterno sem direito de defesa.
Porém Paulo inicia a segunda parte de Romanos, em Rm 3.21, com as palavras Mas agora (νυνι δε).
A conjunção adversativa mas, traz luz e esperança para uma afirmação anterior de condenação. Deus interveio e mudou essa situação. Podemos ser justificados gratuitamente pela graça de Deus, por meio da redenção que há em Cristo Jesus, eis a boa nova.
A Justiça de Deus se revela por meio do Filho
A ideia de justiça está relacionada a um conceito de relacionamento. Conforme Ladd [3], “aquele que cumpre as exigências, que lhe são impostas pelo relacionamento em que se encontra, é considerado justo”. Desta maneira, vemos que Justiça é o padrão que Deus colocou para a conduta da humanidade. Frequentemente este termo tem sido entendido como: um homem justo é aquele que o juiz declara estar livre de culpa. Porém vemos em Paulo que Deus declara justo o ímpio, o que seria inaceitável para o judeu que espera que o justo juiz condene o culpado e absolva o justo, caso um juiz inocentasse um culpado seria chamado de um juiz injusto.
Contudo, Paulo nos diz que não há distinção, tanto gentios quanto judeus pecaram e merecem a condenação. O que Paulo desenha nestes versículos é que não há esperança para ninguém em tentar cumprir a lei, a condenação seria justa para todos. E no caso, uma condenação eterna pois transgredimos as normas de justiça de um Deus Eterno.
Dentro da justiça temporal e terrena, temos diferentes penalidades para transgressões da lei. Caso alguém venha a assassinar um rato ou uma barata, muito provavelmente ninguém o condenará. Caso assassine um cachorro ou um gato, talvez sofra penalidades de rejeição por parte das pessoas e até algum tipo de punição por parte da lei. Porém, se alguém cometer um crime hediondo, é passível de pena de morte em alguns países, ou de prisão perpétua em outros. Se ao transgredir contra um igual, a pena é pagando com a própria vida, qual seria a pena quando transgredimos contra um Deus que é Eterno e Infinito? De fato, a punição também é eterna e infinita. Por causa do nosso pecado, transgredimos toda a lei de Deus, toda a norma de justiça que Ele nos impôs e por causa disto, somos merecedores da ira de Deus, e da execução de sua justiça, que seria a condenação eterna.
Porém Paulo não termina por aí, podemos perceber que na tradução da NVI a justiça é colocada como que provém de Deus, ou seja, a iniciativa veio de Deus para salvar o pecador e o tornar justo.
Continua…
Por Daniel Simoncelos (@danisimoncelos)