Numa ocasião narrada por Lucas, certo grupo veio a Jesus trazendo trágicas notícias de galileus que foram assassinados por Pilatos, no momento em que prestavam seu culto a Deus (Lucas 13).
A tragédia é um fato que gera grande impacto sobre a humanidade. Apesar de ser comum receber notícias de eventos catastróficos, quando eles chegam aos nossos ouvidos, algo em nosso interior se comove, seja para deleite bizarro ou para profundo pesar.
Quando aqueles homens vieram a Jesus trazendo suas manchetes sensacionalistas, o Senhor lhes rebateu com resposta firme e confrontadora, fazendo-os mirar em suas próprias vidas ao invés de tentarem justificar a tragédia daqueles pobres homens por uma suposta ação de causa e efeito, oriunda de um tipo de karma.
Ao engrossar seu pensamento com o exemplo dos 18 homens que morreram na queda da Torre de Siloé, o Senhor afirma sua linha de pensamento no sentido de que nós não devemos usar os acontecimentos bruscos da vida de outrem para nos justificar como pessoas melhores, pelo contrário, tragédias devem nos estimular a buscar uma vida cada vez mais piedosa, em padrões mais justos, como que nos lembrando da máxima: “quem está em pé, cuide para que não caia”.
A fim de consolidar sua doutrina de sublime graça e amor paciente, o Senhor propõe uma parábola extremamente significativa, ensinando sobre uma figueira que estava plantada em meio a uma vinha.
Por três anos, o dono da vinha buscava, frustrado, frutos nela. Ordenou por isso ao seu servo que a cortasse. O servo, no entanto, lhe faz a seguinte proposta: deixe-a por mais um ano para que eu cuide dela, cave e coloque esterco, se após isso não der fruto, nós a cortaremos.
Segundo esta parábola, há um processo de Deus para árvores infrutíferas:
1) Por três anos o Senhor buscou frutos e não encontrou nada. A figueira estava no meio da vinha, mas é preciso entender que o fruto a ser gerado numa figueira é o figo e não as uvas. Deus não exige uvas de figueiras. Até aquele momento, dentro daquela dispensação, Israel, “a Vinha”, vivia sob a Lei e apresentava sacrifícios segundo a Lei para seu Deus. A figueira, Igreja, não vive sob a Lei, mas sob a Graça e deve apresentar “frutos dignos de arrependimento”, que não são obras da Lei, mas novidade de Vida, pela ação do Espírito Santo.
3) Frutos são resultados, conseqüências naturais de uma árvore frutífera. Nenhuma árvore se esforça sobremaneira para gerar um fruto, mas se assim ocorre, é porque está doente ou fraca. Frutos dignos de arrependimento são resultados de uma vida que nasceu da Graça e reconhece sua condição. São conseqüências do amor, do perdão, da misericórdia e de uma consciência plena de que se não tivesse sido plantado por Deus, ou seja, fora da eleição divina, não haveria vida.
4) O processo emergencial de salvação da figueira se inicia com a escavação, a qual proporcionará uma exposição das raízes. Raízes são as bases soterradas, que sustentam as aparências da superfície. Religiosidades, orgulho e outras pragas que povoam a alma humana se manifestam com suas muitas folhas, têm aparência de frondoso, suntuoso, geram uma grande sombra, mas por não apresentar frutos, de nada valem perante o Senhor.
Eis, então, a razão da necessidade de iniciar-se um processo de transformação através da renovação da mente, movendo o interior da figueira, abalar suas estruturas enganosas, que a firmam sobre uma falsa religião.
5) Após essa exposição, inicia-se a fase do tratamento de choque, que é quando o agricultor de Deus vem e enche as raízes da figueira de um monte fedido e nutritivo de coco, esterco, bosta, ou, se preferir, fertilizante.
Alguns tratamentos de Deus são severos demais, a gente reconhece. Quando penso em uma montanha malcheirosa de coco, pensou em humilhação, penso em profetas jogados em cisternas, penso em apóstolos apanhando, penso em homens e mulheres de Deus vivendo sob condições indignas, sendo estraçalhados pela opinião de muitos.
Parece ruim, é fedorento, é coco, mas fertiliza. É o desagradável, mas precioso cuidado do agricultor intercedendo diante de Deus para que a figueira comece a dar frutos e não seja cortada da Vinha.
Aceitemos o processo!