Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo. 1 João 2:16
Mundano era um termo que as igrejas pentecostais aplicavam aos crentes que não cumpriam a “sã doutrina”. A “doutrina” dentro daquele quadrante religioso, na maioria das vezes era um conjunto de usos e costumes que deveriam ser observados pelos membros locais, como doutrina – e sabemos que costumes locais por melhores e mais virtuosos que sejam, não podem ser colocados como doutrinas bíblicas universais. Muitas injustiças sem qualquer base foram cometidas colocando para fora daquelas comunidades gente crente pra valer, que tinha “tropeçado” num cabelo cortado, numa saia rachada, num aparelho de rádio, de TV ou quem sabe, num banho de praia. Um grupo cristão que não permite a seus aderentes viverem, se socializarem e se informarem de modo sadio e equilibrado é tudo menos cristianismo; é um fundamentalismo sem fundos, sem base e sem sentido evangélico e humano.
Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou. João 17:14
Outrossim, a bíblia é realmente contra o mundanismo e faz afirmações a respeito (Jo 15:19; 1 Jo 2:15) . As Escrituras revelam que mundanismo é o modo de viver do mundo sem Cristo e em oposição à vontade de Deus. É um sistema de valores de qualquer cultura que faz com que o pecado se torne normal e aceitável e o que é correto e decente pareça estranho e detestável. Deste modo a definição torna-se ampla e abrangente e acaba por envolver comportamentos, práticas e padrões que sintetizam esse antagonismo à Deus e sua revelação a raça humana. Analisando a base bíblica e teológica sobre mundanismo, percebo que a compreensão do assunto pela maioria de nós, ainda é por demais tendenciosa e exteriorizada. Tendenciosa por que ao pensarmos em mundanismo, construímos nossa avaliação sobre o padrão doutrinário que herdamos, e se estas normas forem heranças baseadas em costumes e bulas de comportamentos locais, ligaremos o conceito ao que as pessoas falam, vestem e veem (não quero dizer que tal prisma da avaliação esteja errado, o que digo é que não retrata a questão com a amplitude e enfoque necessários). Bem, se geralmente analisamos mundanismo por meio de tendências da moda, gírias do momento e comportamentos da hora do homem moderno, fatalmente cairemos no segundo erro desta abordagem: daremos ao mundanismo um sentido muito exterior à vida das pessoas.
Pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias. Mateus 15:19
É verdade que ser mundano é viver impiamente, é também vestir-se escandalosamente, falar torpezas, defender injustiças, imoralidades e sobretudo descumprir as Escrituras sem qualquer temor. Não obstante à colocação, precisamos salientar que a influência do mundanismo na vida de um crente estará totalmente ligada ao domínio do seu próprio “eu”. E quando interiorizamos a discussão do conceito em sua amplitude bíblica, chegaremos a inevitável batalha do espírito contra a carne (Gl 5:17); e tanto é verdade que o próprio Cristo assimilou o mundanismo notado na vida e atitudes dos homens a partir do momento em que determinou o interior do ser humano como o ponto de origem para toda a impiedade manifesta – o coração (quando a bíblia fala de coração, dando ao termo um sentido de sede da alma ou centro das emoções a linguagem é figurada). Não defendo a coexistência do bem (Deus) e do mal (Satanás) como um dualismo necessário a prática e equilíbrio moral do livre arbítrio humano; mas, no campo de nossas experiências terrenas temos uma bipolaridade intrínseca à nossa própria natureza: espírito e carne. Precisamos permitir ao espírito que o ponto extremo de polaridade carnal seja controlado afim de vencermos o mundanismo residente na natureza resistente do velho homem (Ef 4:22).
Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Mateus 23:27
A questão é que a exibição do mundanismo não é só roupa curta, sensualidade, gírias, prostituição. Há mulheres cristãs com saias que tocam o chão e homens cristãos que se vestem com terno e gravata que são tão mundanos quanto qualquer libertino praiano com pouca roupa. O mundanismo é sutil, sorrateiro e sobrevive nos recônditos de nossa natureza. Somos mundanos quando vivemos com as mesmas aspirações e comportamentos do homem sem Deus, quando pagamos o mal com o mal, quando mentimos em benefício próprio, quando desejamos a mulher do próximo, quando invejamos o sucesso alheio, quando tentamos subornar o guarda de trânsito, quando furamos filas, quando enxertamos mentiras em currículos, quando participamos de negócios escusos, quando recebemos propinas, quando apresentamos atestados falsos em nosso trabalho, quando mentimos para nossos cônjuges para acobertar nossas derrapadas, quando não honramos nossos compromissos na praça (e o que tem de crente com o nome sujo é uma vergonha).
Vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. Tiago 4:4
Quem quiser viver uma vida diferente do mundo, encontrará problemas com o sistema mundano, foi Jesus que nos alertou sobre isso (Jo 15:18-19). A única maneira de opor-se ao modo de vida mundano é viver a autêntica vida cristã, permitindo ao Espírito Santo que desenvolva em nós a salvação em seu aspecto presente e progressivo de santificação (Jo 17:17; Hb 12:14). Uma outra arma contra o mundanismo é a fé (1 Jo 5:4); e para darmos apoio à essa consciência moral e vida justa para cumprir a vontade de Deus e ter comunhão com Ele, precisaremos renunciar a nós mesmos (Mt 16:24). E aí chegamos ao ponto em que a maioria dos cristãos desta nação tem dificuldade de por em prática, pois estão sendo doutrinados acerca de um deus atendente das vontades mais ímpias, mundanas e perversas deste tempo. Que o Senhor tenha misericórdia de nós e fortaleça nossas vidas em Cristo Jesus!